Aliado e opositor
Eduardo Campos não faz crítica, como diz: a mera atribuição de erro ou insucesso é oposição
Aspirante à sucessão presidencial e governador pernambucano, Eduardo Campos apresentará hoje na TV, se não mudar na última hora o programa gravado, sua lista do que considera os erros desastrosos de Dilma Rousseff. Pelos quais, no entanto, ele é corresponsável.Se o PSB, conduzido por Eduardo Campos, se fez sócio dos êxitos do governo federal, não tem como fugir da condição de sócio do que sejam os erros e insucessos do governo em que tem até ministério e integra a "base aliada" no Congresso. Não há conversa farsesca que anule essa obviedade.
Eduardo Campos não faz crítica, como diz. Poderia e talvez devesse fazê-la se, como caberia mesmo a um aliado, examinasse a natureza do erro, como e por que ocorre. A mera atribuição de erro ou insucesso não é crítica, é oposição. "O Brasil caminha para a crise", como já disse Eduardo Campos a empresários do Sul, é uma advertência grave demais, sobretudo partindo do governador de Estado com a importância de Pernambuco, para que passe sem a exposição de embasamento sério, seja convincente ou não.
Do joguinho de aliado e opositor, de sugar proveito dos dois lados, o que resulta é simples: embuste como aliado e embuste como oposição, ou, vá lá, "crítico".
A mesma evidência ressalta deste ridículo: "Nós não temos um projeto de poder, nós temos um projeto de país". Até em nome do pudor alheio, se não puder ser do próprio, quem deixa lá o seu governo e sai pelo país em óbvia pré-campanha pelo poder --na qual ainda não ofereceu nem uma só ideia nova para o país-- deve apresentar um engodo melhorzinho.
PROTESTO
Em São Paulo e ao menos em nove Estados mais, médicos e dentistas não farão atendimento hoje a clientes de planos de saúde, com exceção para emergências. Protestam contra as remunerações degradantes que os planos lhes fazem, enquanto se situam entre os mais caros e mais restritivos do mundo para os segurados.Uma rádio "tocou" ontem o comentário de que essa situação imoral se deve à regulamentação imposta às seguradoras pelo governo, o que as obriga a descontar em cima dos médicos. A imoralidade do comentário neoliberal não é menor do que a da situação. Os lucros dos planos de saúde são gigantescos. E as intervenções e auditorias têm provado que os casos contrários se devem a má administração, roubalheira, ou, quase sempre, aos dois fatores.
O ministro Alexandre Padilha ativou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para aumentar o rigor e as multas por obstáculos ou recusa de planos ao atendimento de necessidades de segurados. É um passo. Mas o sistema, em que só uma de suas três partes é beneficiada (as seguradoras, em detrimento dos segurados e dos que prestam os serviços), precisa é de revisão geral, para estabelecer algum equilíbrio e respeito a direitos. Inclusive os da assistência pública, que supre deficiências e omissões da assistência privada.
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