Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 02/04/2013
A reunião que a
presidente Dilma Rousseff faz hoje em Fortaleza com todos os
governadores do Nordeste é para anunciar medidas federais no
enfrentamento da seca na região, que, embora já dure alguns meses, tende
a se prolongar e a piorar. Ela volta a se encontrar, em menos de 10
dias, com o governador de Pernambuco e eventual concorrente em 2014,
Eduardo Campos (PSB). Isso excita o meio político, mas Dilma, garantem
seus interlocutores, deve tratá-lo com toda a cordialidade, decidida que
está a não dar o primeiro passo para um rompimento. Com o pacote de
medidas e o convite a todos os governadores, está mais preocupada em
consolidar sua força e favoritismo na região, que vem de 2010.
A seca nordestina já não produz famílias como a de Fabiano, personagem de Vidas secas, que, sem nada para comer ou beber, empreendia a fuga pela caatinga e, na travessia, comia até o papagaio de estimação. Mas, ainda hoje, quando a estiagem vem, torna a vida ainda mais severa para os nordestinos. Perde-se a roça plantada com sacrifício, os açudes secam, os animais morrem, o alimento escasseia. Algumas políticas sociais específicas já existem, como a Bolsa-Estiagem, mas, hoje, Dilma reforçará o arsenal de medidas para o enfrentamento dessas situações. Ela estaria fazendo isso e ninguém faria cálculos eleitorais se a campanha não tivesse sido tão antecipada. Mas já que foi, a conexão analítica tornou-se inevitável.
A última pesquisa CNI-Ibobe apontou um novo recorde na popularidade da presidente, que foi de 79% nacionalmente, mas de 85% no Nordeste. A pesquisa Datafolha, também de março, atribuiu a Dilma 58% de intenções de votos no país e 64% na região nordestina. Logo, ela tem na região índices de aprovação e de preferência eleitoral superiores à própria média nacional. Entretanto, deve enfrentar um adversário extremamente popular em seu estado, que, sendo nordestino, pode dividir o celeiro de votos que foi do ex-presidente Lula (PT) e passou a ser de Dilma. Será real ou não esse risco? Lula já disse que o fato de ser nordestino não lhe garante necessariamente o apoio majoritário na região. Em 2002, Lula se saiu vitorioso no Nordeste, ganhando inclusive de Ciro Gomes no Ceará. O único estado da região em que o tucano José Serra ganhou no segundo turno foi Alagoas. Mas, mesmo relativizando o risco Eduardo Campos, Dilma tem outras razões para se preocupar com os votos nordestinos. Se for candidato, dificilmente Aécio Neves (PSDB) deixará de arrastar uma larga maioria em Minas, onde é forte e popular. E ainda tem São Paulo, que não gosta do PT. Essas perdas precisarão ser compensadas pelos votos nordestinos.
Em 2010, no segundo turno, Dilma ganhou por 56,05% dos votos válidos. Dos mais de 12 milhões de votos de frente que ela teve sobre Serra, 10,7 milhões vieram exatamente do Nordeste. Naquela eleição, ela era apenas a candidata indicada por Lula, e seu nome não era associado a medidas que favoreciam os nordestinos. Agora isso mudou, e ela quer mudar mais ainda, anunciando medidas contra o drama da seca, que tão fortemente marca a alma nordestina.
Para fechar o pacote, ela se reuniu duas vezes ontem com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, do PSB. Quanto a Campos, diz um auxiliar palaciano, diga ele ou proponha o que quiser, não arrancará de Dilma nenhuma palavra áspera ou cara feia. Ele fez muitas caretas enquanto a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, falava, na semana passada, em debate sobre a MP dos Portos no Congresso.
Passado e verdade
A presidente Dilma, embora insatisfeita, não moverá nem o dedo mindinho em relação à Comissão da Verdade. Ao criá-la e empossá-la, deixou os integrantes inteiramente livres para definir a estrutura interna, o plano de trabalho e o funcionamento geral. Quanto a substituições, só se a própria comissão pedir, o que não aconteceu.
O jurista José Paulo Cavalcanti escreveu lamentando a referência da coluna a suas ausências, que, segundo ele, foram pouquíssimas. Notícias nesse sentido, bem como sobre as ausências do ministro Gilson Dipp, que enfrenta problemas de saúde, vieram da periferia da comissão.
Ontem, na Cinelândia, praça maior das lutas democráticas no Rio de Janeiro, uma manifestação recordou a data e pediu mais empenho da comissão. Em São Paulo, hoje, a verdade avançará. Entram na internet os documentos dos arquivos do extinto Deops, que poderão ser acessados pelo endereço e www.arquivoestado.sp.gov.br
Inflação na agenda
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comparece hoje, como convidado, à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. A audiência já estava marcada, mas ganhou relevância depois da divulgação de novas previsões inflacionárias, superando o teto da meta, e das declarações da presidente em Durban, criticando o aumento dos juros, que chamou de sacrífico do desenvolvimento, para conter a inflação. Ela reclamou de distorções e escalou Tombini para acalmar os mercados. É o que ele fará novamente hoje. A oposição, sob o comando de Aécio Neves, vai reclamar de negligência com a herança bendita da estabilidade deixada por Fernando Henrique.
A seca nordestina já não produz famílias como a de Fabiano, personagem de Vidas secas, que, sem nada para comer ou beber, empreendia a fuga pela caatinga e, na travessia, comia até o papagaio de estimação. Mas, ainda hoje, quando a estiagem vem, torna a vida ainda mais severa para os nordestinos. Perde-se a roça plantada com sacrifício, os açudes secam, os animais morrem, o alimento escasseia. Algumas políticas sociais específicas já existem, como a Bolsa-Estiagem, mas, hoje, Dilma reforçará o arsenal de medidas para o enfrentamento dessas situações. Ela estaria fazendo isso e ninguém faria cálculos eleitorais se a campanha não tivesse sido tão antecipada. Mas já que foi, a conexão analítica tornou-se inevitável.
A última pesquisa CNI-Ibobe apontou um novo recorde na popularidade da presidente, que foi de 79% nacionalmente, mas de 85% no Nordeste. A pesquisa Datafolha, também de março, atribuiu a Dilma 58% de intenções de votos no país e 64% na região nordestina. Logo, ela tem na região índices de aprovação e de preferência eleitoral superiores à própria média nacional. Entretanto, deve enfrentar um adversário extremamente popular em seu estado, que, sendo nordestino, pode dividir o celeiro de votos que foi do ex-presidente Lula (PT) e passou a ser de Dilma. Será real ou não esse risco? Lula já disse que o fato de ser nordestino não lhe garante necessariamente o apoio majoritário na região. Em 2002, Lula se saiu vitorioso no Nordeste, ganhando inclusive de Ciro Gomes no Ceará. O único estado da região em que o tucano José Serra ganhou no segundo turno foi Alagoas. Mas, mesmo relativizando o risco Eduardo Campos, Dilma tem outras razões para se preocupar com os votos nordestinos. Se for candidato, dificilmente Aécio Neves (PSDB) deixará de arrastar uma larga maioria em Minas, onde é forte e popular. E ainda tem São Paulo, que não gosta do PT. Essas perdas precisarão ser compensadas pelos votos nordestinos.
Em 2010, no segundo turno, Dilma ganhou por 56,05% dos votos válidos. Dos mais de 12 milhões de votos de frente que ela teve sobre Serra, 10,7 milhões vieram exatamente do Nordeste. Naquela eleição, ela era apenas a candidata indicada por Lula, e seu nome não era associado a medidas que favoreciam os nordestinos. Agora isso mudou, e ela quer mudar mais ainda, anunciando medidas contra o drama da seca, que tão fortemente marca a alma nordestina.
Para fechar o pacote, ela se reuniu duas vezes ontem com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, do PSB. Quanto a Campos, diz um auxiliar palaciano, diga ele ou proponha o que quiser, não arrancará de Dilma nenhuma palavra áspera ou cara feia. Ele fez muitas caretas enquanto a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, falava, na semana passada, em debate sobre a MP dos Portos no Congresso.
Passado e verdade
A presidente Dilma, embora insatisfeita, não moverá nem o dedo mindinho em relação à Comissão da Verdade. Ao criá-la e empossá-la, deixou os integrantes inteiramente livres para definir a estrutura interna, o plano de trabalho e o funcionamento geral. Quanto a substituições, só se a própria comissão pedir, o que não aconteceu.
O jurista José Paulo Cavalcanti escreveu lamentando a referência da coluna a suas ausências, que, segundo ele, foram pouquíssimas. Notícias nesse sentido, bem como sobre as ausências do ministro Gilson Dipp, que enfrenta problemas de saúde, vieram da periferia da comissão.
Ontem, na Cinelândia, praça maior das lutas democráticas no Rio de Janeiro, uma manifestação recordou a data e pediu mais empenho da comissão. Em São Paulo, hoje, a verdade avançará. Entram na internet os documentos dos arquivos do extinto Deops, que poderão ser acessados pelo endereço e www.arquivoestado.sp.gov.br
Inflação na agenda
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comparece hoje, como convidado, à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. A audiência já estava marcada, mas ganhou relevância depois da divulgação de novas previsões inflacionárias, superando o teto da meta, e das declarações da presidente em Durban, criticando o aumento dos juros, que chamou de sacrífico do desenvolvimento, para conter a inflação. Ela reclamou de distorções e escalou Tombini para acalmar os mercados. É o que ele fará novamente hoje. A oposição, sob o comando de Aécio Neves, vai reclamar de negligência com a herança bendita da estabilidade deixada por Fernando Henrique.
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