A importância da empresa
Se a figura símbolo do velho Brasil era o especulador, o símbolo do Brasil novo deve ser o empresário
No fim do ano passado, fui ao Japão ver o Corinthians ganhar o título mundial e depois tive um tempinho para viajar pelo país. O tempo foi curtíssimo, mas suficiente para perceber o orgulho que o Japão tem por suas empresas.
Minha guia dizia com indisfarçável satisfação que a cidade tal era sede da Honda, a cidade tal era sede da Toyota. Ela tinha, especificamente, uma admiração extraordinária pela Honda, como se fosse um laço familiar.
Lamentavelmente, não vejo isso ser construído no Brasil, esse país capitalista que não sai do armário e onde a palavra lucro ainda é palavrão.
Tudo em nossa língua traz tom pejorativo à nossa relação com o dinheiro. Aqui se ganha dinheiro, nos Estados Unidos, faz-se dinheiro ("you make money"). As pessoas que querem me ofender dizem que eu só penso em trabalho.
A empresa no Brasil é submetida a um verdadeiro corredor polonês de impostos, regulações e leis. Se sobreviver, terá sua margem de lucro tutelada.
Há ainda em muitos setores restrições atávicas ao empresariado. Mas não se pode inverter o papel da empresa, esperando que elas e os empresários exerçam o papel do Estado e da família.
Não é a publicidade de cerveja que deve ensinar que as pessoas bebam com moderação (embora eu defenda os alertas feitos nas campanhas), nem é o McDonald's que deve combater a obesidade infantil. A propaganda tem que fazer o papel da propaganda, e a sociedade civil tem que fazer o papel da sociedade civil. A propaganda não deve deseducar, claro, mas educar não é sempre o seu papel principal.
A empresa no Brasil é assim uma sobrevivente diante de uma quantidade avassaladora de restrições e preconceitos.
E, se o empresário conseguir sobreviver a tudo isso, ainda deve esconder a todo custo seu progresso para não atrair olho gordo, já que sucesso no Brasil é quase uma ofensa pessoal.
Mas, sem Olavo Setubal e sem Amador Aguiar, sem Naturas, Grendenes, Havaianas e Ipirangas, não se faz um país, como o Japão da Toyota, os Estados Unidos da Apple, a Coreia do Sul da Samsung, a França da Chanel, a Itália da Fiat.
O sistema bancário brasileiro deve ser fonte de orgulho do país. Sua solidez na última grande crise financeira global mostrou competência.
Foram as empresas brasileiras que geraram os milhões de empregos dos últimos anos e que nos trouxeram a esse patamar inédito de praticamente pleno emprego.
Essas empresas e o espírito empreendedor de seus líderes transformaram e transformam a vida da população e mudam a cara do país.
Estou há dez anos construindo meu grupo empresarial. Tenho hoje um bom patrimônio. Mas praticamente tudo o que eu tenho está dentro do grupo, investido em seus talentos e projetos. Fazer leva tempo. E o empresário nunca pensa no curto prazo. Ele tem que pensar longe, crescer com o Brasil.
Administrar uma empresa, como viver, é errar e consertar rápido. Melhor é aprender com os erros dos outros. Mas, se errar, erre rápido. Como disse Juscelino Kubitschek, com erro não há compromisso.
Há compromisso com os talentos, com a meritocracia, com a comunidade e com o país. Porque não adianta apenas o necessário compromisso com o lucro líquido.
É preciso que a empresa produza também orgulho líquido. E criar orgulho é mais difícil do que criar lucro. Esse desafio enorme deve servir como novo combustível para impulsionar nossas empresas e consolidá-las como o grande vetor do desenvolvimento.
É na empresa que prosperam a inovação, a produção e o emprego. Ela é a forma mais eficiente de organizar e desenvolver o nosso potencial.
Está na hora de disseminar um posicionamento pró-empresas no Brasil. Elas só podem ser pró-funcionário, pró-pai de família, pró-mãe, pró-comunidade, pró-cidade, pró-Estado, pró-país. Mais do que do empresário, a empresa é do Brasil.
Se a figura símbolo do velho Brasil era o especulador, o símbolo do Brasil novo deve ser o empresário ou a empresária. Aquele brasileiro que, por meio de sua empresa, ajuda a construir o país.
NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
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