"Estações" mostra novos rumos do CPT
Novo espetáculo do grupo de Antunes Filho extrapola os limites do teatro e flerta com cinema e artes plásticas
Assim como no projeto anterior, "Prêt-à-Porter", diretor volta a investir em exercício teatral com cenas curtas
A lacuna é preenchida por "Estações", espetáculo cuja estreia ocorreu ontem, realizado por jovens atores sob orientação do encenador e seu braço direito, Emerson Danesi, coordenador do CPT.
A mudança espelha a inquietude de Antunes Filho, acentuada desde que ele constatou uma era de instabilidade na cena mundial. Segundo diz, o teatro está em crise e precisa se reinventar.
Como consequência, seus ensinamentos se despem de regras, de certezas, e sua arte deixa de apresentar respostas em cena para levantar perguntas. "Se sempre existiu reflexão no CPT, imagine o que acontece conosco em tempos de crise", sugere ele.
"O momento é de novos questionamentos", constata Danesi. Segundo conta, Antunes Filho nunca esteve tão próximo do processo de criação dos jovens aprendizes como em "Estações".
O encenador selecionou seis cenas entre cerca de 50 criadas por 20 atores no ano passado. "Não importa tanto o resultado final do trabalho, mas o fato de ser gente nova tentando abandonar velhos hábitos, experimentando novos caminhos", argumenta Antunes Filho.
Distintas tematicamente, as cenas se amalgamam sobretudo pela linguagem que extrapola os limites da arte teatral convencional para flertar com cinema e artes plásticas, entre outras expressões artísticas.
Como o "Prêt-à-Porter", "Estações" é um exercício teatral formado por cenas curtas, inteiramente compostas por atores criadores -aqueles que não se limitam a apenas interpretar papéis, se transformando também em dramaturgos, produtores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores e diretores.
As similaridades entre as duas criações acabam aí. "Estações" se opõe ao antigo programa do CPT por não se prestar a contar uma história tradicional, com enredo linear e realista. Ao contrário do que ocorria no "Prêt-à-Porter", suas narrativas são apresentadas de forma fragmentada, rejeitam o falso naturalismo e buscam mobilizar o espectador não tanto pelas histórias, mas sobretudo pelas sensações que despertam.
Liberdade criativa surge como conceito chave para entender os novos caminhos de Antunes Filho, repassados para integrantes do CPT.
Segundo Jefferson Nogueira, criador de duas cenas de "Estações", o espetáculo é resultado de um processo criativo bastante solto. "Eu me senti muito à vontade criativamente para me expressar como artista", diz ele.
"Balaio", peça oriunda de estudantes do CPT, apresentada no ano passado, marcou o início dos novos rumos do Centro de Pesquisa de Antunes Filho. Depois dela, o encenador produziu um último "Prêt-à-Porter", que já começava a rever seus conceitos. O término do projeto aconteceu de forma natural.
"Estamos instalados num caos absoluto, numa fase de passagem. Estou batalhando para ver como o teatro pode encontrar novos horizontes", revela Antunes.
Segundo ele, "a regra agora é não ter regra, ser desregrado, ter olhos para localizar as brechas que se abrem e conseguir se infiltrar nelas". Poliana Pieratti, atriz de "Estações", também arrisca uma definição: "Tentamos sair do teatro para reencontrar o teatro", sintetiza.
FRASE
"Estamos instalados num caos absoluto, numa fase de passagem. Estou batalhando para ver como o teatro pode encontrar novos horizontes. A regra agora é não ter regra"
ANTUNES FILHO
diretor de teatro
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Peça retrata Brasil usando universo gângster
Texto de Brecht encenado na rua 13 de Maio celebra 15 anos da Cia. Teatro de Narradores
A 13 de Maio é um cenário vivo que retrata a diversidade da cidade. E, desde a semana passada, reúne também gângsteres norte-americanos dos anos 1930, personagens de "A Resistível Ascensão de Arturo Ui", espetáculo de Bertold Brecht encenado pela Cia. Teatro de Narradores.
Escrita durante o exílio de Brecht em 1941, na Finlândia, a obra paródica compara a ascensão de Hitler na Alemanha à dos gângsteres na Chicago dos anos 1930.
Sua fábula retrata a conversão fascista de uma sociedade gerida pelo capital, chamando a atenção para as formas de dominação e violência que dela derivam.
A Cia. Teatro de Narradores apropria-se desta peça para atualizar suas comparações, se propondo a discutir as relações entre política e crime no Brasil contemporâneo."O gangsterismo tomou conta da nossa forma de fazer política", declara o diretor José Fernando Azevedo.
Sua intenção é entender para onde caminha uma sociedade como a brasileira, cuja fisionomia, segundo ele, é marcada pela violência institucionalizada e cujo convívio é definido por comportamentos de direita.
"Querem nos fazer crer que o Brasil avança economicamente, mas, no que diz respeito ao pensamento político e ideológico do país, estamos regredindo", diz Azevedo.
"A Resistível Ascensão de Arturo Ui" é um marco na carreira do grupo. O texto serviu de base para seu primeiro trabalho profissional, em 2003. Seus integrantes haviam acabado de sair da faculdade de filosofia, da USP.
O Teatro dos Narradores revisita a obra de Brecht buscando ao mesmo tempo revisar o passado, vislumbrar o futuro e iniciar as comemorações de seus 15 anos de estrada -que preveem um projeto de residência no Sesc Belenzinho em junho e julho.
Terá um seminário sobre a trajetória do grupo, além das estreias de "Aquele que Diz Não, Aquele que Diz Sim", de Brecht, e "Retrato Calado", adaptação teatral da obra homônima de Roberto Salinas, filósofo que contribuiu para a origem do Teatro Oficina.
PARA AS RUAS
A nova versão de "Arturo Ui" troca o espaço convencional pelas ruas, radicalizando a pesquisa do coletivo para criar seu "teatro de intervenção". "O choque do texto com a realidade da rua garante atualidade", afirma Azevedo.
O espaço público ganha, pela primeira vez, projeto de iluminação. Apagam-se os postes e entram refletores, que se movem no espaço, definindo o campo de ação.
A trilha, executada ao vivo, atua como elemento fundamental da dramaturgia. Interpretação, maquiagem e figurinos visam uma teatralidade mais explícita.
"O texto de Brecht pressupõe clareza na enunciação. Manter isso na dispersão da rua é o nosso desafio", sintetiza o diretor.
Eletrobras reduz verba de apoio ao teatro
Estatal cortou R$ 9,3 milhões em patrocínios a espetáculos em relação ao ano passado
No ano passado, a estatal patrocinou 36 produções, ao custo de R$ 14,5 milhões. Neste ano, serão apenas R$ 5,2 milhões, distribuídos a 17 espetáculos. A queda na verba de um ano para o outro é de 178% e na quantidade de produções, de 111%.
De acordo com o produtor cultural Eduardo Barata, presidente da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), com cada vez mais empresas privadas interessadas em peças comerciais, como musicais e comédias, o chamado teatro tradicional, de drama, perde espaço na cena do país.
Produtores culturais ouvidos pela Folha afirmaram que a redução da verba estatal é ruim porque a Eletrobras era conhecida justamente por contemplar com patrocínios peças dos mais variados estilos, e não só as consideradas comerciais. "A Eletrobras tinha um olhar mais diversificado em relação ao teatro nacional", disse Barata.
O fator mais apontado para explicar a diversificação dos patrocínios da estatal é que a escolha de projetos é feita por seleção pública. Um júri integrado por pessoas com formação artística decide quais projetos serão apoiados.
A revisão dos programas de patrocínio é parte da reestruturação das finanças da empresa, cujo objetivo é cumprir as metas de redução nas tarifas de energia elétrica determinadas pelo governo, em outubro passado.
A Lei Rouanet, mecanismo pelo qual a empresa investe em cultura, concede benefício sobre o imposto de renda. Quanto menor o lucro, portanto, menor o patrocínio.
INDEFINIÇÃO PARA 2014
A Eletrobras diz não saber como ficarão os patrocínios para o ano que vem. "Isso vai depender do desempenho econômico projetado para o ano de 2014", afirmou a assessoria da empresa.
A redução de patrocínios da Eletrobras atinge também as áreas de cinema, esporte e patrimônio imaterial.
Para cinema, as verbas caíram 35%, de R$ 5,3 milhões no ano passado para R$ 3,4 milhões este ano. Já o patrimônio imaterial, que investe em fundações e feiras regionais, receberá R$ 250 mil em recursos, uma queda de 84% em relação a 2012.
A Eletrobras ainda não divulgou quanto irá aportar em esporte neste ano, mas já anunciou cortes no basquete e no futebol. No ano passado, a empresa patrocinava as seleções brasileiras masculina e feminina de basquete e também a NBB (Novo Basquete Brasil), a liga nacional. Para este ano, os recursos ficarão restritos apenas às seleções.
Outra medida foi a recisão do contrato de patrocínio com o clube Vasco da Gama, iniciado em julho de 2009.
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