Psicanalistas veem tentativa de excluir o método das políticas de tratamento; para psiquiatra, não há evidência de benefício
O documento é uma reação da comunidade psicanalítica ao que esses profissionais chamam de "tentativa de excluir a psicanálise" das políticas públicas de atenção ao autista.
No fim do ano passado, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo lançou um edital para o credenciamento de instituições para o tratamento de crianças autistas. O edital excluía a psicanálise, considerando só terapias cognitivo-comportamentais.
Após manifestação de entidades que representam os psicanalistas, o edital foi retirado. A secretaria informou, em nota, que houve um erro no edital e que outro será lançado em breve.
Para Estevão Vadasz, coordenador do Ambulatório do Autismo do Instituto de Psiquiatria da USP, excluir a psicanálise não é um erro.
"Não há nenhuma evidência científica de que a psicanálise possa ter influência terapêutica positiva na evolução das crianças autistas", diz o psiquiatra.
A ONG Autismo e Realidade, que reúne informações sobre o tratamento do transtorno, também não indica a psicanálise, segundo a psicóloga Joana Portolese, coordenadora-executiva da ONG.
Para os psicanalistas, essas opiniões têm origem na falta de informação. "Eles acham que nós apenas replicamos a análise em adultos nas crianças autistas, que pedimos para eles contarem seus sonhos e fazerem livre associação", diz Maria Cristina Kupfer, professora do Instituto de Psicologia da USP.
A diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Vera Regina Fonseca, explica que a psiquiatria e as terapias comportamentais são dirigidas à eliminação dos sintomas, como o atraso na fala e no aprendizado.
"Nossa proposta vai na contramão disso e busca aumentar a capacidade de estabelecer relações e compartilhar emoções."
Segundo Fonseca, o psicanalista tenta compreender e interpretar o estado emocional da criança e ajudá-la a regulá-lo. "Isso se dá por uso de brinquedos e jogos, do estabelecimento de parcerias e da interpretação das atividades da criança."
Ela afirma, no entanto, que ainda são necessárias pesquisas científicas mais abrangentes sobre o método.
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