quarta-feira, 1 de maio de 2013

O item alimentação - Eduardo Almeida Reis


TIRO E QUEDA » O item alimentação 

Nos Estados Unidos existem sim empregadas domésticas, todas sem a menor garantia trabalhista
 

Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 01/05/2013 

Dia 1º de maio, feriado com cara de feriadão, nada melhor do que philosophar sobre as relações de trabalho. Pelo visto, a PEC das Domésticas vai ocupar a mídia durante anos. Até agora não vi ninguém falando da alimentação, item importante embutido nos salários dos nossos empregados. Custa uma fortuna e é normal que os empregados comam o que comem os patrões, quando não comem melhor. Nas roças em que morei, as cozinheiras e seus maridos exibiam barrigas esplendorosas; nas cidades, outrossim. O que o leitor talvez não saiba é que nos Estados Unidos existem sim empregadas domésticas, todas sem a menor garantia trabalhista. Hispânicas e brasileiras de uma eficiência notável, chegam para trabalhar em seus automóveis particulares trazendo o material de limpeza, aspiradores de pó, flanelas, panos, vassouras, rodos, detergentes – tudo incluído no preço. Valor atual na Flórida, de duas fontes mais que confiáveis: US$ 80 por quatro horas de trabalho, ou US$ 100 por seis ou sete horas. Uma dessas últimas tem um Toyota Prius e fatura, por mês, US$ 2,6 mil brutos. Muitas das outras conseguem fazer duas casas por dia, chegando aos US$ 4,1 mil mensais. Deduzindo gasolina, produtos de limpeza e alimentação, que levam de casa, é dinheiro mais que razoável mesmo pelos padrões norte-americanos. São de uma eficiência indescritível. Uma delas, baiana de boa escolaridade, família de classe média em Ilhéus, não quer outra vida. Carteira assinada? Esquece. Nunca existiu. É invenção brasileira para ilaquear o povo em sua boa-fé. Ilaquear, minha gente: latim illaquèo,as,ávi, átum,áre (enlaçar, enredar, enganar), no sentido de fazer cair em logro, como temos sido logrados, no sentido de enganados, iludidos, enquanto milhões logram êxito, sobretudo e principalmente nos negócios escusos.


Vitamina D
A semiótica, com seu modelo teórico, que leva em conta acima de tudo a previsibilidade, é uma ciência absolutamente necessária em nossa época, em que novos objetos textuais, nos quais os sentidos se manifestam por meio de diferentes planos de expressão, ganham um relevo muito grande por meio da rede mundial de computadores. Entendeu? Se não entendeu console-se com o philosopho, que só pretende explicar a relação entre a semiótica e a vitamina D, cada uma das vitaminas lipossolúveis essenciais para a deposição de cálcio nos ossos e dentes, a visão e a proteção contra infecções. Os melhores cursos de jornalismo incluíam e talvez ainda incluam a cadeira de semiótica em dois ou mais períodos. Certa feita, recebi na roça um grupo de estudantes de jornalismo para estada de três dias. Fascinou-me a reação de algumas jovens diante das vassouras de piaçava e das vacas de leite: “Uma vassoura! A vassoura é um símbolo!”. Mais adiante, andando a cavalo: “Uma vaca! A vaca é um signo!”. E a vitamina D com isso? Calma, que vou explicar. Depois de aprender que uma vaca é um signo, quando sempre achei que era mamífero artiodáctilo do gênero Bos, da família dos bovídeos, tratei de comprar o Dicionário de Semiótica, de Greimas e Courtés, semioticistas da melhor supimpitude. Dicionário que ficou virgem até ontem, porque guardado numa estante que raramente consulto e continuo pensando que uma vaca, antes de ser um signo, é um bovino. Deu-se que, a conselho médico, passei a tomar sol depois do almoço para ver se descolo um tiquinho de vitamina D. E a obra de Greimas e Courtés lá estava ao sol pedindo “me abre... me lê...”. Abri, li e não entendi absolutamente nada, nem mesmo o parágrafo inicial desse belo suelto, que transcrevi da orelha do livro.


O mundo é uma bola
1º de maio de 880: inaugurada em Constantinopla a Igreja Nova, que serviria de modelo para as igrejas ortodoxas. Em 1500, em nome do rei de Portugal, dom Manuel I, o Venturoso, dinasta de Avis, Pedro Álvares Cabral toma posse da Ilha de Santa Cruz, mais tarde Brasil. Em 1625, a armada luso-espanhola da Jornada dos Vassalos retoma dos holandeses a cidade de Salvador, Bahia. E o imbecil que redige estas bem traçadas, em 1º de abril ficou acordado até tarde para ver na tevê entrevista do governador Jaques Wagner, como se o governador da Bahia merecesse 10 minutos da atenção de um brasileiro sério. Em 1786 estreia em Viena a ópera As bodas de Fígaro, de Mozart, então um velho de 30 anos. Em 1834, abolição da escravatura nas colônias inglesas. Em 1865, Argentina, Uruguai e o império do Brasil assinam o Tratado da Tríplice Aliança, objeto de curtas negociações para ferrar o Paraguai, que até hoje se vinga dos vizinhos exportando armas, drogas e uísques falsificados. Em 1888, início de uma greve geral nos EUA e manifestações nas ruas de Chicago, que acabariam motivando o Dia do Trabalhador. Em 1943, Decreto-lei 5,452 cria a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que tem coisas deliciosas. Hoje é o Dia da Literatura Brasileira.


Ruminanças
“A exemplo de todas as pessoas, os dicionários envelhecem depressa. Ao contrário de quase todas as pessoas, velhos dicionários têm sempre alguma coisa para nos ensinar.” (R. Manso Neto).

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