quarta-feira, 1 de maio de 2013

O que mais queremos? - Nina Horta

folha de são paulo

Que os chefs saibam aprender e ensinar. Se além de tudo forem bonitões, ponto pra eles
ACHEI GRAÇA no Facundo Guerra, novo sócio do Alex Atala no bar Riviera, que ficou todo feliz quando ele foi escolhido como um dos cem mais influentes do mundo pela revista "Time". Imagine ficar sócio de alguém e, na semana seguinte, ele emplacar um título desses. Vai ter sorte assim...
Li um livro há alguns dias, "Faça Acontecer", de Sheryl Sandberg, e parece até que é o meu livro preferido na vida. Não é. Coincidência.
Me impressionei com a descrição da "síndrome da farsa" que a autora descreve nas mulheres. Quando se tornam famosas, sofrem de um medo absoluto de que alguém descubra que, na verdade, são farsantes, que não sabem nada daquele assunto que as projetou e querem morrer de vergonha por estarem se prestando àquele papelão. Mulheres.
Os homens já aceitam com naturalidade e seguem em frente. Fazem acontecer, o que seria um bom slogan para o Atala.
Imagino que, se eu fosse o Alex, ao pegar o jornal, tomando café, e desse com a escolha como um dos cem mais influentes do mundo, quando não consigo nem que o cachorro me obedeça, correria para a cama de novo e tamparia a cabeça com o cobertor. Ou me instalaria debaixo da cama. Se, por acaso, saísse do esconderijo um dia, imediatamente faria como o Pelé e começaria a me tratar na terceira pessoa do singular, como um ser diferente.
Diria "o Alex vai hoje ao cinema para arejar a cabeça", "o Alex quer mais galinhada, por favor...!".
Como tive a sorte de elogiar e gostar de verdade do Alex Atala desde que ele era pequeno e fui seguindo a carreira que foi se tornando sólida, coerente, inteligente, gostosa, interessante, tenho autoridade para falar bem dele agora e até talvez ganhe um pouquinho mais de farofa de iogurte na sobremesa.
Não, não foi o lobby do sistema marqueteiro que o levou até lá. Para falar a verdade, acho que esses lobbies nada mais fazem do que descobrir o que é bom e mostrar o achado com mais ou menos exagero. Queria ver qualquer rede de marketing elevar uma péssima cozinheira a melhor do mundo e mantê-la lá.
A única diferença do passado, no caso, foi a inclusão de cozinheiros junto com pintores, atores, atletas, beldades, empresários, papas etc. e tal. Parece que o mundo quer alguém atento, curioso, com o poder de transformar e tenacidade de se mostrar.
(Acho muito simpático o Daniel Redondo, marido da Helena Rizzo, que é uma potência de cozinheiro e que, mesmo depois de descoberto, quando começa a caça para torná-lo celebridade, só geme "déjame tranquilo" e se esconde como um avestruz. Tranquilo, Daniel, isso também é uma técnica!)
O que mais queremos? Uma comida que, pelo menos, mostre nossos ingredientes e o modo como são trabalhados aqui, de preferência, aproveitando as inovações pelas quais passa a cozinha. Queremos beleza na apresentação! Beleza pura!
Que os chefs não só cozinhem, mas atentem para a questão da comida, naturalmente, sem estardalhaço ou didatismo exagerado. Que tenham generosidade para aprender e ensinar. Se além de tudo forem bonitões, ponto pra eles.
Leia o blog da colunista
ninahorta.blogfolha.uol.com.br

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