Datafolha, 30
Instituto completa três décadas de atividade como referência em pesquisas eleitorais e com um rico acervo de estudos sobre o comportamento da população brasileira e os seus costumes
Mais conhecido por sua credibilidade nas pesquisas eleitorais, o Datafolha tem ainda um vasto acervo sobre comportamento e costumes do brasileiro. Entre os destaques, está o levantamento sobre como se manifesta o preconceito racial, depois lançado em livro ("Racismo Cordial", ed. Ática, 1995).
"Creio que a maior contribuição do Datafolha foi fixar um padrão de isenção política e rigor estatístico inédito no país. Presente em todas as pesquisas do instituto, esse padrão se tornou marca registrada no campo eleitoral, propiciando ao eleitor um instrumento seguro para nortear suas decisões", diz Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha.
"O Datafolha ajudou o Brasil a se conhecer melhor", afirma Antonio Manuel Teixeira Mendes, superintendente da Folha que comandou o instituto de 1984 a 1994.
Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, cita a série DNA Paulistano, por tratar-se do "maior e mais abrangente retrato da cidade de São Paulo". Todas essas pesquisas estão à disposição do público na USP e na Unicamp.
"Quem desejar estudar o país nos últimos 30 anos terá de usar os dados do Datafolha", diz Antonio Manuel.
Na área esportiva, o instituto também foi pioneiro. Na década de 1980, começou a fazer o levantamento estatístico de partidas de futebol, o "scout". Criticado no início, hoje é natural ouvir, na TV, debates sobre o número de passes certos e errados.
Criado em 1983 como departamento de pesquisas e informática do Grupo Folha da Manhã, o Datafolha tinha como objetivo inicial oferecer conteúdo e ser uma ferramenta de planejamento da Folha.
No início dos anos 80, o Brasil convivia com uma rede de telefones de péssima qualidade e de pouco acesso. Pesquisas telefônicas tornavam-se inviáveis. Levantamentos domiciliares também eram caros e demorados.
Era necessário criar um sistema confiável e transparente para aferir a opinião das pessoas, sobretudo durante processos eleitorais --quando o humor dos votantes muda com muita rapidez.
O então publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), foi apresentado a uma metodologia que poderia atender à demanda do jornal. Era do professor Reginaldo Prandi, à época titular do Departamento de Sociologia da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
A ponte entre Frias e Prandi foi Vilmar Faria (1941-2001), que anos depois seria assessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. Os sociólogos Reginaldo Prandi, Antonio Manuel Teixeira Mendes e Antonio Flávio Pierucci desenvolveram um sistema que cruza dados geográficos, de renda e sociais. As entrevistas são feitas em grande parte nos locais por onde as pessoas transitam cotidianamente.
A tecnologia de fazer pesquisas com rapidez e precisão permitiu que "em 1989 só o Datafolha mostrasse que Lula chegaria à frente de Leonel Brizola para disputar o segundo turno da eleição presidencial", relata Mauro Paulino.
Para o diretor do instituto, a metodologia "foi criada para aliar a ciência acadêmica à agilidade jornalística".
E os erros eventuais? "Não há instituto de pesquisas que não erre em algum momento. O erro é uma limitação imposta pela ciência estatística ao determinar que em cada levantamento há uma probabilidade de 95% dos resultados estarem dentro da margem determinada e de 5% de estarem fora", responde Paulino.
Mas, na maior parte das vezes, os erros atribuídos às pesquisas são de interpretação. O equívoco está em considerar os números de uma pesquisa como se fossem os resultados das eleições. Uma pesquisa não prevê o que ainda vai acontecer. Apenas constata o cenário do momento em que foi realizada.
O Datafolha não presta serviços para políticos ou partidos. Permanece, assim, blindado de influência sobre seu trabalho. É comum ouvir candidatos dizendo que esperam uma pesquisa do instituto para confirmar uma tendência.
Com sua independência, apontou na frente dos concorrentes tendências importantes em eleições. Por exemplo, a virada de Luiza Erundina sobre Paulo Maluf, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 1988. Ou a de Mário Covas sobre Maluf, na eleição pelo governo de São Paulo, em 1998. Em 2012, a ascensão e a queda de Celso Russomanno na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
"É o instituto que mostra a cara do Brasil, com agilidade jornalística e precisão científica", diz Mauro Paulino.
Maior medo é o de jovem se envolver com drogas
Em 30 anos, paulistano trocou medo da inflação pelo temor dos tóxicos
Datafolha refaz sua 1ª pesquisa, de 1983, e mostra que medo da violência é constante nos últimos 30 anos
Foi esse o movimento do medo na cidade de São Paulo em 30 anos, registrado pelo Datafolha ao refazer a sua primeira pesquisa.
O primeiro levantamento do departamento que seria o embrião do Datafolha, publicado há 30 anos, captou uma cidade atemorizada pela inflação, o principal problema do país na época.
A alta do custo de vida era apontada como o maior medo para 26% dos paulistanos.
O medo maior agora, de acordo com 45% dos moradores da cidade entrevistados pela Datafolha, é o do envolvimento de jovens da família com tóxicos.
Em 1983, esse medo aparecia em segundo lugar no ranking da pesquisa, com 23%.
A inflação, associada à imagem do dragão em 1983, virou um gatinho em 2013. Apenas 7% apontam a alta do custo de vida como o seu principal temor.
O Banco Central subiu os juros neste mês para combater a inflação, que voltou a preocupar o governo e o mercado financeiro, mas ela está muito longe dos níveis observados 30 anos atrás.
O medo da inflação foi o índice que mais recuou quando se comparam os dois levantamentos do Datafolha.
Em 1983, a inflação anual passou de 200%, segundo o Índice Geral de Preços da Fundação Getulio Vargas. Neste ano, ela deve ficar abaixo de 6%, segundo projeções de analistas do mercado.
Outro medo que despencou foi o de perder o emprego: era citado por 18% há 30 anos e por apenas 5% agora.
VIOLÊNCIA
Se a inflação perdeu importância no ranking dos medos nesses 30 anos, a violência continua uma constante.O medo de ter a casa invadida por assaltantes era considerado o maior temor por 22% há 30 anos e aparecia em terceiro lugar na lista elaborada pelo Datafolha.
Hoje, esse é o principal medo de acordo com 26% e subiu para o segundo lugar.
O medo de ser assaltado na rua cresceu ainda mais nesse período. Em 1983, esse temor aparecia em quinto lugar na pesquisa, com 9% das menções. Agora, está em terceiro e é o maior receio para 16% dos paulistanos.
Há 30 anos a soma do medo de ter a casa invadida e de ser assaltado (31%) na rua colocava a violência no topo do ranking, acima da inflação.
Outra constante nas duas pesquisas são os que se declaram destemidos. Eram 2% em 1983. Agora são 1%.
Apoio ao regime democrático tem ligeira queda
DE SÃO PAULOSofreu um ligeiro recuo o percentual de paulistanos que dizem apoiar a democracia. Há dez anos eram 57%; agora são 53% os que afirmam concordar com a frase "democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo", segundo o Datafolha.O instituto fez a pesquisa sobre a preferência de regimes políticos em 2003, quando completou 20 anos.
Numa proporção similar à da queda do apoio à democracia, aumentou de 16% para 19% os paulistanos que aprovam a afirmação segundo a qual "em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático".
Continua no mesmo patamar, na faixa dos 20%, os que acham que "tanto faz se o governo é uma democracia ou uma ditadura".
ANÁLISE
Levantamentos abrangentes marcam história do instituto
AMPLO REPERTÓRIO DE ESTUDOS REALIZADOS EM TRÊS DÉCADAS DEMONSTRA A CAPACIDADE DE COBERTURA COMO UM DIFERENCIAL IMPORTANTE DESENVOLVIDO PELO DATAFOLHA
MAURO PAULINODIRETOR-GERAL DO DATAFOLHAALESSANDRO JANONIDIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHAO Datafolha completa 30 anos consolidado como um importante instituto de pesquisas de mercado do país.Grandes empresas de comunicação, indústria farmacêutica, mercado financeiro, tecnologia e alimentos utilizam frequentemente a experiência do Datafolha para compreender seus consumidores. Hoje, 80% dos trabalhos do instituto são contratados por clientes de diversos ramos da economia.
O portfólio de produtos fixos e sindicalizados do instituto vai dos tradicionais "Top of Mind" e "30 Segundos" --sobre lembrança de marcas e de propaganda, respectivamente-- aos pioneiros Datafolha Cidades e PRM.
Lançado no ano de 2001, o Datafolha Cidades foi um divisor de águas no planejamento de mídia exterior no Brasil e que volta agora em nova versão por causa da regulamentação do mobiliário urbano em São Paulo.
O Datafolha PRM é uma ferramenta que mede o retorno de investimento de ações de merchandising em programas de TV.
O instituto atua no mercado com os valores que marcam sua história. As chamadas pesquisas "ad hoc", feitas sob encomenda para a solução de problemas específicos, são reconhecidas pela credibilidade, pela agilidade e pelas soluções criativas na busca por novas alternativas de metodologia e técnica.
Mas há uma ideia ainda mais forte associada ao Datafolha: é o instituto das grandes pesquisas. Detém repertório de estudos abrangentes em conteúdo e cobertura.
Do DNA Paulistano, o maior levantamento já feito em São Paulo com mais de 25 mil entrevistas representativas de cada um dos 96 distritos da cidade, ao Datafolha Brasil, pesquisa contínua compartilhada entre diversos clientes, os temas são múltiplos e alcançam todos os estratos da população em todas as unidades da Federação.
Mais uma demonstração desse potencial será verificada no segundo semestre, quando o Ministério da Justiça divulgará o primeiro estudo nacional de vitimização.
Contratado pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUD), o Datafolha realizou a pesquisa em parceria com o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp) em todo o território nacional, com base estatística segura para leitura de resultados em todos os Estados.
Com o objetivo de mapear as taxas reais de ocorrência de vários crimes e a subnotificação correspondente, o instituto ouviu ao todo 78 mil pessoas por mais de um ano.
A capacidade de cobertura garante a representatividade dos brasileiros de um modo geral e é um diferencial importante do Datafolha, raro em pesquisas de mercado e que hoje, com o acesso de classes populares ao consumo, assume um papel estratégico e fundamental.
Não se enxerga mais o Brasil olhando somente as metrópoles. E só entende o consumidor brasileiro quem antes insiste em entender o cidadão do país.
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