terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Eliane Cantanhêde

FOLHA DE SÃO PAULO

Brincando com fogo
BRASÍLIA - Por que aviões que comportam 300, 400 passageiros têm seis portas, mas a boate Kiss, com capacidade para mil pessoas, tem uma única saída? Por que não há, ou não havia, saídas de emergência nem válvulas de escape para fumaça?
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?
Por que a Kiss, com tantos meandros (vão central, mezanino, área VIP, palco, bares, hall de entrada), não tinha iluminadores indicando a rota de fuga em caso de urgência?
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?
Por que o sinalizador Sputnik, que atinge até quatro metros de altura e só é permitido para áreas externas, vinha sendo usado pela banda "Gurizada Fandangueira" em ambientes fechados, inclusive na Kiss?
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?
Por que os seguranças não tinham nem sequer walkie-talkies para trocar informações sobre a gravidade e liberar imediatamente a única saída?
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?
Por que o músico e um segurança tentaram acionar o vital extintor de incêndio e ele não funcionou? Estava quebrado? Vencido? Só havia um?!
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?
Por que não havia uma equipe de brigadistas que pudessem reagir rapidamente para apagar o fogo, controlar o pânico e evacuar o prédio?
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?
Se as respostas não trarão de volta os Maicon, Micheles, Fábios, os irmãos Oliveira e as irmãs Brissow -que tinham toda uma vida para viver, um futuro cheio de promessas para desvendar-, elas descartam a simples "fatalidade" e podem salvar outros jovens pelo Brasil a fora.
Já as perguntas dos pais e mães de Santa Maria jamais terão resposta. Por que meu filho morreu? Por que minha filha morreu? São perguntas que ficam para sempre. Como a dor.
elianec@uol.com.br

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário