Governos espetaculares fazem espetáculos
A seca nordestina exibe a opção dos governos pelas marquetagens para empulhar quem paga imposto
Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.
A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, "Chambinho do Acordeon", feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que "a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela". Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que "o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais".
Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.
Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: "O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas o PT tem". Qual era? "O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto". Em 2003, eleito, Lula prometeu: "Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do rio São Francisco". Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois e depois de dez anos o "copo de água" ainda não apareceu.
A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos criou um novo estilo de administração e nele o governador do Ceará, Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Plácido Domingo. A tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou 3.000 convidados.
Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro passado ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço político de sua família desde a Proclamação da República. Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários. Até hoje ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios-x. Hospital mesmo, só em maio.
Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.
PRECAUÇÃO
O chanceler Antonio Patriota trabalha com a ideia de que seu prazo de validade expira ao final do mandato da doutora Dilma.
RECORDAR É VIVER
Um curioso achou uma breve declaração de Nosso Guia num depoimento a Ronaldo Costa Couto, publicado em seu livro "História Indiscreta da Ditadura e da Abertura".
Em 1989 Lula dizia o seguinte: "E depois tem outra coisa: o medo de largar o poder. As pessoas gostam do poder. O poder é uma coisa muito filho da puta. As pessoas dizem que estão cansadas, que estão velhas, que trabalham muito, mas ninguém larga o poder. E eu acho que os militares gostaram do poder".
Os militares chegavam ao poder sem voto. Lula e seus postes ocupam-no pela vontade popular, mas nenhum general meteu-se no governo de seu sucessor nem tentou voltar à Presidência.
BOA NOTÍCIA
Se Deus é brasileiro, a Comissão da Verdade trabalhará em silêncio.
Seu último surto exibicionista só ocorreu porque decidiu-se evitar a renúncia pública de um de seus membros.
PALPITE
Um conhecedor da política do Vaticano capaz de dizer, há seis meses, que Bento 16 poderia renunciar, terminou a semana esperançoso.
O cardeal Oscar Maradiaga, de Honduras, entrou na lista dos dez favoritos em duas bolsas de apostas. Isso não quer dizer nada, mas, para quem se entristeceu durante o pontificado de Joseph Ratzinger, permite ao menos algumas semanas de torcida.
JOESLEY DA JBS-FRIBOI E WARREN BUFFETT
Outro dia o empresário Joesley Batista, controlador do grupo JBS-Friboi, disse que pretende transformar sua empresa numa similar da Berkshire Hathaway, do americano Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, com US$ 46 bilhões no cofrinho.
Associado a executivos bilionários brasileiros, o "mago de Omaha" acaba de oferecer US$ 24 bilhões pela fabricante de molhos Heinz, a mais famosa marca do gênero no mundo. Se o doutor Joesley quer seguir o caminho de Buffett, alguém precisa aconselhá-lo a conhecer a vida de seu modelo.
Em outubro passado, ao casar-se, ele jogou uma bolsa Chanel para as convidadas. Já o bilionário Buffett comprou o anel de casamento de sua segunda mulher numa loja que lhe dava direito a desconto, fez uma cerimônia de 15 minutos e foi jantar num restaurante.
Joesley colocou na presidência do conselho consultivo da FBS o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Com Buffett ocorre o contrário, são os presidentes dos Estados Unidos e do Fed que se aconselham com ele. Tomando dinheiro emprestado no BNDES, a JBS deu-lhe um prejuízo escritural de R$ 2,2 bilhões. Buffett não tem BNDES a quem pedir dinheiro e na crise de 2008 socorreu o banco Goldman Sachs, investindo nele US$ 5 bilhões. Parece ter ganho um bom dinheiro.
Em 2012 o grupo JBS doou R$ 16 milhões a partidos políticos numa eleição municipal. Aos 82 anos, Buffett nunca desembolsou semelhante quantia no patrocínio de políticos, mas assumiu o compromisso de doar metade de sua fortuna para atividades sociais.
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