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Tom Zé (2º da dir. para a esq. em pé) antes de jogo pelo E. C. Cruzeiro, onde atuava como lateral direito, em 1961 |
Uma semana de glória
Irará, 1958
Eu estava em Nazaré das Farinhas na final. Foi uma tarde mortal. O primeiro tempo de Brasil e Uruguai terminou em 0 a 0, o que era uma grande decepção porque a expectativa era que goleássemos.
Quando Friaça fez aquele 1 a 0 aos dois minutos do 2º tempo, meu tio João, que era coletor federal em Nazaré, subiu numa cadeira, rodando a camisa no ar e repetindo: "Com o empate nós ganhamos! Agora eles têm que fazer dois!"
E eles fizeram...
Depois do gol de Ghiggia, tio João conferiu o relógio: faltavam 11 minutos. Ele vaticinava: "Agora esse time vai começar a jogar e vai botar cinco nesses uruguaios!".
Os comentários depois diziam que os uruguaios marcaram severamente Zizinho e que o time perdeu a rota sem ele para armar.
Quando o Circo Voador me leva para cantar no Rio, me hospeda no mesmo hotel Paysandú onde ficou a seleção uruguaia de 1950. Na calada da noite, fico imaginando as conversas entre Máspoli, Varela, Ghiggia e Schiaffino; imagino que sussurravam para não desrespeitar o incomensurável luto nacional.
Eu ainda era menor de idade quando foi fundada a Liga de Futebol de Irará, na Bahia. Os times eram América, Pirajá, Bonsucesso e União. Eu torcia pelo Pirajá, que era o time do meu tio Beto, mas o América ganhava tudo.
Foi nesse mesmo Pirajá que eu tive uma semana de glória em 1958. Eu servira o Exército no ano anterior, no severo 19º Batalhão de Caçadores -"onde filhinho chora e mamãe não vê". O fato é que depois de um ano como soldado ganhei uma forma física que nunca poderia ter alcançado.
Ao ser dispensado do serviço militar e voltar para Irará, fui chamado para a seleção da cidade, que jogaria em duas semanas contra a de Serrinha. Eu seria o centroavante do selecionado.
Nós tínhamos um ponta-esquerda canhoto, o Delker, e armamos uma jogada que me deu a maior fama naquelas duas semanas de preparação. Delker está na foto, é o segundo agachado da esquerda para a direita. Eu sou o último em pé, à direita, ao lado do técnico Vandinho, que serviu pela FEB na 2ª Guerra. Do meu lado direito está Dega, meu primo, que chegou a jogar no Esporte Clube Bahia.
Como eu era "center-for", muita gente me dizia para marcar o beque central. Admirado, perguntava: não é o caso de fugir dele? Mas o "técnico" se punha a argumentar, e eu calava a boca. O centroavante ficava um pouco adiantado, e os dois pontas numa linha atrás dele.
Quando Delker recebia uma bola no meio do campo, se eu corresse para a esquerda, ficava um enorme espaço entre o lateral direito e o centro da defesa. Porque o zagueiro central tinha que ficar na sua posição, na meia-lua da área. Com a minha forma física de então foi possível que nós dois acabássemos com todas as defesas durante os treinos.
Eu fazia um ou dois gols por treinamento e algumas belas jogadas com Delker. Fiquei famoso entre os entendidos de futebol em Irará.
No dia do jogo nada deu certo; a fama acabou, quando fui substituído no primeiro tempo.
Essa foto já é de outra fase, de 1961. Passei a jogar em uma posição mais humilde, lateral direito, cuja única função naqueles tempos era marcar o ponta-esquerda.
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