Militantes da causa animal se movimentam
contra pregão na terça-feira, em BH, quando qualquer pessoa poderá
arrematar os 10 cachorros de raça dispensados dos serviços da corporação
Jefferson da Fonseca Coutinho
Estado de Minas: 11/04/2013
O
leilão que vai decidir o destino de Odim, Atos, Naruto, Angra, Néon,
Aziza, Anny, Alva, Alma e Mark, previsto para terça-feira, dia 16,
mobiliza ativistas do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA).
Os sete labradores e os três pastores, policiais, saudáveis e bem
cuidados, têm entre 2 e 8 anos e fazem parte do agrupamento de 93
animais do canil da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), no Bairro
Saudade, Região Leste de Belo Horizonte. Defensores dos bichos querem
impedir o remate e levá-los à adoção responsável. “Nós gostaríamos que
eles ficassem com os próprios militares. Os cães se apegam. Não podem
ser arrematados e ir para a casa de qualquer um, simplesmente”, sugere
Graça Leal, de 63.
Há 10 anos na militância da causa dos animais,
a professora e ativista teme que os cães “caiam nas mãos de criadores”
ou de gente covarde, de pouca responsabilidade. Reconhece que os bichos
são bem tratados pela PM, mas não aceita a ideia de “comercialização”.
Não acha correto o leilão. “Não queremos polêmica com a polícia.
Queremos apenas o melhor para os cães”, defende. Graça, da Comissão
Institucional de Saúde Humana na Relação com os Animais, do Conselho
Municipal de Saúde, acredita em diálogo pacífico pelo melhor futuro dos
cães policiais, já que, casada com coronel, diz saber do carinho e
respeito que os policiais têm pelos companheiros de quatro patas.
Alheios
à mobilização dos ativistas, os cães esperam os desdobramentos da ação.
Em fila, dóceis e obedientes, chamam a atenção pela beleza e pela
postura serelepe, cheios de vida – dos 10, apenas dois pastores têm 8
anos. Ainda assim, maduros, apresentam-se fortes como os mais jovens. As
cadelas Anny e Angra, de acordo com avaliações técnicas, deram sinais
de que querem se aposentar. Não estão 100% dispostas para o trabalho
policial – faro, captura, policiamento e demonstração. Odim, o belo
pastor de 4 anos e olhos infantis, próximo ao cercado, em silêncio, pede
para sair. Simpático, parece estar à espera de uma criança qualquer
para traquinar.
Como Odim, outros cães jovens – Atos, de 3,
Naruto, de 2, Néon, de 2, Alva, de 3, e Alma, de 3 – não estão
“dispostos” a continuar na PM. Querem baixa do serviço militar. Capitão
Cássio Antônio dos Santos, de 36, defensor dos animais da corporação,
explica que as particularidades dos bichos precisam ser respeitadas: “É
como gente. Tem gente que tem vocação para ser jornalista. Tem gente que
tem vocação para ser da polícia”. O oficial, com 19 anos de carreira,
está há apenas dois meses no canil. Vindo do trabalho na academia, na
formação de militares, capitão Cássio critica a ação dos ativistas no
que se refere aos cães da polícia.
“É um processo que dá lisura
ao encaminhamento dos cães. Não podemos dizer para o policial levar o
cão para casa. Com o leilão, damos oportunidade para que a sociedade
participe”, ressalta o capitão. Do outro lado, representante do MMDA
fala em fim de exploração e escravidão. “Estamos empenhados, juntos às
três esferas do poder público, para que os cães sejam encaminhados à
adoção e não ao comércio”, diz Adriana Cristina Araújo, de 42. A
servidora pública, “ativista desde criança”, sonha com o fim do trabalho
forçado de qualquer natureza para os animais.
“Somos
abolicionistas, contrários ao uso de animais pela polícia. Se esses
cães pudessem escolher, certamente estariam em liberdade”, diz. Adriana
reprova o aprisionamento e as obrigações dos cães policiais. Entretanto,
“já que o trabalho existe”, diz lutar pelo melhor para os bichos. Sobre
os cães mais velhos, em “fim de carreira”, a defensora, assim como
Graça Leal, sugere que o encaminhamento natural seria a convivência
familiar com os policiais companheiros. O leilão ganhou nota de repúdio
do MMDA, encaminhada aos movimentos nacionais e internacionais.
“Nós
gostaríamos que eles ficassem com os próprios militares. Os cães se
apegam. Não podem ser arrematados e ir para a casa de qualquer um,
simplesmente” - Graça Leal, ativista do MMDA
“É
um processo que dá lisura ao encaminhamento dos cães. Não podemos dizer
para o policial levar o cão para casa. Com o leilão, damos oportunidade
para que a sociedade participe” - Cássio Antônio dos Santos, capitão da PM
LEILÃO DA PM »
Patrimônio público
Valquiria Lopes
O
leilão será para cães que não servem para o serviço policial, como
explica o comandante da Companhia de Policiamento com Cães, major Enos
Machado. Segundo ele, os 10 animais não apresentaram as quatro aptidões
necessárias ao serviço. Para trabalhar com o policial, o cão deve ter
desenvolvidos o faro (para drogas ou explosivos), tendência para captura
(deve morder bem e ter gana para a caça), obediência para o
policiamento ou deve servir para demonstrações. Caso contrário, o animal
é levado a leilão. “Não podemos ter cães medrosos ou que se assustam
quando ouvem o barulho de uma bomba. Nossos animais são treinados como
policiais. Alguns não têm o perfil e são leiloados.”
Ele explica,
no entanto, que os animais que serão leiloados “são cães saudáveis,
vacinados e adestrados”, mas por não terem serventia para o trabalho
policial não podem continuar no canil porque representam gasto para o
estado. “O custo para manter um animal é de pelo menos R$ 156 por mês,
investidos com vacina, alimentação, veterinário, entre outros.”
Melhorias
no cruzamento genético são feitas na maternidade do canil para que cada
vez menos ocorra o descarte de animais, como informou o major Machado.
Mas ainda assim, um a cada cinco cães que nascem não apresentam as
aptidões para o trabalho. Além desses, também costumam ir a leilão
animais que esgotaram a vida útil de oito anos de serviço e estão em
boas condições de saúde. Segundo o oficial, três vendas por arrematação
foram feitas nos últimos dois anos, também com cerca de 10 cães. O lance
inicial por animais varia entre R$ 90 e R$ 150.
DOAÇÃO O major
explica que como os cães pertencem ao estado e são considerados
patrimônio, não podem ser doados. “Seria como pegar uma viatura policial
e levar para casa, o que é ilegal. Por isso, é preciso abrir edital
público para que a sociedade participe.” Pelo mesmo motivo, militares
não podem ficar com os cães ou participar do leilão.
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