quinta-feira, 11 de abril de 2013

Proteína leva o câncer da mama à cabeça -Vilhena Soares‏

Cerca de 20% das mortes em decorrência de tumores malignos nos seios ocorrem devido à metástase cerebral 


Vilhena Soares

Estado de Minas: 11/04/2013 

Além de ser o mais comum entre as mulheres, o câncer de mama pode comprometer o funcionamento do cérebro. Segundo o neurologista Lixin Zhang, cerca de 20% das mortes em decorrência da doença são causadas pela metástase cerebral. Pela primeira vez, uma equipe liderada por ele conseguiu identificar a proteína responsável pela chegada das células cancerosas da mama ao cérebro. A descoberta foi divulgada na edição desta semana da Science Translational Medicine e aumenta as esperanças de desenvolvimento de uma terapia que impeça a proliferação do tumor.

Inicialmente, os pesquisadores da Baylor College of Medicine, em Houston, e da Universidade do Texas, ambas nos Estados Unidos, isolaram as células tumorais circulantes (CTCs) em laboratório para aumentá-las e analisá-las. Durante essa etapa, eles identificaram uma proteína nas CTCs, denominada epimolécula de adesão endotelial de células (EpCam), que seria uma espécie de assinatura celular, ou seja, um indício da existência de metástase. A EpCam foi, então, implantada em ratos com a ajuda de pequenos marcadores, que foram capazes de monitorar o crescimento e a movimentação das células. Como esperado, as células cancerosas que continham a EpCam produziram nos animais tumores cerebrais semelhantes aos observados em humanos. “Um dos próximos passos será descobrir estratégias de intervenção terapêutica para suprimir ou prevenir a colonização dos CTCs em órgãos distantes, como o cérebro”, diz Zhang.

As células com câncer são difíceis de serem analisadas, devido a sua composição – têm as paredes duras de proteína, mais difíceis de serem quebradas. Esse reforço dificulta bastante a evolução nas pesquisas na área. Os cientistas do estudo americano resolveram focar a pesquisa na metástase porque partiram da premissa, apontada em outros estudos, de que, depois da autópsia de corpos de pacientes que morreram de câncer de mama, a metástase foi indicada como a principal responsável pela falência dos órgãos.

“As CTCs representam as ‘sementes’ de metástase e são uma promissora alternativa para serem usadas nas biópsias como maneira de detectar, investigar e monitorar tumores sólidos. Com a análise, podemos detalhar de que forma ocorre a progressão do tumor”, defendem os pesquisadores no artigo publicado na Science Translational Medicine.

Outros desafios Giuliano Duarte, médico mastologista do Hospital da Mulher Professor Doutor José Aristodemo Pinotti da Universidade de Campinas (Unicamp), acredita que o estudo é bastante promissor, e que outras complicações no corpo decorrentes do câncer, além da metástase no cérebro, merecem investigação semelhante.

“As mortes por câncer de mama só ocorrem por metástase, mas a área com maior incidência não é a cerebral. Antes, temos a metástase nos ossos, no fígado e no pulmão. Acredito que estudos nessa linha na área hepática e na pulmonar também seriam bastante válidos”, diz.

O especialista reforça, porém, que há ainda uma dificuldade grande de entender o desenvolvimento do câncer no corpo. “Algumas dessas células cancerígenas seguem para frente, outras não. Por isso é tão difícil determinar quais delas seriam causadoras da propagação da doença”, explica Duarte. “Todas as pesquisas que temos nessa área surgiram com testes em animais semelhantes a esse (o estudo americano). Algumas evoluíram e ajudaram no tratamento, outras não, mas é importante que sigamos com esses pequenos avanços, que podem, sim, ser bastante promissores.”

Gilberto de Castro Júnior, oncologista do Instituto do Câncer de São Paulo, destaca que a técnica utilizada no estudo americano é semelhante a uma já existente. “Em um outro acompanhamento, essas células cancerígenas são analisadas pelo sangue dos pacientes. As duas técnicas são bastante interessantes, já que por meio delas será possível conseguirmos novos avanços na área”, avalia.

O próximo passo dos cientistas da Baylor College of Medicine e da Universidade do Texas será identificar e validar a presença das EpCams encontradas nos ratos em um grande número de pacientes com câncer de mama com metástase cerebral para, além de prever o curso da doença, melhorar a compreensão do câncer metastático e encontrar uma terapia mais promissora.

“Essas proteínas serão cruciais para o entendimento da metástase e para darmos um desenvolvimento a tratamentos que ajudem a prolongar a sobrevida dos pacientes”, explicam os pesquisadores no estudo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), na população mundial a sobrevida média após cinco anos do surgimento do câncer de mama é de 61%.

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