Diante de novos protestos, Feliciano
volta a impedir a presença do público em reunião da Comissão de Direitos
Humanos, um dia depois de ter prometido reabrir os encontros
Amanda Almeida, Adriana Caitano e Daniel Camargos
Estado de Minas: 11/04/2013
Embora
tenha se comprometido a manter abertas ao público as reuniões da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara, o deputado
Marco Feliciano (PSC-SP) voltou a fechar a sessão ontem. Em meio ao
tumulto provocado por manifestantes, o parlamentar disse que a comissão
vai de “vento em popa”. A sessão do colegiado começou parcialmente
aberta ao público. Quando o deputado entrou no plenário, grupos a favor e
contra Feliciano iniciaram uma barulhenta disputa de palavras de ordem.
O pastor, acusado por movimentos sociais de homofobia e racismo, chegou
a pedir respeito aos que protestavam contra sua permanência no comando
do colegiado: “Peço que vocês se comportem com a educação que teriam se
estivessem em casa”, disse. Seis minutos depois, o deputado suspendeu a
sessão, que foi reaberta em outro plenário, apenas para parlamentares,
assessores e jornalistas.
A deputada Érika Kokay (PT-DF) tentou
obstruir a reunião, alegando que o PT não vê legitimidade na eleição de
Feliciano para o comando do colegiado. “(A defesa dos) direitos humanos
pressupõe uma cultura de paz”, protestou ela, acrescentando que pediu
quatro vezes para falar, mas a palavra não lhe foi concedida pelo
pastor. O deputado Takayama (PSC-PR) a acusou de má-educada e Henrique
Afonso (PV-AC) a chamou de “intolerante”.
Na semana passada,
para evitar os protestos que se repetem desde sua posse no comando da
comissão, Feliciano aprovou requerimento fechando por tempo
indeterminado as reuniões da comissão. O presidente da Câmara, Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN), porém, derrubou a proibição na terça-feira.
Ficou acertado, no entanto, que diante de tumultos as reuniões poderiam
ser fechadas. Durante a troca de plenário ontem, o pastor sustentou que a
medida não fere o acordo fechado com Alves e líderes partidários.
Entretanto, alguns parlamentares reclamaram que nem sequer conseguiram
entrar na comissão. “A segurança está impedindo até deputado de entrar. É
o fim da picada”, disse Chico Alencar (PSOL-RJ), antes da transferência
do encontro.
Ontem, apareceu mais um vídeo com declarações
polêmicas do pastor. Em culto, Feliciano diz que o compositor Caetano
Veloso vendeu 1 milhão de cópias de um CD depois de levá-lo à Mãe
Menininha do Gantois, que o religioso chamou de “Patuá”, relacionando-a
ao “diabo”. Caetano reagiu pelo Twitter com um “#ForaFeliciano”.
Belo
Horizonte No fim de semana, Feliciano tende a cumprir a rotina de
protestos que vem enfrentando, desta vez em Belo Horizonte. Ele estará
na capital mineira para pregar na Igreja do Evangelho Quadrangular, no
Templo dos Anjos, no Bairro Alto Barroca. A informação foi divulgada
pela emissora de rádio 107 FM, ligada a grupos evangélicos. Após a
divulgação, organizações que apoiam os movimentos de defesa dos direitos
dos homossexuais – um dos principais alvos de críticas nas pregações de
Feliciano – começaram a preparar um protesto na porta do templo.
“Não
vamos confirmar (a presença de Feliciano) para evitar confusão”, disse
um dos pastores do templo, Marcos Guzmão, que fez questão de ressaltar
que o convidado foi “o pastor e não o deputado”. A programação das
pregações permaneceu no site da rádio durante todo o dia de ontem. Serão
três cultos: sábado às 18h30 e domingo às 8h e às 17h30.
O
presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno, afirma que a decisão do
movimento é protestar para impedir que Feliciano permaneça na
Presidência da CDHM. “Não podemos aceitar alguém com histórico de
homofobia, racismo e de declarações contrárias aos direitos humanos no
cargo que ele ocupa”, afirmou Carlos Magno.
A estratégia dos
protestos ainda será definida pela ABGLT e entidades parceiras em Belo
Horizonte. Até o fim da tarde de ontem, mais de 500 pessoas haviam
confirmado presença em uma comunidade do Facebook criada para organizar a
manifestação.
Feliciano é presidente da Igreja Catedral do
Avivamento, que não tem templo em Belo Horizonte. A Igreja do Evangelho
Quadrangular, onde ele vai pregar, é comandada pelo deputado federal
licenciado pastor Mário Oliveira (PSC-MG). O suplente de Mário, que
ocupa o cargo na Câmara dos Deputados, é seu sobrinho Stefano Aguiar
(PSC-MG), também pastor. “É normal que os pastores fora de série, como o
Feliciano e o Silas Malafaia, sejam convidados para pregarem em outras
igrejas”, diz o pastor Guzmão.
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