Fertilização in vitro, criada pelo britânico, permitiu o nascimento de 4 milhões de crianças
Marcela Ulhoa
Estado de Minas: 11/04/2013
Brasília – O
nascimento de Louise Brown, em 25 de julho de 1978, em Oldham,
Inglaterra, marcou uma nova e revolucionária perspectiva para a
reprodução humana. Hoje com 34 anos, ela foi o primeiro bebê de proveta
da história. O feito foi possível graças à técnica desenvolvida pelo
pesquisador Robert Edwards, que em 2010 ganhou o Prêmio Nobel de
Medicina. Pai da fertilização in vitro, o britânico morreu ontem aos 87
anos, mas deixou como legado mais de 4 milhões de pessoas que só vieram
ao mundo devido ao seu esforço científico.
“Com grande tristeza, a família anuncia que o professor sir Robert Edwards, vencedor do Prêmio Nobel, faleceu tranquilamente enquanto dormia, em 10 de abril de 2013, depois de uma longa enfermidade. Ele fará muita falta para a família, os amigos e os colegas”, informou o comunicado divulgado pela Universidade de Cambridge, à qual o pesquisador continuava vinculado. No informativo, a instituição pediu respeito à privacidade da família neste momento triste e difícil.
Nascido em 27 de setembro de 1925, em Batley, no Norte da Inglaterra, Edward serviu no Exército britânico de 1944 a 1948, antes de iniciar seus estudos de biologia na Universidade de Bangor, em Gales, e depois em Edimburgo (Escócia), onde se doutorou, em 1955, com uma tese sobre o desenvolvimento embrionário dos ratos. Após seu primeiro emprego no Instituto Nacional de Pesquisa Científica, em Londres, começou a trabalhar em 1963 na Universidade de Cambridge, onde, cinco anos mais tarde, viu pela primeira vez a vida ser criada fora do útero. “Jamais esquecerei o dia em que olhei em meu microscópio e vi algo diferente nos cultivos”, contou em 2008. “O que vi foi um blastocisto humano me olhando fixamente. Pensei: ‘conseguimos’”, acrescentou.
O cientista desenvolveu a técnica que permite a fecundação fora do organismo da mulher (veja infografia) com a ajuda dos colegas Patrick Steptoe e Jean Purdy. “Eles começaram a trabalhar com animais e perceberam que conseguiriam fecundar e realizar a fertilização in vitro, juntar um óvulo com o espermatozoide no laboratório e, só então, transferir o bebê para o interior do aparelho reprodutor”, detalha Rubens Tavares, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 1978, os pesquisadores conseguiram replicar o que tinham atestado em animais para humanos. Louise nasceu em um parto cercado do mais absoluto sigilo.
A Academia Real de Ciências da Suécia decidiu dar a Edwards o Nobel de Medicina em 2010 – Steptoe e Purdy não foram laureados porque já tinham morrido. O prêmio foi criticado pelo Vaticano, postura que, para o cientista, era “um grave erro”. “Dizem aos católicos para que não recorram a essa alternativa, mas os católicos o fazem. Os papas só fazem uma coisa: incentivam os fiéis a desobedecê-los”, reagiu o britânico. No dia da cerimônia de entrega da honraria, da qual o britânico não participou por motivos de saúde, o professor de Cambridge Martin Johnson ressaltou que Edwards “persistiu apesar dos anos de difamação e levou a obstetrícia e a ginecologia à modernidade”.
Em 1980, Edwards e Steptoe fundaram a Bourn Hall, a primeira clínica de fertilidade do mundo, onde continuaram aperfeiçoando seu procedimento. Rubens Tavares esclarece que a técnica sofreu melhorias com o tempo. “Foram estudados vários tipos diferentes de meios de cultivo, o alimento que é dado para o embrião. Também foi aprimorada a técnica de captura do óvulo para transferir o embrião para o útero, além da forma como se induz a ovulação na paciente.”
especialista em reprodução assistida da clínica Origen, EM BH, e amigo de Edwards
“Quando conheci o professor, fazia meu doutorado em Londres em doenças genéticas em embriões. Logo me aproximei dele, que gostava de ser chamado de Bob. A gente trocava ideias e e-mails, ele era um grande cientista, uma pessoa generosa, gentil, humilde. Seu legado científico é o fato de ter conseguido a aplicação clínica da ciência pura. Ele desenvolveu uma técnica que beneficiou milhares de pessoas no mundo. Acredito que ele tenha morrido feliz e orgulhoso disso. Bob deu início aos seus estudos na década de 1960. De lá para cá, tudo o que aprendemos em biologia reprodutiva se deve a ele.”
“Com grande tristeza, a família anuncia que o professor sir Robert Edwards, vencedor do Prêmio Nobel, faleceu tranquilamente enquanto dormia, em 10 de abril de 2013, depois de uma longa enfermidade. Ele fará muita falta para a família, os amigos e os colegas”, informou o comunicado divulgado pela Universidade de Cambridge, à qual o pesquisador continuava vinculado. No informativo, a instituição pediu respeito à privacidade da família neste momento triste e difícil.
Nascido em 27 de setembro de 1925, em Batley, no Norte da Inglaterra, Edward serviu no Exército britânico de 1944 a 1948, antes de iniciar seus estudos de biologia na Universidade de Bangor, em Gales, e depois em Edimburgo (Escócia), onde se doutorou, em 1955, com uma tese sobre o desenvolvimento embrionário dos ratos. Após seu primeiro emprego no Instituto Nacional de Pesquisa Científica, em Londres, começou a trabalhar em 1963 na Universidade de Cambridge, onde, cinco anos mais tarde, viu pela primeira vez a vida ser criada fora do útero. “Jamais esquecerei o dia em que olhei em meu microscópio e vi algo diferente nos cultivos”, contou em 2008. “O que vi foi um blastocisto humano me olhando fixamente. Pensei: ‘conseguimos’”, acrescentou.
O cientista desenvolveu a técnica que permite a fecundação fora do organismo da mulher (veja infografia) com a ajuda dos colegas Patrick Steptoe e Jean Purdy. “Eles começaram a trabalhar com animais e perceberam que conseguiriam fecundar e realizar a fertilização in vitro, juntar um óvulo com o espermatozoide no laboratório e, só então, transferir o bebê para o interior do aparelho reprodutor”, detalha Rubens Tavares, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 1978, os pesquisadores conseguiram replicar o que tinham atestado em animais para humanos. Louise nasceu em um parto cercado do mais absoluto sigilo.
A Academia Real de Ciências da Suécia decidiu dar a Edwards o Nobel de Medicina em 2010 – Steptoe e Purdy não foram laureados porque já tinham morrido. O prêmio foi criticado pelo Vaticano, postura que, para o cientista, era “um grave erro”. “Dizem aos católicos para que não recorram a essa alternativa, mas os católicos o fazem. Os papas só fazem uma coisa: incentivam os fiéis a desobedecê-los”, reagiu o britânico. No dia da cerimônia de entrega da honraria, da qual o britânico não participou por motivos de saúde, o professor de Cambridge Martin Johnson ressaltou que Edwards “persistiu apesar dos anos de difamação e levou a obstetrícia e a ginecologia à modernidade”.
Em 1980, Edwards e Steptoe fundaram a Bourn Hall, a primeira clínica de fertilidade do mundo, onde continuaram aperfeiçoando seu procedimento. Rubens Tavares esclarece que a técnica sofreu melhorias com o tempo. “Foram estudados vários tipos diferentes de meios de cultivo, o alimento que é dado para o embrião. Também foi aprimorada a técnica de captura do óvulo para transferir o embrião para o útero, além da forma como se induz a ovulação na paciente.”
Depoimento
Selmo Geber especialista em reprodução assistida da clínica Origen, EM BH, e amigo de Edwards
“Quando conheci o professor, fazia meu doutorado em Londres em doenças genéticas em embriões. Logo me aproximei dele, que gostava de ser chamado de Bob. A gente trocava ideias e e-mails, ele era um grande cientista, uma pessoa generosa, gentil, humilde. Seu legado científico é o fato de ter conseguido a aplicação clínica da ciência pura. Ele desenvolveu uma técnica que beneficiou milhares de pessoas no mundo. Acredito que ele tenha morrido feliz e orgulhoso disso. Bob deu início aos seus estudos na década de 1960. De lá para cá, tudo o que aprendemos em biologia reprodutiva se deve a ele.”
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