Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/05/2013
Prosaico pode
significar trivial, comum, corriqueiro, destituído de nobreza, mas tem,
entre outros, o significado de “aferrado ao lado prático da vida”.
Jornalismo é serviço: Tiro e Queda, outrossim. Vou tratar de assunto não
muito nobre, mas muito sério, porque tudo que fazemos com regularidade é
importantíssimo. Banhos, alimentação, ingestão de líquidos, higiene
bucal, amor e visitas ao trono de louça têm importância basilar em
nossas vidas. Cuidemos do trono. A posição lógica e fisiológica, durante
as centenas de milhares de anos da espécie Homo sapiens, foi e continua
sendo de cócoras. No final do século 18, os ingleses Alexander Cummings
e Joseph Bramah já tinham patenteado dois tipos de privadas. Cummings
era matemático e relojoeiro, o que faz supor que suas tripas
funcionassem feito um relógio. Mas a ideia das privadas com descarga foi
do poeta Harrington, afilhado da rainha Elizabeth I, em 1589. A rainha
era muito limpa. Ainda que não julgasse necessário, tomava banho uma vez
por mês. Visitando o afilhado, ficou encantada com a descarga e mandou
fazer uma igual no Palácio de Richmond, mas o invento caiu em desuso.
Cummings (1775) ressuscitou a invenção do poeta, mas quem faturou uma
nota firme foi o marceneiro Bramah, que vendeu 6 mil privadas entre 1778
e 1797.
Em rigor, a posição fisiológica perfeita pode ser encontrada nas bacias turcas, aquelas em que o herói fica de cócoras no banheiro. Saudoso amigo, coronel da FAB que presidia no Brasil a filial de poderosa indústria japonesa, contou-me de uma soltura que teve em Tóquio no gabinete do presidente da multinacional. Nipopiriri é carreirinha terrível, porque movida a peixe cru. Trancou-se no banheiro, bacia turca, para obrar gostosa e abundantemente. Do lado de fora, o presidente japonês perguntava em inglês aflito: “Tudo bem, coronel? Tem papel, coronel?”. Ocorre que a bacia turca é um problema para idosos. Ainda que o idoso se acocore, levantar-se é impossível. Vai daí que um gênio da Stanford University, merecedor do Prêmio Nobel, inventou um banquinho em forma de “U” para ser posto no chão, encostado à privada comum, permitindo que o utente, sentado no trono, com os pés sobre o banquinho, fique em posição quase ideal. O invento pode ser visto em www.squattypotty.com. Enquanto não chega a Minas – e deve ser muito barato –, mandei fazer três de madeira, um para uso em domicílio, dois para presentear.
Trivial variado
Não sei se é para rir ou para chorar, mas fico pasmo quando vejo um sujeito rico, riquíssimo, bilionário, dizer que vai vender o apartamento de Paris por falta de tempo para curtir suas temporadas comendo queijos e bebendo vinhos nacionais. E fico espantando porque, inteligente que o cavalheiro é, deveria ter aprendido que pode triplicar, quadruplicar sua fortuna, mas a vida é uma só. E ele, dono do belo apê com vista para a Torre Eiffel, já passou dos 60. Por que ganhar mais e mais dinheiro, se os seus filhos e netos estão com os respectivos burros amarrados à sombra dos paraísos fiscais? Só pode ser doença, dolerite, eurite, psicose acumuladora de euros e dólares, com as conhecidas sequelas: carros blindados, seguranças treinados na luta israelense krav magá, câmeras de segurança, quartos de pânico e o mais que o leitor possa imaginar.
Mas o título deste belo philosophar – trivial variado – faz que o philosopho mude de assunto para constatar que envelhecemos nos outros. Deu para entender? O espelho faz que nos acostumemos com os nossos visuais. No imenso espelho do banheiro matinal, às vezes estamos iguais ao dia anterior, raras vezes melhoramos, quase sempre pioramos muito, mas nos acostumamos. Envelhecemos, de fato, quando reencontramos amigos que não víamos há 10 anos. É uma tristeza, como tristíssimo é rever colegas de faculdade nos malditos jantares de 25, 30, 35 anos de formatura. Mocinhas bonitinhas são bisavós. Posso imaginar o que pensam as bivós dos seus colegas, hoje transformados em peças de museu. Já que o assunto mudou para espelho, falo do espelho d’alma de que me valho para avaliar esta encarnação. Sei que podia e devia ter sido melhor, muito melhor enquanto cidadão. E o “enquanto”, antes que me critiquem, tem o abono do padre Vieira. Se o sujeito acha que tem sido muito ruim ou que poderia ter sido muito melhor, espelho d’alma é a avaliação que faz por meio dos amigos angariados nesta existência. Se conquistou muitos e bons amigos, é sinal de que não foi assim tão ruim. Podia ter sido melhor, é certo, mas tem podia ter sido um milhão de vezes pior. Há exemplos e são muitos.
O mundo é uma bola
4 de maio de 1675: criação do Observatório de Greenwich durante o reinado de Carlos II, de Inglaterra. Deve datar daí o meridiano zero, que passa pelo antigo Observatório Real de Greenwich e serve de referência para o tempo universal. Não sei se o prédio do observatório criado pelo rei Carlos II mudou de lugar. Só não mudou, até hoje, a confusão que muita gente faz entre meridiano e paralelo. Hoje é o Dia do Calculista Estrutural.
Ruminanças
“Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).
Em rigor, a posição fisiológica perfeita pode ser encontrada nas bacias turcas, aquelas em que o herói fica de cócoras no banheiro. Saudoso amigo, coronel da FAB que presidia no Brasil a filial de poderosa indústria japonesa, contou-me de uma soltura que teve em Tóquio no gabinete do presidente da multinacional. Nipopiriri é carreirinha terrível, porque movida a peixe cru. Trancou-se no banheiro, bacia turca, para obrar gostosa e abundantemente. Do lado de fora, o presidente japonês perguntava em inglês aflito: “Tudo bem, coronel? Tem papel, coronel?”. Ocorre que a bacia turca é um problema para idosos. Ainda que o idoso se acocore, levantar-se é impossível. Vai daí que um gênio da Stanford University, merecedor do Prêmio Nobel, inventou um banquinho em forma de “U” para ser posto no chão, encostado à privada comum, permitindo que o utente, sentado no trono, com os pés sobre o banquinho, fique em posição quase ideal. O invento pode ser visto em www.squattypotty.com. Enquanto não chega a Minas – e deve ser muito barato –, mandei fazer três de madeira, um para uso em domicílio, dois para presentear.
Trivial variado
Não sei se é para rir ou para chorar, mas fico pasmo quando vejo um sujeito rico, riquíssimo, bilionário, dizer que vai vender o apartamento de Paris por falta de tempo para curtir suas temporadas comendo queijos e bebendo vinhos nacionais. E fico espantando porque, inteligente que o cavalheiro é, deveria ter aprendido que pode triplicar, quadruplicar sua fortuna, mas a vida é uma só. E ele, dono do belo apê com vista para a Torre Eiffel, já passou dos 60. Por que ganhar mais e mais dinheiro, se os seus filhos e netos estão com os respectivos burros amarrados à sombra dos paraísos fiscais? Só pode ser doença, dolerite, eurite, psicose acumuladora de euros e dólares, com as conhecidas sequelas: carros blindados, seguranças treinados na luta israelense krav magá, câmeras de segurança, quartos de pânico e o mais que o leitor possa imaginar.
Mas o título deste belo philosophar – trivial variado – faz que o philosopho mude de assunto para constatar que envelhecemos nos outros. Deu para entender? O espelho faz que nos acostumemos com os nossos visuais. No imenso espelho do banheiro matinal, às vezes estamos iguais ao dia anterior, raras vezes melhoramos, quase sempre pioramos muito, mas nos acostumamos. Envelhecemos, de fato, quando reencontramos amigos que não víamos há 10 anos. É uma tristeza, como tristíssimo é rever colegas de faculdade nos malditos jantares de 25, 30, 35 anos de formatura. Mocinhas bonitinhas são bisavós. Posso imaginar o que pensam as bivós dos seus colegas, hoje transformados em peças de museu. Já que o assunto mudou para espelho, falo do espelho d’alma de que me valho para avaliar esta encarnação. Sei que podia e devia ter sido melhor, muito melhor enquanto cidadão. E o “enquanto”, antes que me critiquem, tem o abono do padre Vieira. Se o sujeito acha que tem sido muito ruim ou que poderia ter sido muito melhor, espelho d’alma é a avaliação que faz por meio dos amigos angariados nesta existência. Se conquistou muitos e bons amigos, é sinal de que não foi assim tão ruim. Podia ter sido melhor, é certo, mas tem podia ter sido um milhão de vezes pior. Há exemplos e são muitos.
O mundo é uma bola
4 de maio de 1675: criação do Observatório de Greenwich durante o reinado de Carlos II, de Inglaterra. Deve datar daí o meridiano zero, que passa pelo antigo Observatório Real de Greenwich e serve de referência para o tempo universal. Não sei se o prédio do observatório criado pelo rei Carlos II mudou de lugar. Só não mudou, até hoje, a confusão que muita gente faz entre meridiano e paralelo. Hoje é o Dia do Calculista Estrutural.
Ruminanças
“Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).
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