VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Conscientemente ou não, buscamos informações sobre as pessoas olhando para os seus pés. Os calçados são capazes de comunicar pistas sobre sexualidade, classe social e status econômico", diz a escritora e consultora americana Rachelle Bergstein, autora do livro "Do Tornozelo para Baixo - A História dos Sapatos e como Eles Definem as Mulheres".
O livro de Rachelle firma os pés numa pesquisa vasta e cheia de detalhes interessantes para tentar dar força a seu ambicioso subtítulo. A obra faz um levantamento dos anos 1900 até o início dos 2000, relacionando fatos históricos, celebridades, filmes, tendências e os altos e baixos da indústria calçadista.
As mudanças de estilo exigidas pela depressão norte-americana pós-1929, a falta de material durante a Segunda Guerra, o aumento da produção em massa nos anos 1960, está tudo lá, devidamente amarrado ao que as mulheres carregavam nos pés.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Talvez a grande revolução para os sapatos tenha ocorrido durante a década de 1960, quando materiais como o PVC, entre muitos outros, apareceram como substitutos do couro. Os custos e os preços caíram, e, assim, pela primeira vez, mulheres com rendas modestas puderam começar a colecionar calçados", conta a autora, ela mesma dona de uma coleção digna de nota.
O valor da pesquisa, no entanto, está menos nos fatos observados com objetividade e mais nos tais detalhes. Trata-se do mistério que Marx já descrevia em torno das mercadorias. Não se trata de dizer que um sapato é apenas um arranjo de couro ao qual aplicamos algum valor de fascínio, mas que de fato enxergamos o fascínio como algo que se esconde nesse arranjo de couro.
Um belo exemplo é o encontro do designer Salvatore Ferragamo, um dos maiores de todos os tempos neste ramo, e Marilyn Monroe para uma prova de sapatos.
Ele pergunta se pode descalçar a diva e, pela primeira vez, observa as solas nuas de seus pés. Marilyn encarna sua personagem falso-ingênua, safada, visivelmente constrangida. Ferragamo, seríssimo, observa os pés como um arquiteto, imaginando como será sua obra-prima para aquela curvatura.
Anos depois, o caminhar estonteante da moça seria descrito como reflexo dos Ferragamos em seus pés. Essa talvez seja a melhor definição do que é um sapato.
A autora, porém, faz questão dos fatos."Gostem ou não, as mulheres têm feito grandes coisas para atrair os homens. Os saltos têm sido uma arma feminina, os homens não os usam regularmente desde Luís 15. Eles realinham a coluna, elevam os quadris, ou seja, é uma mudança física. As chinesas, por exemplo, torturaram-se por séculos porque ter pés pequenos era necessário para conseguir um bom casamento."
Rachelle confessa não ter pés pequenos. Diz que, talvez por isso, sua ideia de feminilidade aplicada aos calçados esteja mais ligada a uma questão de sentir-se poderosa e confiante.
Deixa escapar, no entanto, que sua mãe era uma mulher refinada, dona de uma grande e variada coleção de "gosto maravilhoso". E que, em sua adolescência, preferia usar tênis e botas Doc Martens, estilo coturno. "Só depois dos 20 voltei aos modelos mais femininos. O que é bom porque, como escrevo sobre sapatos, todos estão sempre olhando para os meus pés", conta.
E mais reveladora ainda é a última frase do livro. Ali, Rachelle faz sua declaração ao marido: "Você é meu par [de sapatos?!] perfeito". A classe, a mãe, o sexo, o amor... Esqueça Carrie Bradshaw e Imelda Marcos. Só mesmo Marx e Freud para dar conta de tanta sola no armário.
DO TORNOZELO PARA BAIXO
AUTOR Rachelle Bergstein
TRADUÇÃO Débora Guimarães
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 49,90 (272 págs.)
AVALIAÇÃO bom
AUTOR Rachelle Bergstein
TRADUÇÃO Débora Guimarães
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 49,90 (272 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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