Em paralelo ao mundo das instituições, ocupado por um confronto entre os Poderes que não corresponde aos interesses de classe, no fundo da cena atores sociais cavaram a trincheira para mais uma rodada de disputa entre capital e trabalho. No 1º de Maio as duas maiores centrais sindicais do país realizaram um movimento de pinça sobre o governo, obrigando-o a abrir uma frente de luta até agora evitada.
Enquanto a Força Sindical levantava a bandeira do gatilho diante da inflação, a CUT forçava o Executivo a negociar em torno de problemas relativos à terceirização, alta rotatividade e formalização do emprego ou, em outras palavras, ao redor da desprecarização das condições de trabalho no Brasil.
Somadas, as duas iniciativas incidem sobre os nervos das relações produtivas --massa de salários e grau de proteção que os trabalhadores dispõem diante do arbítrio capitalista-- e recolocam o conflito distributivo no centro do debate. Pouco importa, para efeito do resultado final, que por trás de ambos os procedimentos existam contradições internas e jogadas que dizem respeito à disputa pela representatividade de cada corrente no interior do movimen- to trabalhista.
Mesmo atuando aos saltos no espectro ideológico --o que lhe tira credibilidade--, Paulo Pereira da Silva percebeu que o baixo crescimento dos últimos anos vai diminuir, no próximo período, o aumento médio que o salário mínimo teve na última década. Alerta para o efeito futuro da relativa estagnação do piso salarial, introduziu na pauta o tema da reposição automática das perdas inflacionárias. A proposta tem óbvia ressonância entre os que ganham menos.
A esperteza da manobra acicatou a rival de Paulinho, que se viu obrigada a reassumir a posição de pressão já esboçada na grande marcha a Brasília em 6 de março passado. Às vésperas do Dia do Trabalho, sem nada para contrapor ao deputado da Força, o presidente da CUT, Vagner Freitas, declarou: "Não há nenhuma sinalização de negociação e vamos preparar nossos trabalhadores para intensificar a mobilização e discutir a estratégia para ampliar a luta unificada". Diante da ameaça, em decisão de última hora na terça, 30 de abril, a presidente da República concedeu a abertura de uma mesa de negociação com as centrais marcada para começar no próximo dia 14.
Nessa mesa, Dilma Rousseff tende a ficar ensanduichada entre demandas por ora inconciliáveis, pois, à medida que os empresários optaram por dar prioridade à redução do custo da mão de obra, dissolveu-se o esboço de pacto que orientou o ensaio desenvolvimentista de 2011-2012. Aguardemos os próximos rounds.
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