sábado, 4 de maio de 2013

Barbosa critica falta de 'pluralismo' na imprensa brasileira

folha de são paulo

Para presidente do Supremo, mídia é dominada por três grandes jornais 'mais ou menos inclinados para a direita'
Ministro também se queixa da ausência de negros em posições de liderança nos veículos de comunicação do país
FRANCISCO JORDÃOENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ (COSTA RICA)O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, criticou ontem a falta de "pluralismo" e a "fraca diversidade política e ideológica" da imprensa brasileira e afirmou que a mídia é dominada por jornais "inclinados para a direita".
Barbosa discursou em inglês durante um evento sobre liberdade de imprensa organizado na Costa Rica pela Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação e a cultura.
"O Brasil tem hoje três principais jornais nacionais impressos, todos mais ou menos inclinados para a direita no campo das ideias", afirmou o presidente do STF, que disse estar expressando um ponto de vista pessoal, como "cidadão livre e consciente".
O único veículo que Barbosa citou em seu discurso foi o "Jornal do Brasil", cuja versão impressa deixou de circular em 2010. Para o ministro, o surgimento da internet foi um dos fatores responsáveis pela crise na imprensa.
Ele também se queixou da ausência de negros em posições de liderança nos veículos de comunicação do país.
"No Brasil, negros e mulatos representam de 50% a 51% do total da população, mas não brancos são bem raros nas redações, nas telas de TV, sem mencionar a quase abstenção deles nas posições de controle ou liderança na maioria dos veículos de comunicações", afirmou. "É quase como se eles não existissem no mercado de ideias."
Disse ainda que "o Brasil é um país que pune muito as pessoas pobres, negros e sem boas conexões".
ATRITOS
Barbosa foi celebrado em editoriais e capas de revistas por seu papel na condução do julgamento do mensalão no ano passado, mas já teve vários atritos com jornalistas.
Em março deste ano, chamou um repórter do jornal "O Estado de S. Paulo" de "palhaço" e recomendou que ele fosse "chafurdar no lixo".
No fim do ano passado, exibiu descontentamento com uma pergunta feita por um jornalista negro e disse que ela reproduzia estereótipos de jornalistas brancos.
A popularidade que ele ganhou com o julgamento chamou a atenção da imprensa internacional também. No mês passado, a revista americana "Time" indicou Barbosa como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.
Apesar de ter dito que não acredita na existência de democracias perfeitas, e que "o Brasil está longe de ser uma", Barbosa reconheceu em seu discurso na Costa Rica que houve "conquistas formidáveis no campo da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, especialmente depois da redemocratização".
"Não há censura pública no país, a imprensa exerce, diariamente, seu papel central de levar informação ao público e controlar o poder", afirmou o presidente do STF.
Procurado pela Folha para comentar o discurso do ministro do Supremo na Costa Rica, o diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, disse que "o Brasil tem mais de 600 jornais diários, que atendem a todas regiões e cidades, com as mais diversas linhas editoriais".

    Supremo oficializa absolvições de 12 réus na ação do mensalão
    DE BRASÍLIACom o fim do prazo para recursos, o Supremo Tribunal Federal (STF) oficializou ontem a absolvição de 12 réus na ação penal do mensalão. A partir de agora, não há mais qualquer imputação contra eles no processo.
    As absolvições ocorreram após o Ministério Público Federal decidir não recorrer da decisão dos ministros do STF que inocentou os réus durante o julgamento, no ano passado. O prazo para recursos terminou anteontem.
    O próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu que os ministros inocentassem, por falta de provas, o ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação) e Antonio Lamas, ex-assessor do PL (atual PR).
    Outros dez réus foram inocentados: o publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes, o ex-ministro Anderson Adauto (Transportes), Geiza Dias (gerente financeira da SMP&B), Anita Leocádia e José Luiz Alves (ex-assessores parlamentares), Ayanna Tenório (ex-executiva do Banco Rural), e os ex-deputados João Magno (PT-MG), Paulo Rocha (PT-PA) e professor Luizinho (PT-SP).
    Com a oficialização da decisão, os bens do publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha presidencial de Lula em 2002, deverão ser liberados pelo Supremo.
    Dos 37 réus julgados, 25 foram condenados. Todos recorreram contra a decisão, alegando omissões, contradições e obscuridades nos votos do mensalão.
    Ontem, Barbosa afirmou que ainda não leu os recursos. "Não li nada ainda. Não tomei conhecimento do teor de nenhum recurso. Só começarei a pensar o que fazer na próxima semana", disse.
    Ele afirmou que os embargos de declaração "não têm, tecnicamente, poder de mudar o conteúdo de uma condenação, simplesmente visam corrigir eventuais contradições [do acórdão]".
    Barbosa também afirmou que os ministros terão que decidir se serão aceitos os recursos chamados de embargos infringentes, previstos para réus que tiveram pelo menos quatro votos pela absolvição.

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