Paloma Oliveto
Estado de Minas: 20/01/2013
Muito já se descobriu sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre o comportamento dos animais — pássaros buscam novas rotas migratórias, ursos-polares abandonam seu hábitat à procura de comida, répteis diminuem o tempo de exposição ao sol, tartarugas machos aumentam o número de parceiras para driblar a ameaça de extinção. Até agora, porém, pouco se sabe sobre a influência das temperaturas extremas na interação entre diferentes espécies. Um estudo publicado na edição de hoje da revista Science mostra como o aquecimento do planeta pode influenciar a dinâmica de uma população inteira.
O alvo do estudo foi a Ilha de Spitsbergen, em Svalbard, na Noruega. Os cientistas escolheram o local porque o ecossistema é bastante simples. No rigoroso inverno, apenas quatro espécies se aventuram por lá: a rena selvagem (Rangifer tarandus platyrhynchus), o pássaro lagópode-branco (Lagopus muta hyperborea), o camundongo-do-campo (Microtus levis) e a raposa-do-ártico (Vulpes lagopus). No verão, pássaros migratórios pousam na ilha e, eventualmente, ursos-polares também a visitam. “Mas, no geral, os vertebrados residentes são poucos. Como também não há grandes quantidades de roedores endêmicos, como ocorre em outros lugares do Ártico, a cadeia alimentar terrestre de Spitsbergen é mais simples, embora completa, o que a transforma em um ecossistema ideal para estudar a relação entre as espécies”, justifica Brage Hansen, principal autor do estudo e pesquisador do Centro de Conservação Biológica da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega.
O alvo do estudo foi a Ilha de Spitsbergen, em Svalbard, na Noruega. Os cientistas escolheram o local porque o ecossistema é bastante simples. No rigoroso inverno, apenas quatro espécies se aventuram por lá: a rena selvagem (Rangifer tarandus platyrhynchus), o pássaro lagópode-branco (Lagopus muta hyperborea), o camundongo-do-campo (Microtus levis) e a raposa-do-ártico (Vulpes lagopus). No verão, pássaros migratórios pousam na ilha e, eventualmente, ursos-polares também a visitam. “Mas, no geral, os vertebrados residentes são poucos. Como também não há grandes quantidades de roedores endêmicos, como ocorre em outros lugares do Ártico, a cadeia alimentar terrestre de Spitsbergen é mais simples, embora completa, o que a transforma em um ecossistema ideal para estudar a relação entre as espécies”, justifica Brage Hansen, principal autor do estudo e pesquisador do Centro de Conservação Biológica da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega.
A equipe chefiada por Hansen estudou dados populacionais das quatro espécies relativos às duas últimas décadas (1990 a 2010) e os comparou a eventos climáticos extremos, como tempestades sobre os montes nevados. Esses episódios, cada vez mais comuns, são especialmente prejudiciais aos herbívoros, pois a água congela as plantas e as sementes que eles consomem. Segundo os pesquisadores, é assim que começa a influência sobre a população da ilha.
Apesar de suportarem invernos rigorosos, as renas, os camundongos e os lagópodes-brancos são afetados pela chuva durante a estação do frio. A escassez de alimento — as três espécies são herbívoras — faz com que as populações diminuam. “Uma fina camada de gelo se forma sobre o solo já supercongelado, e quanto mais forte forem as tempestades, mais inacessível fica a vegetação. Os efeitos disso são muitos: os alimentos ficam encapsulados no gelo, dificultando o acesso, e a tundra demora mais a se recuperar. Como consequência, há uma diminuição no número de espécimes das populações de herbívoros, com uma verdadeira mortalidade em massa, principalmente entre filhotes e indivíduos mais velhos, que têm mais dificuldade de se adaptar. Além disso, há uma queda nas taxas de fertilidade”, diz Hansen.
Raposa Quem mais se beneficia desse efeito é a raposa selvagem. Carnívora, tem à disposição uma boa quantidade de carniça para se fartar. Os cientistas constataram um aumento da população desse animal no inverno de Spitsbergen. No verão, contudo, o quadro é outro. A temperatura do Ártico nunca esteve tão alta — houve um incremento de 2,5oC nos verões da década passada. Com isso, a vegetação volta a florir, aumentando o estoque de alimento para os animais herbívoros. Mesmo assim, não há um aumento substancial no número de espécimes.
“Em média, só há sinais de recuperação das populações dois verões depois, porque essas espécies têm baixa taxa de fertilidade”, explica Hansen. Contudo, a oferta de comida evita que os animais morram, diminuindo, desta vez, a fonte de alimento das raposas. Para sobreviver, elas passam a caçar presas das quais, naturalmente, não são predadoras. Os pássaros migratórios, por exemplo, viram alvo da espécie. No futuro, eles poderão, inclusive, evitar a ilha, o que modificaria mais ainda o ambiente — sabe-se, por exemplo, que as aves transportam sementes, algo importante para a vegetação e, consequentemente, para a alimentação dos herbívoros.
Embora o incremento e a diminuição no número de espécimes seja algo natural aos ecossistemas, a equipe constatou que, em Spitsbergen, as flutuações populacionais sofreram mudanças extremas ao longo dos últimos 20 anos. Hansen destaca que essas alterações durante o estudo estão diretamente ligadas às mudanças climáticas, principalmente ao aumento de tempestades de inverno. É um efeito cascata que tende a piorar. “Muitas pesquisas indicam que os eventos extremos no Ártico, seja o derretimento anormal do gelo no verão, seja a brutalidade das tempestades no inverno, estão cada vez mais dramáticos. Nosso estudo é uma pequena amostra do que as mudanças climáticas estão fazendo nos ecossistemas e um alerta de que a situação pode ficar mais grave no futuro”, alerta.
Vulneráveis O ecólogo Niel Schmidt, especialista em mudanças climáticas da Universidade de Aahus, na Dinamarca, lembra que as alterações na temperatura do Ártico já colocam em risco alguns mamíferos mais vulneráveis. “O aquecimento da região é maior do que o do restante do planeta e isso resultou em mudanças dramáticas na performance e na distribuição de espécies. Esse impacto nas flutuações populacionais pode levar, inclusive, à extinção de espécies inteiras, que dependem da cadeia alimentar da tundra”, afirma.
Um exemplo são as populações dos lêmingues, pequenos roedores do Ártico. Esse animal, que desempenha um papel fundamental no ecossistema da tundra, foi estudado por Schmidt recentemente. “Na cadeia alimentar do Ártico, os lêmingues estão na base da pirâmide alimentar. Em alguns locais, porém, os ciclos de reprodução desse roedor já foi alterado e isso com certeza tem um impacto sobre seus predadores”, diz. Segundo Schmidt, a escassez de pesquisas como a de Brage Hansen, que monitoram o número de indivíduos e relacionam as taxas de crescimento ou diminuição populacional com outras espécies, impede um conhecimento mais aprofundado do ecossistema do Ártico. “Mas é claro que, se uma presa é extinta, seus predadores também sofrerão consequências graves”, lembra.
Segundo o cientista Christer Nilsson, do Departamento de Ciências Ecológicas e Ambientais da Universidade de Umea, na Suécia, se os modelos de previsão climática traçados até 2080 estiverem corretos, é quase certo que animais endêmicos do Ártico, principalmente das ilhas, serão prejudicados. Nilsson, que publicou um artigo sobre o assunto na revista Plos ONE, afirma que, no caso de redistribuição geográfica impulsionada pelas mudanças climáticas, os animais que vivem nas porções continentais do Ártico poderão até se adaptar e se expandir. “Nos arquipélagos, contudo, isso é quase impossível. Acho que é muito improvável que espécies típicas de climas extremamente frios, como as raposas e os lêmingues, consigam sobreviver.”
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