domingo, 20 de janeiro de 2013

Mônica Bergamo

FOLHA DE SÃO PAULO

O 'RIÔ' DE VINCENT CASSEL
Os atores Vincent Cassel e Monica Bellucci estão de mudança para o Rio, onde já tocam samba e querem fazer filme ambientado no Carnaval
"Ah, você tá procurando o seu 'Casselte'?", pergunta o pipoqueiro Joaquim Santo, que passeia com seu carrinho pelas ruas da Lapa carioca. "Ele anda bastante por aqui ultimamente. É meu cliente!"
O homem de quem Santo fala é Vincent Cassel, 46, ator francês de "Cisne Negro" que está de mudança para o Brasil com a mulher, Monica Bellucci, 48, diva italiana de filmes como "Matrix", mais as filhas, Deva, 9, e Leonie, 3.
As estrelas são das maiores na Europa. Ele ganhou um César, o Oscar francês. Já Bellucci juntou cerca de R$ 90 milhões, segundo o jornal inglês "The Guardian", atuando e modelando para marcas como a Dolce&Gabbana, da qual é contratada.
A dupla está na rota Brasil-Europa há meses. Foram já descobertos por paparazzi cariocas, mas evitam contato com a mídia local. Até porque se isolaram para férias em Itacaré (BA), onde já têm uma casa de praia. Voltariam ontem. Depois de quase um mês de descanso, nas próximas semanas têm de achar escola para as crianças. A rotina carioca envolve surfe, samba e projetos de filmar em solo nacional, reportam Chico Felitti e Lígia Mesquita.
Vincent (lê-se "vançã") sonhava há tempos com a mudança, diz Heitor Dhalia, que o dirigiu no longa "À Deriva" (2009), filmado em Búzios (RJ). "Acho que levou o tempo de ele convencer a Monica a sair da Europa. O que ele queria mesmo era morar na Bahia. Mas lá não tem a estrutura de que eles precisam."
Nem o agito do Rio, ao qual o ator pegou afeto. Nos últimos meses, Cassel anda circulando à noite pela Lapa: saiu sozinho para ver Seu Jorge na Fundição Progresso e o samba de Trio Preto + 1 no Circo Voador. Juntos, têm ido a festas nas casas de amigos.
A atriz Maria Ribeiro, por exemplo, já os encontrou duas vezes, nas rodas de samba na casa da produtora Paula Lavigne. A simpatia deles chamou a atenção dos convidados, diz ela. "Eles participam total da bagunça e são simpáticos. E ele manda muuuito bem no pandeiro."
Um dos sambistas que participou dos encontros toma a liberdade de discordar. "A Monica é melhor do que ele no pandeiro", diz o professor. "Ele prefere o tantã, tá aprendendo a fazer som", afirma, referindo-se a tambor fino que é tocado no colo.
Mas a estrela nesses encontros é outra, defende Maria Ribeiro. "Acho que eles se perdem ali no meio dos músicos. Eu, como fã, passo muito mais mal com a presença do Caetano [Veloso] do que com os gringos [risos]."
A vida no Brasil não é feita só de lazer. Cassel disse no ano passado que faria um filme passado no Carnaval carioca. "Ele não desistiu [de filmar], mas não está programado", explica Tuinho Schwartz, da Focus Films, parceiro do francês na empreitada.
Sem trabalhar no país, os últimos meses foram de batuque, mas também de busca imobiliária na cidade. Visitaram a casa do arquiteto Helio Pellegrino, no Alto da Gávea. Cassel disse ter gostado do imóvel, que não estava à venda. Mas Bellucci preferia Ipanema ou Copacabana, para fazer a pé as tarefas do dia a dia.
A patroa venceu, ainda que não tenham se estabelecido em Ipanema nem em Copa. Decidiram-se pela metade do caminho: compraram um apartamento que ocupa um andar inteiro no Arpoador. Corretores dizem que um imóvel no mesmo prédio saiu por R$ 4 milhões em 2012.
"O Vincent já chegou a se hospedar por um mês no meu apartamento e gosta muito desse canto", diz Oskar Metsavaht, fundador da grife Osklen e agora vizinho dos gringos. O Arpoador tem apenas um punhado de prédios em frente ao mar.
Enquanto Monica exercita a língua timidamente, em expressões como "obrigada" e "como vai?", Cassel é quase fluente em português.
Ele consegue falar "maneiro" sem dobrar o erre, como fazem Olivier Anquier e Claude Troisgros, patrícios também radicados no Brasil. Mas às vezes escorrega e chama a nova cidade de "Riô", em vez de Rio.
Mesmo com sotaque, ele pode já ser considerado um "Menino do Rio". Surfa, joga capoeira e dispensa protetor solar -só apela para um, fator 50, quando raspa a cabeça, como fez no fim do ano.
Donata Meirelles, diretora de estilo da "Vogue" e mulher do publicitário Nizan Guanaes, fazia parte da vizinhança até um ano atrás. Mas vendeu o apartamento no prédio ao lado do dos novos cariocas. "Agora, só andando na praia para ver os dois."
Ou frequentando a Garcia D'Ávila, rua chique em Ipanema. Por lá, o casal Bellucci-Cassel não é conhecido de pronto por nome ou sobrenome. Em alguns de seus restaurantes mais badalados, como Alessandro e Frederico, ou botecos, como o Paz e Amor, garçons abordados pela coluna não sabiam quem eram os famosos. A ficha só caiu ao ver fotos.
No restaurante Via Sete, a refeição deles teve picanha nobre e hambúrguer de salmão, servidos com salada, arroz e palmito grelhado. Também pediram dois coquetéis à base de vodca, com frozen de morango e amora. Não deram gorjeta. Mas toparam doar R$ 1 ao WWF, ONG de defesa à natureza.
Em outro almoço, no Braseiro da Gávea, ela comeu um galeto. Estava com a babá, que não usa uniforme, é brasileira e se esforça para falar francês e italiano, idiomas dos patrões. De novo, não foram interpelados.
O produtor musical Nelson Motta interpelaria. "Eu moro no meio de Ipanema. Toda manhã ando no calçadão, no sentido contrário ao Arpoador. Vou dar meia-volta. Quem sabe eu não encontro a Bellucci na praia? Uma sereia. É preciso aproveitar!"

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