Cidade olímpica
RIO DE JANEIRO - Monica mal consegue falar. Tenta. "Quando chega uma competição, todos gostam de julgar os atletas, principalmente quando eles não têm resultados...". Para. Cai num choro soluçante.
Monica Lages do Amaral, 19, é atleta de saltos ornamentais. E seu roteiro de vida segue o de tantos outros esportistas brasileiros.
Dava as primeiras braçadas em aulinhas de natação quando um treinador achou que ela levava jeito para os trampolins. Levou-a para a piscina ao lado. A menina tinha seis anos. O local, o Parque Aquático Julio Delamare, no Maracanã.
Ela tomou gosto pelo negócio. Passou a treinar diariamente. Tornou-se destaque na modalidade.
Ganhou medalhas de ouro e de prata em torneios sul-americanos juvenis. Foi ao Mundial da categoria, na Alemanha. Sua cidade tem uma Olimpíada no horizonte. Deveria estar sorrindo, esperançosa. Mas chora.
Chora porque o que vê no seu horizonte, do trampolim onde treina, são as máquinas das obras no Maracanã. E que logo chegarão até ela.
A reforma em curso prevê a demolição das piscinas e do Estádio de Atletismo Célio de Barros para dar lugar a bares, estacionamentos e heliponto. Quando será? Não se sabe. Monica teme que ocorra com ela o que houve com os colegas do atletismo: um dia, chegaram para treinar e encontraram os portões fechados.
As duas instalações esportivas ficam numa área central do Rio. Em troca, governos e cartolas oferecem o Engenhão (dedicado ao futebol), uma área militar na avenida Brasil a 15 km dali e o parque Maria Lenk, sem equipamentos para simulações de saltos, por exemplo. Um contrassenso. Para receber atletas do mundo todo, o Rio desaloja os seus.
Monica quer ficar no esporte, sonha em disputar os Jogos do Rio. Mas não sabe se vai conseguir.
Cidade olímpica? O choro dela diz que não.
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