terça-feira, 19 de março de 2013

Mirian Goldenberg

folha de são paulo

Uma questão de reconhecimento


Muitas mulheres afirmam que buscam ser excelentes profissionais e, apesar disso, são vítimas de indiferença, desrespeito e injustiças no trabalho.
Uma professora de 45 anos diz: "Nunca falto, preparo todas as aulas, sou atenciosa com os alunos, tento resolver os problemas dos colegas. No entanto, os alunos não me respeitam, os professores fazem fofocas e desqualificam o meu trabalho. Amo a minha profissão. Não reclamo nem da carga horária nem do salário. A minha maior frustração é não ser reconhecida".
As entrevistadas afirmam que fazem um trabalho interminável, desvalorizado e, muitas vezes, invisível. Dizem sofrer por se sentirem ignoradas, humilhadas e menosprezadas, dentro e fora de casa.
Uma enfermeira de 37 anos diz: "Acordo às cinco da manhã e trabalho o dia inteiro. Chego em casa e preparo uma comida gostosa. Meus filhos nem tocam no prato. Meu marido come vendo TV. No fim de semana, eu faço faxina e deixo a casa brilhando. Lavo e passo as roupas de todos. Não escuto um só agradecimento. Quando reclamo eles dizem que não faço mais do que a minha obrigação".
Para essas mulheres, a maior felicidade seria desfrutar de algum tipo de reconhecimento.
Uma fonoaudióloga de 40 anos conta: "Quando recebo um 'muito obrigado' do meu filho ou um elogio do marido eu me sinto a mulher mais feliz do mundo".
Uma professora de 52 anos relata: "Não tem nada que me faça mais feliz do que ouvir um elogio dos meus alunos. No dia dos professores, ganhei uma orquídea de uma aluna muito pobre. Confesso que eu chorei de emoção".
Quando pergunto "O que faria você mais feliz?", elas respondem: casa própria, filhos na faculdade, aumento de salário, viagens, carro novo, emagrecer dez quilos, fazer lipoaspiração, colocar silicone no peito etc.
Mas quando pergunto "Qual o momento mais feliz do seu dia?", as mulheres dizem: "Quando meu marido me abraça carinhosamente"; "Quando meus filhos dizem que sou a melhor mãe do mundo" ou "Quando meu chefe me elogia".
Pequenos gestos como um elogio ou um abraço são formas de satisfazer o desejo feminino por mais reconhecimento. São, também, uma maneira de retribuir o trabalho, o cuidado e a dedicação incansável de tantas mulheres que ainda se sentem invisíveis, dentro e fora de casa.
Mirian Goldenberg
Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record). Escreve às terças, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Equilíbrio".

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