ANÁLISE / VATICANO
É improvável que o novo papa decida fazer mudanças profundas em questões de moralidade pessoal e gênero
Basta combinar palavras-chave como "celibato", "aborto" e "pedofilia" com a expressão "fuga de fiéis" e "voilà", tem-se a fórmula para explicar o declínio supostamente inexorável do catolicismo.
Seria leviano dizer que essas coisas nada têm a ver com o encolhimento da igreja (e, no caso da pedofilia, uma completa insensibilidade com as vítimas desse horror).
Ao mesmo tempo, contudo, não parece claro que um clero católico casado, que inclua mulheres e se disponha a realizar matrimônios de divorciados ou gays (digamos), seja suficiente para trazer multidões de ovelhas desgarradas de volta ao rebanho.
A questão é que todas essas mudanças "modernizantes" foram adotadas pelas chamadas igrejas protestantes históricas, separadas de Roma há uns 500 anos -os anglicanos, calvinistas e luteranos, por exemplo.
Não adiantou grande coisa, ao menos se definirmos "adiantar" como "segurar os fiéis".
Para as igrejas cristãs, a situação é particularmente alarmante no norte da Europa: num arco que vai do Reino Unido à Finlândia, entre dois terços e três quartos da população afirma não acreditar em Deus (desses, um terço diz crer numa vaga "força cósmica maior") -embora, nominalmente, a maioria da população ainda batize os filhos como anglicanos ou luteranos.
No Brasil, nunca é demais lembrar que, junto com os evangélicos, a fatia demográfica que mais cresce é a dos sem religião.
É improvável que o novo papa decida fazer mudanças profundas em questões de moralidade pessoal e de gênero.
Caso escolha fazê-lo, no entanto, a última coisa a considerar é a sangria de fiéis católicos. Talvez seja melhor examinar se alterações desse tipo são, de fato, uma questão de justiça, de seguir o espírito do Evangelho que a igreja afirma defender -e esquecer o concurso de popularidade.
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