"A Menina Sem Qualidades" tem direção de Felipe Hirsch e estreia em maio
Com 12 episódios e cenas de sexo, programa é a primeira produção da MTV Brasil na área de dramaturgia
Recortadas da obra do alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) e transpostas para a passagem do séculos 20 para o 21, essas questões determinam a trajetória de Ana, uma garota de 16 anos, protagonista da série "A Menina sem Qualidades", que a MTV começa a exibir em maio. Quem interpreta Ana é a carioca Bianca Comparato, 27.
A série de 12 episódios adapta o romance homônimo escrito pela alemã Juli Zeh, 38, publicado no Brasil pela Record em 2009 mas hoje com edições esgotadas. Em São Paulo, é possível encontrar o livro em sebos.
Atrás das câmeras, quem conduz as filmagens é um diretor mais conhecido por suas peças teatrais: Felipe Hirsch, encenador de "A Vida É Cheia de Som e Fúria" (2000), "Não sobre o Amor" (2008) e "Avenida Dropsie" (2005).
A principal mudança na transposição da obra literária para a TV recai sobre o cenário. A obra original tem ao fundo um colégio particular em Bonn, cidade alemã cuja população fica em torno dos 320 mil habitantes.
Na adaptação assinada pelo próprio diretor em parceria com Renata Melo e Marcelo Backes, a história vem para a capital paulista. De resto, Hirsch busca manter com fidelidade as experiências da menina Ana -Ada no original. "Essa é daquelas adaptações que nos deixam tranquilos. Nem os autores mais exigentes poderiam reclamar", defende o diretor.
O conflito fundamental da protagonista está na identificação da aridez intelectual do ambiente em que se encontra. Ela se recusa a participar da hipocrisia perpetuada por instituições de ensino.
No Brasil, analisa Hirsch, e em especial em São Paulo, são muitos os colégios de classe média "que se assemelham" à escola que o livro retrata.
"Pensei inicialmente em filmar dentro de um colégio religioso, mas não quis que a moral religiosa fosse um fator determinante na vida desses garotos; eu queria um colégio de classe média alta, desses mais sem cara, onde é possível sentir a falsa liberdade com que a gente convive hoje em dia. Isso é algo muito típico", diz.
AUTODIDATISMO
A dissimulação de quem educa ampara o cinismo da personagem. Ana se apaixona por Alex, um estudante mais velho, manipulador. Ele a instiga a relacionar-se com um professor e, depois, passa a chantageá-lo.
Para Hirsch, a obra de Zeh mostra que "é o autodidatismo que estabelece quem terá mais ferramentas no futuro, mais instrumentos para lidar com as situações da vida, não é a escola". Ou seja: não se trata de mera proposta de entretenimento juvenil.
O seriado costura ainda cenas de teor sexual e outros temas tabus, como drogas, ao traçar o percurso pelo universo "underground" com que Ana se depara ao fugir do castelo de cristal onde seus colegas de escola vivem.
"A Menina sem Qualidades" terá quatro episódios por semana, ocupando a grade da emissora por pouco menos de um mês. Essa opção, diz Hirsch, foi longamente debatida dentro da emissora.
Rejeitado o formato de um capítulo por semana, com reprises,"optamos por um formato que permitisse um mergulho mais profundo, mesmo porque isso pode segurar mais o público jovem da MTV", avalia.
Segundo a diretora-geral da MTV, Helena Bagnoli, Hirsch teve carta branca para propor algo à emissora. Ele já havia dirigido, ali, o projeto "MTV ao Vivo - Tributo à Legião Urbana" (2012), que a diretora considerou como "um dos mais felizes da casa".
Também é a primeira vez que a MTV-Brasil produz um programa com dramaturgia. Foram gastos R$ 3 milhões na produção, em parceria com os Estúdios Quanta.
Atores com cara de novinhos tiveram mais chance em testes
DE SÃO PAULONove mil candidatos. Esse foi o número de atores que, diz a MTV, participaram dos testes para o elenco de "A Menina sem Qualidades", após anúncio que se espalhou pelo Facebook no ano passado. Quem tinha feições de adolescente saiu na frente.Por meio das audições conduzidas pelo diretor Felipe Hirsch, foram selecionados nomes como o de Rodrigo Pavon, 26, que já havia se destacado em São Paulo por seu trabalho com a companhia de teatro Club Noir.
Alguns dos protagonistas, no entanto, acabaram sendo garimpados fora dos testes. Ana, a protagonista, será interpretada por Bianca Comparato, filha do escritor Doc Comparato, que tem 27 anos e farta experiência em TV. Uma de suas últimas personagens foi Betânia, da novela "Avenida Brasil" (Globo).
Assim como Pavon, que já protagonizou no Club Noir uma adaptação de "Pinóquio", Bianca tem traços que permitem interpretar personagens bem mais jovens.
Antes de fechar o elenco, Hirsch ainda pescou outros egressos de espetáculos teatrais. Em 2010, Rodrigo Pandolfo, 28, esteve no elenco do musical "O Despertar da Primavera", musical com direção de Charles Möeller e Claudio Botelho, também no papel de alguém mais jovem.
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