Toda Roma tremia
RIO DE JANEIRO - Chega de papa! No último domingo, com gripe das brabas, não saí da cama e, para justificar o meu horror pelo mundo, fiz o que geralmente não faço: pererequei pela TV para saber se, afinal, embalsamaram o Chávez ou fizeram alguma coisa equivalente.
Vi cenas da Segunda Guerra Mundial, um discurso de Hitler contra os judeus, uma receita de pudim, um desenho animado do Pica-Pau, um papa pedindo que rezem por ele (não rezei) e um especialista explicando aquilo que ele chamava de "disfunção erétil".
Em outros tempos, procuraria extrair um sentido de tudo isso, mas seria inútil e só pioraria a minha gripe -que, naquele momento, a partir do "big bang" inicial, era o fato mais importante e transcendental do Universo. Desde que me tornei agnóstico profissional (desprezo os amadores que acabam numa dessas igrejas que recuperam maridos bêbados e trazem de volta amantes infiéis), descobri que nada faz sentido a partir da crença num Deus ou nos deuses que se oferecem no divertido mercado da fé.
O absurdo da condição humana e de todo o resto é a crença num ser onipotente e infinito. Numa cena da guerra, na floresta de Ardenas, vi um soldado engolir, por conta própria, uma granada de mão e explodir. Vi um papa pedir uma igreja pobre para os pobres. O Pica-Pau dirigiu uma fortaleza voadora e jogou uma bomba atômica numa das ilhas Papuas. Tomei um comprimido, a febre não baixou e dona Dilma mudou três ministros. O vizinho aqui do lado está ouvindo, no som máximo, uma ópera, "e avanti a lui tremava tutta Roma", Tosca acabou de assassinar o barão Scarpia.
Acreditando num Deus, Senhor do Universo, dos homens, animais e coisas, seria impossível (e inútil) extrair um sentido disso tudo. Sem Deus, tudo faz sentido, inclusive um papa argentino.
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