terça-feira, 19 de março de 2013

Nocaute natural

folha de são paulo

Dá para tratar insônia com plantas? Apesar de bons resultados em vários casos, médicos dizem faltar estudos e lembram: ervas também têm efeitos colaterais e causam dependência
MARCOS GOMESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAQuando passa por períodos de insônia, a dona de casa Simone Vereda, 42, recorre ao chá de folhas de maracujá ou à tintura de farmácia à base de maracujá que lhe foi receitada por um fitoterapeuta: "Faço chá bem forte ou diluo uma tampa da tintura em meio copo de água e tomo meia hora antes de ir para a cama. Funciona bem".
Já Paulo Vereda, 46, marido de Simone, diz não ter a mesma sorte. "Se não consigo dormir, as plantas medicinais não funcionam. Já tomei várias tampinhas de tintura de maracujá diluídas em água e nada de fazer efeito."
E é isso o que acontece: para certas pessoas as plantas medicinais funcionam, para outras, não.
DIAGNÓSTICO
Mas é possível tratar insônia com esses remédios? Médicos acham que não.
"A pessoa pode fazer uso de plantas medicinais por um período curto, mas para tratar a insônia é necessário fazer um diagnóstico, pois pode ser sintoma de doença, como depressão, ou resultar de mau condicionamento", diz Rosa Hasan, neurologista do Grupo de Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
"O problema das plantas medicinais é a falta de estudos confiáveis. Esses estudos passam por várias fases e abrangem amostras amplas, o que os torna muito caros", afirma a médica.
"Dessas plantas todas [usadas para combater a insônia], só tomei conhecimento de estudos comprovando algum efeito na valeriana", diz Hasan.
E a neurologista adverte: "Não é para usar esse tratamento o tempo todo porque as plantas também causam dependência e tolerância e têm efeitos colaterais como os outros remédios".
DOCES E 'CASCUDAS'
José Garbin, clínico geral que trabalha em um retiro adventista em Itapecerica da Serra (SP) e é adepto da fitoterapia, também ressalta a importância do diagnóstico e da conversa com o paciente.
No caso de pacientes com dificuldades para pegar no sono, Garbin afirma que tem alcançado bons resultados com o uso, por curtos períodos de tempo, de plantas medicinais como lúpulo, valeriana, maracujá e capim-limão. "Mas a alimentação também é importante: a falta de magnésio é um dos fatores que pode causar insônia", diz Garbin, que recomenda aos insones o consumo de folhas verdes no jantar.
Já a fitoterapeuta Luciane Couto, que mora e trabalha em Parati (RJ), diz que indica a planta dependendo do biótipo da pessoa: "Pessoas doces se dão melhor com chá de melissa; para pessoas mais 'cascudas', recomendo mulungu, feito de cascas, ou valeriana, feita de raízes."

    PLANTAS
    VALERIANA
    (Valeriana officinalis)
    São usadas as raízes. Entre seus princípios ativos estão os valepotriatos, que aumentam as concentrações do ácido gama-aminobutírico, neurotransmissor que inibe a atividade cerebral causando relaxamento. É tóxica em altas doses e em uso contínuo, alerta Sylvio Panizza, em seu livro "Plantas que Curam: Cheiro de Mato" (São Paulo, Ibrasa, 1998).
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    LÚPULO
    (Humulus lupulus)
    É parente da maconha, mas não tem THC (o princípio psicoativo). Na planta, que é usada no preparo da cerveja, foram isoladas mais de 300 substâncias, destacando-se óleo volátil e resinas, como a lupulona. É indicada como calmante, mas faltam estudos que expliquem seu funcionamento.
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    CAPIM-LIMÃO
    (Cymbopogon citratus)
    São usadas as folhas. Embora faltem estudos científicos sobre seus componentes químicos, sabe-se que essa planta é desprovida de ação tóxica. Porém, microfragmentos das suas folhas, no chá, podem causar irritação na boca e nas mucosas.
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    MARACUJÁ
    (Passiflora edulis e Passiflora incarnata)
    São usadas as folhas. Segundo Harry Lorenzi e Abreu Matos ("Plantas Medicinais no Brasil", Instituto Plantarum, 2002), o efeito calmante do maracujá se deve principalmente a um alcaloide chamado passiflorina e a um flavonoide chamado crisina. As folhas da planta também possuem uma molécula que ao ser quebrada pela água se transforma em substância tóxica (ácido cianídrico).
    Por isso é recomendada a fervura demorada do chá.
    Doses altas de passiflora e tratamento repetido por largos períodos são desaconselhados por especialistas.
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    ERVA-CIDREIRA
    (Melissa officinalis)
    São usadas as folhas. A planta é tradicionalmente indicada como calmante em casos de ansiedade e insônia. Contém citronelol, limoneno, linalol, geraniol, triterpenoides, flavonoides, resinas, substâncias amargas e óleo essencial. Também faltam estudos sobre a ação da melissa no sistema nervoso.
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    MULUNGU
    (Eythrina mulungu)
    São usadas as cascas. Tradicionalmente empregada para combater ansiedade e insônia. Possui várias classes de alcaloides, inclusive de ação hipotensora, mas faltam pesquisas demonstrando sua ação no sistema nervoso.

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