Diante dos conflitos geradas pela
antecipação eleitoral, muita gente do ramo se pergunta: que vantagem
levará Maria, ou melhor, Dilma?
Estado de Minas: 03/03/2013
O fim de semana foi
de novo impulso à antecipação eleitoral, com o PMDB reiterando em
convenção sua aliança com o PT para reeleger a presidente Dilma. Mas
apesar dos afagos dela e das juras dos cardeais, os conflitos e tensões
latentes só aumentaram desde o tiro de largada do último dia 20. Tudo o
que se passou depois reforça uma pergunta: com a antecipação, que
vantagem levará Maria, ou melhor, Dilma?
A pedido do
vice-presidente Michel Temer, ela adiou para depois da convenção deste
fim de semana a esperada reforma ministerial. Mas agora o PMDB passará a
dizer, com mais desenvoltura, que está subrepresentado no Governo,
tendo cinco ministérios contra 14 do PT. Eleitoralizada a conjuntura,
passará a buscar na montagem dos palanques estaduais, embora saindo em
desvantagem no Rio, onde o PT lançou a candidatura do senador Lindbergh
Farias ao governo, contra a do vice-governador Pezão, gestada pelo
governador Sérgio Cabral.
Relativamente à representação no
ministério, um dos cardeais avisa: não venham com o argumento de que o
PMDB já têm as presidências das duas Casas do Congresso. A do Senado
decorre do fato de o partido ter a maior bancada. Na Câmara, a bancada
peemedebista hoje é a segunda, mas era a primeira quando foi firmado o
acordo de revezamento com o PT. As ambições ou frustrações peemedebistas
já existiam, mas o momento agora favorece a apresentação das faturas. O
PSB ameaça deixar a coalizão dilmista e alguns dos partidos menores
estão sendo cortejados pelos tucanos. Já tendo conquistado o comando das
duas casas legislativas com apoio do PT e assegurado a Temer a vaga de
vice em 2014, o objetivo agora é, no dizer de um prócer, "equilibrar a
representação" no ministério. Dilma foi ao jantar com que Temer
homenageou Sarney, inaugurou o novo museu do Rio com Eduardo Paes e a
fábrica de submarinos com Cabral, chamou Pezão de "meu querido" e foi
ontem à convenção. Mas de ministério, continua evitando falar. Quando
alguém aborda o assunto, ela franze a testa e dispara a falar de outra
coisa.
Agora o PMDB quer tratar do assunto com franqueza. A
prometida nomeação do paulista Gabriel Chalita vai sair ou foi
descartada, como assopram do Palácio? E o ministério para os mineiros,
como ficará? Para equilibrar a representação, dirão eles, isso não
basta.
Proveta, não
Num
sinal de que a desconfiança persiste, apesar do clima aparente de paz e
amor, o PMDB aprovou uma moção estabelecendo que, para ocupar cargo
público representando o PMDB, o indicado precisa ter pelo menos seis
meses de filiação.
Isso é vacina, para evitar que Dilma tente
usar o partido como barriga de aluguel para ministros seus, com carimbo
do partido. Recentemente, houve um movimento para filiar Josué Gomes da
Silva, filho do falecido vice-presidente José Alencar, que em seguida
seria nomeado para um ministério da cota do partido.
Guerras regionais
Dilma
verá também se multiplicarem, faltando tanto tempo para o início da
campanha, conflitos como o do Rio, entre petistas e peemedebistas. A
"candidata energética", como se definiu, gastará energia administrando
estas guerras, tarefa que pode também ficar com Lula. Ao governador
Cabral, o ex-presidente praticamente disse para se conformar com os dois
palanques pró-Dilma, recusando polidamente o pedido para obter a
desistência de Lindbergh. Tendo o apoio de dois palanques, na campanha
ela iria aos dois, não favorecendo nenhum, disse Lula. Mas na prática,
todo mundo sabe que isso não acontece. Não aconteceu em 2010, por
exemplo.
Já tendo problemas com o PSB, o PDT e o PR, ao acelerar
a campanha Dilma abriu também a tampa da panela em que o PMDB cozinhava
suas insatisfações e pretensões. Por isso muita gente do ramo se
pergunta: o que ela ganhou com isso?
Por ora, desentocou um
adversário. O tucano Aécio Neves acirrou os conflitos com o PSB e
despertou o instinto de auto-valorização do PMDB. Na economia e na
administração, todas as medidas enfrentarão questionamentos sobre
eventual caráter "eleitoreiro", reforçando a desconfiança que as
manobras contábeis do ano passado suscitaram nos agentes econômicos. Se a
antecipação não tiver uma forte razão ainda desconhecida, terá
contrariado velho consenso político sobre os governos de quatro anos: o
primeiro é para arrumar a casa, o segundo é para planejar e dar início
aos projetos mais arrojados e o terceiro para executá-los. O quarto será
ano de campanha e de inaugurações, enquanto a lei deixar.
Judicialização
O
script da semana legislativa já está pronto. São de 100% as chances de o
Congresso derrubar na terça-feira, pela força das bancadas dos estados
não-produtores de petróleo, os vetos da presidente Dilma Rousseff que
garantiram maior quinhão aos estados produtores. Publicada a lei, o
governador do Rio, Sérgio Cabral, entrará no STF com a ação direta de
inconstitucionalidade, que já foi preparada pelo jurista Luiz Roberto
Barroso. Mais uma vez, uma decisão legislativa será judicializada,
abrindo espaço para a arbitragem do STF.
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