Vilhena Soares
Estado de Minas: 19/05/2013
Brasília – Um resultado de exame de sangue em cinco minutos. É o que fornece o For a better world, aparelho criado pela portuguesa Ana Ferraz, estudante da Universidade do Minho. A invenção é portátil, mais rápida e mais simples do que métodos tradicionais realizados na área médica, prometendo facilitar diagnósticos, agilizar transfusões e reduzir o risco de erros humanos na realização dos testes. Com tantas qualidades, o aparelho, cujo nome pode ser traduzido como Por um mundo melhor, acabou premiado em um concurso organizado pela Microsoft.
Ana Ferraz, de 24 anos, é aluna de doutorado em engenharia eletrônica e teve a ideia de criar o aparelho após ter estudado o teste de sangue feito em lâminas durante uma das disciplinas da licenciatura em informática da saúde. A vontade de produzir o projeto acompanhou a pesquisadora durante todo o mestrado e só ganhou forma agora. A inventora pediu ajuda para um de seus professores, que aceitou o desafio e a auxiliou a produzir um protótipo.
O equipamento tem pequenos poços onde são colocadas uma gota de sangue e uma de um dos quatros reagentes, líquidos com anticorpos que sinalizam os antígenos presentes no material. É por meio dos antígenos que se determina o tipo sanguíneo. Por exemplo, se o reagente anti- A se manifesta na gota, significa que o sangue é do tipo A, e assim por diante.
Depois de colocar o sangue e um dos reagentes em cada um dos poços, os pequenos compartimentos são fechados e um motor aciona o equipamento, que promove a mistura das substâncias. Em seguida, as tampas são retiradas e uma imagem do resultado é captada por uma webcam acoplada à parte superior do aparelho e processada. Por fim, usando um aplicativo desenvolvido em Windows 8, é possível enviar o resultado para o laboratório de análises clínicas por e-mail. Além do tipo sanguíneo, a invenção é capaz de detectar algumas doenças como pneumonia, sífilis e malária por meio de outra aplicação informática do aparelho, que também envia as informações automaticamente aos hospitais.
Emergência A autora do projeto aponta como maiores vantagens a portabilidade da máquina e a rapidez do resultado, que poderia ser muito útil em atendimentos de emergência, como a vítimas de desastres naturais. “Acredito também que o sistema pode ser desenvolvido a custo baixo, sendo facilmente adquirido por países em desenvolvimentos. A aplicação estará disponível em qualquer dispositivo móvel e portátil, como tablets e até telefones, o que torna a portabilidade ainda maior”, diz. Depois de ver a ideia vencer a etapa portuguesa da Imagine Cup, competição tecnológica internacional dirigida a estudantes universitários, Ferraz pretende realizar melhorias para a fase mundial do concurso, que ocorrerá em julho, em São Petesburgo, na Rússia. Uma das ideias é produzir tampas transparentes para os poços, permitindo que todo o processo seja visível para o usuário.
Na opinião do hematologista brasileiro Sandro Melim, For a better world é bastante promissor, mas não elimina algumas etapas obrigatórias no atendimento médico. “Quando uma pessoa precisa receber uma transfusão de sangue, diversos outros exames são feitos para que possamos realizar esse procedimento. Por mais que tenhamos certeza do tipo sanguíneo, precisamos dessas etapas, já que uma falha nesse procedimento poderia ser fatal”, explica. “Apesar de esse aparelho ser muito bom pela rapidez, ele não vai reduzir esses outros processos, regulamentados por órgãos especializados, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, detalha.
O especialista, contudo, vislumbra situações em que o aparelho poderia ser muito útil. “Com uma tecnologia como essa, caso houvesse uma rede que passasse as informações entre o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os hospitais de uma cidade, poderíamos melhorar o atendimento dos pacientes, que seria iniciado já no transporte”, comenta. “Novidades como essa sempre são positivas, porque ajudam no cotidiano de um laboratório em procedimentos padrões. Atualmente, sempre primamos pela rapidez, inclusive na medicina, mas precisamos ter cuidado, porque não adianta ter velocidade se não existe confiabilidade”, completa Melim.
Jovens engajados
A Imagine Cup é a maior competição internacional de tecnologia promovida pela Microsoft com fins sociais. A iniciativa pretende encorajar e estimular os mais jovens a refletirem sobre como a tecnologia pode ajudar a dar respostas a problemas concretos da humanidade, nas suas diferentes esferas: saúde, educação e ambiente, entre outros. A competição mobiliza cerca de 350 mil jovens em todo o mundo, envolvendo mais de 100 países na apresentação de projetos tecnológicos inovadores.
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