Festival de Cultura Brasileira na Itália será aberto quarta-feira, em Roma, pela organista Elisa Freixo
Sérgio Rodrigo Reis
Estado de MInas: 19/05/2013
Quando foi convidada, no início do ano, para abrir em 22 deste mês o Festival de Cultura Brasileira na Itália, Roma, a organista Elisa Freixo sabia que teria um desafio pela frente. Mesmo com larga experiência na área, como não pôde ensaiar no instrumento em que tocará, ela não sabe exatamente o que encontrará. “Um órgão é sempre um evento único. Guardadas as devidas proporções, o som que ele gera é uma surpresa. De acordo com a forma de construção, emite mais ou menos volume e isso define a sonoridade do instrumento. Tenho que estar preparada e aberta para me adequar às situações. Os organistas vivem essa expectativa permanentemente”, explica.
A organista terá que enfrentar também a exigente plateia europeia do evento, uma realização da Embaixada do Brasil em Roma e da Casa Fiat de Cultura. Para o recital na Sant’Agnese in Agone, igreja barroca do século 17 integrante do conjunto do prédio da Embaixada na Piazza Navona, preparou programa mesclando repertório brasileiro e italiano. “O programa é bem variado, primeiramente, pelos órgãos disponíveis. Tocarei em dois, um italiano histórico, outro alemão do século 20. O mais difícil foi escolher as composições, porque não conheço os instrumentos. Deu um trabalho enorme”, confessa.
Não será a primeira vez que Elisa Freixo tocará na Itália. Há alguns anos, esteve em situação parecida, quando se apresentou em Gênova, num órgão romântico. A artista, radicada em Minas desde 1988, divide-se atualmente entre São Paulo e as atividades em cidades como Mariana, São João del-Rei e Tiradentes. Como está sempre passando por vários lugares, já se considera cidadã do mundo. “Ampliei meu foco de visão e me tornei uma pessoa internacional.” A experiência tem lhe dado segurança para assumir outros projetos. Mas há coisas das quais não abre mão. “Vou três dias antes para a Itália. Já marquei os horários de estudo na igreja e estou disposta a me adequar ao instrumento”, avisa.
No concerto, a organista – que acaba de lançar disco gravado em Waltersdorf, Alemanha, com música ibero-americana dos séculos 17 e 18 – executará, no órgão italiano, peças como Toccata, Allegro e Folias, de compositores anônimos do século 18, e Tiento partido de VI tono, de Joseph de Torres. Já no instrumento alemão interpretará Preludio e Fuga em sol menor, de Johannes Brahms, e Andante com variações, de Felix Mendelssohn. Os órgãos guardam particularidades. O italiano se caracteriza como “positivo” – por não ter pedais e contar com poucos registos (nome dado às configurações do órgão, para que se obtenha timbre específico). Já o alemão conta com dois teclados e pedais, além de tubos feitos de estanho.
Muito barulho, resultado efêmero Publicação: 19/05/2013 04:00 O Festival de Cultura Brasileira na Itália, que além de Elisa Freixo terá diversas atrações, caso da exposição do artista plástico Ernesto Neto (dia 28), é exemplo de um tipo de evento que, nos últimos anos, tem sido uma das principais ações de divulgação do Brasil no exterior. Já foi promovido o Ano do Brasil na França (2009); houve homenagem ao país na Europalia, na Bélgica (2011). Atualmente, está na reta final o Ano do Brasil em Portugal e acaba de se iniciar a agenda do Ano do Brasil na Alemanha. A fórmula tem sido quase sempre a mesma: artistas conhecidos e emergentes vão aos países para tentar ampliar plateias e difundir a cultura local. Por mais impacto que as atividades provoquem instantaneamente, como não há continuidade, a maioria delas não tem conseguido perpetuar os efeitos no tempo. O presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, é entusiasta desse tipo de projeto. Há três anos, é um dos que estão à frente do Festival de Cultura Brasileira na Itália. Para ele, o que realmente fica, depois do término das programações, é a imagem de um Brasil que se afasta, dramaticamente, do estereótipo comumente transmitido ao exterior. “O público externo passa a ter conhecimento de outros Brasis, culturalmente ricos e diversificados. A arte aqui produzida, afinal, é expressão – vívida – de nossa cultura multifacetada, assim como de nossa permanente disposição à experimentação estética”, avalia. Além disso, ele vê como imprescindível a troca de experiências artísticas e culturais entre as nações. “Para o público, tal intercâmbio significa a ampliação do acesso a ações e expressões distantes de seu cotidiano de apreciação.” Já o diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura, Antônio Alves Jr., tem outra visão do resultado desses eventos. Ele afirma que “o objetivo dessas ações é deixar uma imagem positiva do Brasil e de sua cultura que perdure, e isso tem sido alcançado pela variedade e qualidade desses eventos”. ANáLISE DA NOTíCIA » Ainda falta continuidade O Ano do Brasil na França levou desde exposições de artistas plásticos a desfiles de escolas de samba cariocas a Paris. O barulho foi grande e, como não ocorreram mais ações do tipo, hoje pouco se fala dos desdobramentos daquele evento e da produção artística brasileira. Na Bélgica, a Europalia ocupou vários espaços, inclusive foi criado centro cultural exclusivamente para as tradições e apresentações do país, que funcionou muito bem durante o evento. Em Portugal, atualmente, foi feito algo semelhante em Lisboa, com o Espaço Brasil. O Ano do Brasil na Alemanha também quer fazer barulho. Mas a palavra continuidade ainda não é recorrente nos discursos governamentais. Melhor seriam ações pequenas e constantes. (SRR) |
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