Intestino tem papel fundamental no
organismo: absorve tudo o que ingerimos. O câncer é um dos seus inimigos
e a prevenção, a principal arma contra o mal
Luciane Evans
Estado de Minas: 19/05/2013
Por ano, cada brasileiro
que come carne ingere 25 quilos da vermelha, consome 12 quilos de pão
francês e pouco mais de quatro quilos de pescados. Nosso estômago
processa anualmente 20 quilos de açúcares, doces e produtos de
confeitaria. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feita em 2008 e
2009 e refletem a árdua tarefa que o intestino tem diariamente: sobra
para esse órgão absorver tudo o que comemos. É aí que a alimentação rica
em gordura, em carnes vermelhas e açúcar pode ser gatilho para uma
doença silenciosa que tem aumentado a cada ano no país: o câncer de
intestino.
Somente para 2012, o Instituto Nacional do Câncer
(Inca) estimou que 30 mil novos casos da doença seriam diagnosticados no
Brasil. Para Minas Gerais, o câncer do cólon e do reto, chamado de
colorretal, a estimativa era de 2,7 mil novos casos. Para São Paulo,
10,9 mil. O mal é, segundo números do Inca, o terceiro câncer mais
incidente em brasileiros, ficando atrás do câncer de pulmão e próstata
no público masculino, e de mama e colo do útero na população feminina.
No entanto, a mortalidade por causa da enfermidade é maior. Em 2010,
13,3 mil pessoas morreram vítimas do câncer colorretal, número maior do
que as mortes ocasionadas pelo câncer de mama (12.852) e de próstata
(12.778), no mesmo ano, no país.
Apesar da mortalidade e da alta
incidência, o câncer no intestino tem uma particularidade em relação aos
demais. De acordo com a coloproctologista Sinara Leite, vice-presidente
da Sociedade Mineira de Coloproctologia e professora da Faculdade de
Ciências Médicas de Minas Gerais, uma pessoa pode passar a vida inteira
usando protetor solar e ter câncer de pele, por exemplo. “Já o câncer do
intestino é passível de prevenção”, compara. Isso porque, segundo ela,
antes de aparecer tumor no reto ou no cólon, surgem os pólipos, uma
espécie de verruga que se aloja no tecido do intestino. “Eles surgem
como benignos e, se não retirados, crescem chegam a até 40 milímetros e
se transformam em um tumor maligno”, diz.
Os pólipos surgem
diante da alteração nos genes das células do tecido do intestino grosso.
Silenciosos, eles não se manifestam por, pelo menos, 10 anos. “Quando a
pessoa chega a ter os sintomas, como cólicas abdominais, sangramento ou
alteração das fezes, em 75% dos casos a doença já está avançada.”
Por
essa razão Angelita Habr Gama, diretora da Associação Brasileira de
Prevenção do Câncer do Intestino e professora da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP), diz que o mal é “camarada”. “A
prevenção é o caminho mais certo e seguro”, aconselha. Ela lembra que os
tumores malignos estão instalados do lado direito do cólon. “O primeiro
sintoma é a pessoa se sentir cansada e ter anemia. Ela vai perdendo
sangue e não percebe, pois está oculto nas fezes. Um adulto que começa a
emagrecer muito, sem estar fazendo dieta, deve ficar alerta.”
Quando
do lado esquerdo, o diagnóstico pode ser mais fácil, já que o sangue
não fica oculto. “Ao ir ao banheiro a pessoa vai perceber. O problema é
que, muitas vezes, os pacientes confundem com hemorroidas e não dão
importância”, esclarece. Quando o tumor está no reto há sangramento
visível, a pessoa vai muitas vezes ao banheiro, mas evacua um pouco de
cada vez. “Quando está do lado esquerdo do cólon, quando o tumor cresce,
há dificuldade de evacuar. Há quem fique cinco dias sem ir ao banheiro.
É um sinal de estágio avançado da doença.”
EXAMES PREVENTIVOS
Se a doença é identificada precocemente, a chance é de 80% de cura. A
doença pode surgir em qualquer idade, mas, de acordo com os
especialistas, pessoas com casos na família (parentes de primeiro grau)
têm risco seis vezes maior. Recomenda-se que a partir dos 30 anos se
faça o exame de sangue oculto nas fezes. “A partir dos 40, é bom fazer
um exame proctológico, que deve ser repetido a cada cinco anos. Depois
dos 50 anos, o indicado é a colonoscopia”, comenta Sinara. Para
Angelita, a má alimentação pode ser o gatilho para a alta incidência da
enfermidade no Brasil. “A alimentação infantil é a que merece ser
modificada. Nossas crianças estão usando alimentos industrializados,
muitos doces e comidas gordurosas.” Sinara avisa que a falta de fibras,
excesso de carne vermelha, tabagismo e sedentarismo podem favorecer os
pólipos.
MUTIRÃO
Para incentivar a
prevenção do câncer colorretal, até o dia 28, uma equipe médica do
Hospital Madre Teresa (HMT), em Belo Horizonte, atenderá pacientes com
convênios aceitos no hospital em horários extras. A campanha, segundo
explica a chefe do Serviço de Coloproctologia do HMT, Hilma Nogueira da
Gama, é uma espécie de checape. "O paciente agenda conosco um horário,
que pode ser das 18h às 21h. Vai passar primeiro pelo coloproctologista,
que vai examinar o reto. Se necessário, será encaminhado para a
colonoscopia", explica. Por convênio ou atendimento particular, em BH,
esse tipo de consulta tem demorado, em média, cerca de dois meses. Pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), passa dos seis meses. "Enquanto isso, a
incidência desse tipo de câncer tem aumentado", lamenta Hilma.
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