Elio Gaspari
Eike Batista é um dos homens mais ricos do Brasil, símbolo de um novo tipo de empreendedor audacioso. Tem projetos de portos, mineradoras e empresas de energia. Nesse modo, onde os negócios e seus desempenhos são medidos diariamente pelo mercado, as ações da sua OGX, lançadas a R$ 12, valiam na semana passada R$ 1,70. Noutro modo, ele se relaciona com o patrimônio da Viúva. Nele, é um sucesso. Há poucas semanas, associado à empreiteira Odebrecht, conquistou a concessão do estádio do Maracanã. Pelo andar da carruagem, na primeira semana de junho, poderá obter do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional uma licença para erguer um centro de convenções no aterro do Flamengo, onde fica a Marina da Glória. Fechada a operação, o Hotel Glória, que é de Batista, mas irá ao mercado, ganha um anexo.
No dia 4 de junho, reúne-se em Brasília a Câmara Técnica do Iphan que julgará a conveniência da construção, no parque, de um auditório de 900 lugares, com 50 lojas e 600 vagas para automóveis. No dia seguinte o Conselho Consultivo da instituição dará a última palavra a respeito do assunto.
Trata-se de autorizar uma edificação numa área tombada pelo próprio Iphan, onde não podem ser acrescentados equipamentos urbanos estranhos ao projeto original do arquiteto Affonso Reidy. Nele não há centro de convenções.
No modo governo, Batista é poderoso. Anunciou que tinha um projeto arquitetônico para a marina, mas não exibiu documentação que justificasse esse nome. Em seguida informou que trocaria o riscado, chamando um concurso internacional. O que fez não justifica essa designação. Finalmente, em março circulou a informação segundo a qual o Iphan autorizara o projeto. Falso. A presidente da instituição, Jurema Machado, reclamou da precipitação, argumentando que ela prejudicava sua imagem. Tudo bem, mas em pelo menos uma ocasião, em fevereiro, na presença do prefeito Eduardo Paes, o secretário do Patrimônio Cultural do Rio, Washington Fajardo, disse que "o Iphan aprovou" o projeto do arquiteto Índio da Costa.
Eike Batista foi um discreto doador nas campanhas de Paes e do governador Sérgio Cabral. A ambos já deu o conforto de seus jatinhos. (No caso de Cabral, permitindo-lhe mobilidade durante um feriadão.) Esse estilo, que se mostrou insuficiente para assegurar a simpatia do mercado, mostrou-se persistente nas tratativas com governos encarregados de preservar o patrimônio da Viúva. Nunca é demais repetir o que disse em 1964 Lota de Macedo Soares, a quem o Brasil deve o parque, quando pediu proteção e respeito ao projeto original do aterro:
"Pelo seu tombamento, o parque do Flamengo ficará protegido da ganância que suscita uma área de inestimável valor financeiro, e da extrema leviandade dos poderes públicos quando se trata da complementação ou permanência de planos".
É a seguinte a composição da Câmara Técnica do Iphan que julgará o projeto:
Rosina Coeli Alice Parchen, Marcos de Azambuja, Italo Campofiorito, Nestor Reis Filho e José Liberal de Castro.
E é a seguinte a composição do conselho consultivo:
Os cinco integrantes da Câmara Técnica, mais a presidente do Iphan, Jurema Machado e, como representantes do governo:
Antônio Menezes Junior, Eliezer Moreira Pacheco, Cícero Antônio Fonseca de Almeida, Carla Maria Casara e Gilson Rambelli.
Como representantes da sociedade civil: Angela Gutierrez, Arno Wehling, Breno de Almeida Neves, Luiz Phelipe Andrés, Marcos Vinicios Vilaça, Maria Cecília Londres, Myriam Andrade Ribeiro, Synésio Scofano Fernandes e Ulpiano Bezerra de Menezes.
ÓTIMA NOTÍCIA
A prefeitura de São Paulo exigirá que seus 135 mil funcionários ativos informem seus patrimônios.
Trata-se de uma medida que beneficiará os servidores do município, jogando luz sobre aqueles que cuidam dos próprios bolsos. A análise de uma amostra com cerca de 60% desse universo informou a seguinte gracinha:
Há 813 servidores com patrimônios imobiliários que valem trinta vezes os rendimentos que receberam da Viúva nos últimos dez anos.
Outros 858 acumularam patrimônios 35 a 50 vezes maiores que o total de seus rendimentos.
Sessenta bateram a marca das cem vezes e, no cercadinho VIP, ficam cinco gênios financeiros. Eles amealharam, só em imóveis, o equivalente a 576 vezes o que receberam.
BOA VIAGEM
Desde o último dia 12 o governo americano acabou com aquelas malditas fichas labirínticas que as pessoas eram obrigadas a preencher antes de chegar aos seus aeroportos.
Bastava um dado incompleto ou escrito fora da linha e a vítima era obrigada a enfrentar o mau humor dos agentes da imigração.
MALA
Numa estimativa de quem sabe fazer esse tipo de conta, na mala que fortalecia as opiniões dos adversários do projeto original da Medida Provisória dos Portos havia pelo menos R$ 200 milhões. Talvez mais, nunca menos.
FISSURA
Não são mais as mesmas as relações do vice-presidente Michel Temer com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha.
Mais precisamente, elas mudaram na semana passada.
DAN BROWN, FLORENÇA, VENEZA E DANTE
Está nas livrarias (e na rede) "Inferno", de Dan Brown, o feiticeiro que escreveu o "Código Da Vinci". Sua leitura é um prazer. Fica mais próximo das qualidades de seu grande sucesso, que teve 80 milhões de exemplares vendidos, do que de "Símbolo Perdido", com seu cenário chumbrega de Washington. Também, pudera, desta vez o professor Robert Langdon está numa trama que começa em Florença, vai para Veneza e termina em Istambul. Isso e mais um mistério amarrado na Divina Comédia e na vida de Dante Alighieri. Como sempre, tudo acontece em apenas um dia, com enigmas, perseguições e simbologia medieval.
"Inferno" é um passeio pelo paraíso das cidades do Renascimento. Muita gente já foi a Florença e não experimentou o prazer da correria de Langdon do Jardim de Boboli ao grande salão do Palazzo Vecchio. Sua descrição das obras de arte é de quem sabe olhá-las. Com jeito de quem não quer nada, Brown lembra que as três grandes esculturas contempladas in loco pelos turistas são cópias. (O David de Michelangelo, as Portas do Paraíso do Batistério de Florença e os cavalos de bronze do alto da basílica de Veneza.)
Brown é um mágico da narrativa. Lê-se o livro pensando no filme que poderá sair dele. Noves fora uma punk de cabelo espetado chupada de Stieg Larsson, que ele botou na narrativa e depois ficou sem saber o que faria com ela, o quebra-cabeças é apaixonante.
Eike Batista busca mais uma vitória
O empresário opera em dois modos: no modo mercado, vai mal; no modo governo, é um vitorioso
No dia 4 de junho, reúne-se em Brasília a Câmara Técnica do Iphan que julgará a conveniência da construção, no parque, de um auditório de 900 lugares, com 50 lojas e 600 vagas para automóveis. No dia seguinte o Conselho Consultivo da instituição dará a última palavra a respeito do assunto.
Trata-se de autorizar uma edificação numa área tombada pelo próprio Iphan, onde não podem ser acrescentados equipamentos urbanos estranhos ao projeto original do arquiteto Affonso Reidy. Nele não há centro de convenções.
No modo governo, Batista é poderoso. Anunciou que tinha um projeto arquitetônico para a marina, mas não exibiu documentação que justificasse esse nome. Em seguida informou que trocaria o riscado, chamando um concurso internacional. O que fez não justifica essa designação. Finalmente, em março circulou a informação segundo a qual o Iphan autorizara o projeto. Falso. A presidente da instituição, Jurema Machado, reclamou da precipitação, argumentando que ela prejudicava sua imagem. Tudo bem, mas em pelo menos uma ocasião, em fevereiro, na presença do prefeito Eduardo Paes, o secretário do Patrimônio Cultural do Rio, Washington Fajardo, disse que "o Iphan aprovou" o projeto do arquiteto Índio da Costa.
Eike Batista foi um discreto doador nas campanhas de Paes e do governador Sérgio Cabral. A ambos já deu o conforto de seus jatinhos. (No caso de Cabral, permitindo-lhe mobilidade durante um feriadão.) Esse estilo, que se mostrou insuficiente para assegurar a simpatia do mercado, mostrou-se persistente nas tratativas com governos encarregados de preservar o patrimônio da Viúva. Nunca é demais repetir o que disse em 1964 Lota de Macedo Soares, a quem o Brasil deve o parque, quando pediu proteção e respeito ao projeto original do aterro:
"Pelo seu tombamento, o parque do Flamengo ficará protegido da ganância que suscita uma área de inestimável valor financeiro, e da extrema leviandade dos poderes públicos quando se trata da complementação ou permanência de planos".
É a seguinte a composição da Câmara Técnica do Iphan que julgará o projeto:
Rosina Coeli Alice Parchen, Marcos de Azambuja, Italo Campofiorito, Nestor Reis Filho e José Liberal de Castro.
E é a seguinte a composição do conselho consultivo:
Os cinco integrantes da Câmara Técnica, mais a presidente do Iphan, Jurema Machado e, como representantes do governo:
Antônio Menezes Junior, Eliezer Moreira Pacheco, Cícero Antônio Fonseca de Almeida, Carla Maria Casara e Gilson Rambelli.
Como representantes da sociedade civil: Angela Gutierrez, Arno Wehling, Breno de Almeida Neves, Luiz Phelipe Andrés, Marcos Vinicios Vilaça, Maria Cecília Londres, Myriam Andrade Ribeiro, Synésio Scofano Fernandes e Ulpiano Bezerra de Menezes.
ÓTIMA NOTÍCIA
A prefeitura de São Paulo exigirá que seus 135 mil funcionários ativos informem seus patrimônios.
Trata-se de uma medida que beneficiará os servidores do município, jogando luz sobre aqueles que cuidam dos próprios bolsos. A análise de uma amostra com cerca de 60% desse universo informou a seguinte gracinha:
Há 813 servidores com patrimônios imobiliários que valem trinta vezes os rendimentos que receberam da Viúva nos últimos dez anos.
Outros 858 acumularam patrimônios 35 a 50 vezes maiores que o total de seus rendimentos.
Sessenta bateram a marca das cem vezes e, no cercadinho VIP, ficam cinco gênios financeiros. Eles amealharam, só em imóveis, o equivalente a 576 vezes o que receberam.
BOA VIAGEM
Desde o último dia 12 o governo americano acabou com aquelas malditas fichas labirínticas que as pessoas eram obrigadas a preencher antes de chegar aos seus aeroportos.
Bastava um dado incompleto ou escrito fora da linha e a vítima era obrigada a enfrentar o mau humor dos agentes da imigração.
MALA
Numa estimativa de quem sabe fazer esse tipo de conta, na mala que fortalecia as opiniões dos adversários do projeto original da Medida Provisória dos Portos havia pelo menos R$ 200 milhões. Talvez mais, nunca menos.
FISSURA
Não são mais as mesmas as relações do vice-presidente Michel Temer com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha.
Mais precisamente, elas mudaram na semana passada.
DAN BROWN, FLORENÇA, VENEZA E DANTE
Está nas livrarias (e na rede) "Inferno", de Dan Brown, o feiticeiro que escreveu o "Código Da Vinci". Sua leitura é um prazer. Fica mais próximo das qualidades de seu grande sucesso, que teve 80 milhões de exemplares vendidos, do que de "Símbolo Perdido", com seu cenário chumbrega de Washington. Também, pudera, desta vez o professor Robert Langdon está numa trama que começa em Florença, vai para Veneza e termina em Istambul. Isso e mais um mistério amarrado na Divina Comédia e na vida de Dante Alighieri. Como sempre, tudo acontece em apenas um dia, com enigmas, perseguições e simbologia medieval.
"Inferno" é um passeio pelo paraíso das cidades do Renascimento. Muita gente já foi a Florença e não experimentou o prazer da correria de Langdon do Jardim de Boboli ao grande salão do Palazzo Vecchio. Sua descrição das obras de arte é de quem sabe olhá-las. Com jeito de quem não quer nada, Brown lembra que as três grandes esculturas contempladas in loco pelos turistas são cópias. (O David de Michelangelo, as Portas do Paraíso do Batistério de Florença e os cavalos de bronze do alto da basílica de Veneza.)
Brown é um mágico da narrativa. Lê-se o livro pensando no filme que poderá sair dele. Noves fora uma punk de cabelo espetado chupada de Stieg Larsson, que ele botou na narrativa e depois ficou sem saber o que faria com ela, o quebra-cabeças é apaixonante.
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