Diferentemente de Eduardo Campos e Marina Silva, egressos do lulo-petismo, Aécio é o único candidato que tem a oposição no DNA
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 19/05/2013
Nos últimos meses, o
senador, ex-governador e ex-presidente da Câmara Aécio Neves ouviu, com a
paciência das montanhas de Minas, conselhos e cobranças para elevar o
tom ou aumentar a velocidade de seus movimentos como pré-candidato a
presidente. Ignorou gentilmente os que o acusaram de ter pouco apetite
para a disputa. Buscava as condições básicas para ser candidato, obtidas
na convenção de ontem, que o elegeu presidente do partido e lhe deu
maioria indiscutível nas instâncias decisórias. Agora, começa de fato a
caminhada, avisou ele. Aécio queria, além do comando, a renovação dos
quadros dirigentes e mudanças em sua gestão política e operacional.
Tendo agora a faca e o queijo, seu desafio é ocupar o lugar que lhe
pertence na disputa. Pois, diferentemente de Eduardo Campos e Marina
Silva, egressos do lulo-petismo, Aécio é, até agora, o único candidato
que tem a marca da oposição no DNA. Marina e Campos trafegarão na
chamada terceira via, com roupa e discurso que não os distinguirão
nitidamente do PT.
Em relação a Campos, Aécio tem não apenas a
vantagem do DNA. O PSDB é, sem dúvida, muito mais estruturado e
enraizado que o PSB. Governa estados com muito maior peso econômico,
como São Paulo e Minas, vale dizer, máquinas mais potentes para
enfrentar o equipamento federal. Até onde se enxerga, os governadores
estão comprometidos com sua candidatura. No PSB, nem todos querem a
candidatura de Campos, preferindo a zona de conforto do governismo. O
empresariado, é verdade, tem simpatia pelos dois, especialmente aqueles
que não gostam do estilo voluntarioso de Dilma. Mas eles, sabemos como
agem: colocam um chapéu em cada cadeira, dão dinheiro a todos,
proporcionalmente aos índices nas pesquisas. Não querem ficar mal com
quem ganhar, seja quem for. Marina tem ainda mais dificuldades para
romper o mimetismo com o PT – seus eleitores um dia foram petistas – e
seu partido pode até não sair do papel.
Na presidência do PSDB,
Aécio planeja investir em tecnologia para a integração de todas as
regionais em rede. Quer fortalecer instâncias como as secretarias da
Mulher e do Meio Ambiente. Promete correr o Brasil propondo uma nova
agenda para o país. “O PT não tem o monopólio do diálogo com a
sociedade. Queremos ouvir e ser ouvidos e apresentar nossa proposta de
mudança.” Quando se pergunta que mudança é essa, o apetite verbal
aumenta. Até aqui, ele foi quase monotemático, criticando o centralismo
fiscal da União e as perdas de estados e municípios. Agora, ataca a
“contínua dilapidação da herança bendita da estabilidade”, a seu ver,
representada pelo descuido com a inflação, a complacência fiscal e as
intervenções no câmbio. Afirma que Dilma foi uma decepção como gestora e
ataca as políticas sociais, o que, em outros tempos, a oposição evitava
como heresia. “O PT de fato alargou e consolidou a rede de proteção
social hoje existente, mas ela nasceu no governo Fernando Henrique.
Vamos combater verdadeiramente a pobreza, não apenas administrá-la para
lucrar eleitoralmente, como faz o PT”, diz Aécio.
Certamente,
Aécio e o PSDB sabem que não será fácil enfrentar, no cargo, uma
presidente popular e favorita na disputa como Dilma. Mas, na luta
política, joga-se para ganhar e também para acumular forças. E quem
acumula é quase sempre quem se colocou claramente na oposição, como fez o
próprio PT no passado, e não os que trafegam na terceira via.
Em pauta
Passado o furacão da MP dos Portos, o Congresso deve examinar outros assuntos sensíveis para o povo, não para o capital.
1.
A Câmara precisa retomar a votação da nova lei antidrogas, de autoria
do deputado Osmar Terra (PMDB-RS). Ponto polêmico, a internação
compulsória de dependentes químicos. O lobby da liberação da maconha e
drogas leves tentará pegar carona. Aparentemente, sem chance.
2.
Mas, antes, os deputados devem votar a lei, que vem aprovada do Senado,
alterando regras para a criação e a fusão de municípios. As assembleias
legislativas recobram o poder de legislar sobre o assunto, mas dentro de
regras que limitam a proliferação de municípios em busca das verbas do
FPM.
3. Depois das domésticas, os garçons. Na agenda do Senado,
projeto do hoje prefeito de Uberlândia Gilmar Machado, relatado pelo
senador Lindbergh Farias (PT-RJ), cria regras para a distribuição, entre
os garçons, daqueles 10% que todos nós pagamos sobre a dolorosa conta,
nos bares e restaurantes. Na era do cartão de crédito, a maioria dos
estabelecimentos não lhes repassa a gorjeta.
Fora da pauta
A
indústria automobilística ganhou desonerações fiscais que alcançam os
R$ 20 bilhões. Com a desoneração da folha de pagamentos de 42 setores, o
governo renunciará a R$ 35 bilhões, entre 2013 e 2014, sem falar na
isenção da cesta básica e em outras bondades. Autor de projeto que zera
os impostos para todo tipo de medicamento (como é na Inglaterra, no
Canadá e em outros países), o deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF)
consultou o Ministério da Fazenda sobre o impacto fiscal que ele teria –
R$ 3 bilhões, respondeu a Fazenda. “Com essa renúncia, que representa
apenas 0,11% do Orçamento, toda a população seria beneficiada com a
redução de 35% no preço dos remédios. E, diferentemente do que ocorre
com os carros, o governo poderia fiscalizar o repasse da isenção, pois
já controla o preço dos medicamentos”, diz Reguffe. Mas o projeto está
parado. A base não o abraçou como à MP dos Portos.
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