Estado de Minas: 19/05/2013
Hoje, 400 dólares são
800 reais, mas há 33 anos era dinheiro que não acabava mais, sobretudo
se pensarmos no preço de uma pasta. Isso mesmo, pasta: espécie de bolsa
achatada de couro, plástico, tecido etc., usada para guardar e
transportar livros, documentos, charutos, óculos, revólver, cueca, essas
coisas.
Durante séculos não dei um passo sem minha pasta, chamada executiva sei lá por quê. Mas a pasta objeto desta nossa conversa, executiva, de material parecendo camurça, foi a mais sensacional que já vi. Pudera: custava 400 dólares em 1980.
Fui ao Rio almoçar com um amigo que voltava de longa temporada nos Estados Unidos, onde foi estudar commodities levando a mulher e filha pequena. Quando nos encontramos no restaurante, elogiei sua pasta e notei que ficou meio encabulado. Sou teimoso e voltei a elogiar a peça de camurça cinzenta, quando o bom amigo resolveu contar a história da peça.
Visitando imenso shopping da Califórnia, onde fazia o tal curso, ficou fascinado pela executiva, se bem que assustado com o preço: US$ 400. Na mesma prateleira havia pasta idêntica, mas de courvin, à venda por US$ 100. Dois dias depois, noutra visita, as duas pastas nos mesmos lugares.
Que fez o brasileiro? Trocou as etiquetas e foi-se embora para casa. Noutra visita, dias depois, as pastas continuavam com as etiquetas trocadas e ele, como quem não quer nada, deu à mulher cinco notas de 20 dólares, pedindo que, ao passar pelo shopping, comprasse uma pasta de 100 dólares exposta numa determinada gôndola do segundo piso.
Amantíssima e obediente, como devem ser todas as mulheres, a santa passou pelo shopping, pegou a pasta com etiqueta de US$ 100, pagou com as cinco notas e voltou para os braços de seu marido e senhor. Quando informada de que a pasta que levou para casa era aquela da etiqueta de 400 dólares, trocada pelo doutorando em commodities, a santa senhora trepou nas tamancas, disse que poderia ter sido presa e só não bateu no deus do lar porque ele é muito mais forte.
Daí o constrangimento que o excelente patrício tinha de falar de sua pasta, que, de tão boa, deve existir até hoje, como existem as fuleiras que usei durante séculos.
Verticalização
Imenso em honestidade e competência na administração pública, o Brasil é muito pequeno em questões territoriais. Escassos oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados de área explicam a verticalização que tomou conta do Piscinão de Ramos. Em Belém, capital do Pará, estado minúsculo de pouco mais de um 1,2 milhão quilômetros quadrados (a França tem 543 mil), a floresta nativa foi substituída por uma plantação de espigões de mais de 40 andares. Fala-se num edifício de mais de 80 pavimentos em Belo Horizonte. E assim por diante.
Nos hipercentros das cidades, onde havia casas de um ou dois pavimentos, vão surgindo prédios de 20 andares para cima. E o fenômeno não se restringe às capitais. Cidades menores, das muito pequenas, fazem questão de exibir sua pujança arquitetônica num primeiro edifício de 20 ou 30 andares, que serve de endez para outros mais altos. Enquanto isso, no Rio, são raras as escadas dos bombeiros que chegam ao 6º pavimento, mesmo assim quando as ruas, os postes, as árvores e a fiação permitem.
Estabelecido o fato de que as florestas de espigões parecem inevitáveis, mesmo em regiões onde a vista do entorno é um castigo, cabe a pergunta: será que estão cuidando do resto?. Sim, porque é preciso pensar na qualidade das águas bombeadas para as caixas dos prédios, no trânsito que permita aos moradores entrar e sair dos seus apartamentos, na energia elétrica para movimentar elevadores e bombas, e noutro assunto sério, mas desagradável pelo cheiro do material transportado: os esgotos.
Que fazer com os esgotos das florestas de espigões? Deixá-los escorrer pelas ruas em volta dos prédios ou fazer aquilo que, no Brasil, se considera “ter esgoto”: recolher o material em tubos plásticos para despejá-lo, in natura, no rio mais próximo?
O mundo é uma bola
19 de maio de 1769: depois de três meses de brigas entre as facções favoráveis e contrárias aos jesuítas, o conclave elege papa Lorenzo Ganganelli, candidato da facção contrária, que adota o nome de Clemente XIV.
Em 1897, Oscar Wilde sai da prisão. Em maio de 1895, fora condenado a dois anos de prisão por “cometer atos imorais com diversos rapazes”. Preso, perdeu a saúde e morreu em novembro de 1900 de meningite, álcool e sífilis. De seu casamento convencional com Constance Lloyd deixou dos filhos, um que morreu em 1915 e uma que viveu até 1967.
Em 1536, foi decapitada Anne Boleyn, segunda mulher de Henrique VIII, da Inglaterra, mãe da marquesa de Pembroke e da menina que viria a ser Elizabeth I, rainha da Inglaterra. Anne foi acusada de incesto com seu irmão George Boleyn, na tentativa de dar um filho homem ao rei. Da fraterna relação sexual teria nascido um monstro.
Hoje é o Dia do Físico.
Ruminanças
“Os poetas da criminologia sonham ressocializar jovens bandidos, como se fosse possível ressocializar quem nunca foi socializado.” (R. Manso Neto)
Durante séculos não dei um passo sem minha pasta, chamada executiva sei lá por quê. Mas a pasta objeto desta nossa conversa, executiva, de material parecendo camurça, foi a mais sensacional que já vi. Pudera: custava 400 dólares em 1980.
Fui ao Rio almoçar com um amigo que voltava de longa temporada nos Estados Unidos, onde foi estudar commodities levando a mulher e filha pequena. Quando nos encontramos no restaurante, elogiei sua pasta e notei que ficou meio encabulado. Sou teimoso e voltei a elogiar a peça de camurça cinzenta, quando o bom amigo resolveu contar a história da peça.
Visitando imenso shopping da Califórnia, onde fazia o tal curso, ficou fascinado pela executiva, se bem que assustado com o preço: US$ 400. Na mesma prateleira havia pasta idêntica, mas de courvin, à venda por US$ 100. Dois dias depois, noutra visita, as duas pastas nos mesmos lugares.
Que fez o brasileiro? Trocou as etiquetas e foi-se embora para casa. Noutra visita, dias depois, as pastas continuavam com as etiquetas trocadas e ele, como quem não quer nada, deu à mulher cinco notas de 20 dólares, pedindo que, ao passar pelo shopping, comprasse uma pasta de 100 dólares exposta numa determinada gôndola do segundo piso.
Amantíssima e obediente, como devem ser todas as mulheres, a santa passou pelo shopping, pegou a pasta com etiqueta de US$ 100, pagou com as cinco notas e voltou para os braços de seu marido e senhor. Quando informada de que a pasta que levou para casa era aquela da etiqueta de 400 dólares, trocada pelo doutorando em commodities, a santa senhora trepou nas tamancas, disse que poderia ter sido presa e só não bateu no deus do lar porque ele é muito mais forte.
Daí o constrangimento que o excelente patrício tinha de falar de sua pasta, que, de tão boa, deve existir até hoje, como existem as fuleiras que usei durante séculos.
Verticalização
Imenso em honestidade e competência na administração pública, o Brasil é muito pequeno em questões territoriais. Escassos oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados de área explicam a verticalização que tomou conta do Piscinão de Ramos. Em Belém, capital do Pará, estado minúsculo de pouco mais de um 1,2 milhão quilômetros quadrados (a França tem 543 mil), a floresta nativa foi substituída por uma plantação de espigões de mais de 40 andares. Fala-se num edifício de mais de 80 pavimentos em Belo Horizonte. E assim por diante.
Nos hipercentros das cidades, onde havia casas de um ou dois pavimentos, vão surgindo prédios de 20 andares para cima. E o fenômeno não se restringe às capitais. Cidades menores, das muito pequenas, fazem questão de exibir sua pujança arquitetônica num primeiro edifício de 20 ou 30 andares, que serve de endez para outros mais altos. Enquanto isso, no Rio, são raras as escadas dos bombeiros que chegam ao 6º pavimento, mesmo assim quando as ruas, os postes, as árvores e a fiação permitem.
Estabelecido o fato de que as florestas de espigões parecem inevitáveis, mesmo em regiões onde a vista do entorno é um castigo, cabe a pergunta: será que estão cuidando do resto?. Sim, porque é preciso pensar na qualidade das águas bombeadas para as caixas dos prédios, no trânsito que permita aos moradores entrar e sair dos seus apartamentos, na energia elétrica para movimentar elevadores e bombas, e noutro assunto sério, mas desagradável pelo cheiro do material transportado: os esgotos.
Que fazer com os esgotos das florestas de espigões? Deixá-los escorrer pelas ruas em volta dos prédios ou fazer aquilo que, no Brasil, se considera “ter esgoto”: recolher o material em tubos plásticos para despejá-lo, in natura, no rio mais próximo?
O mundo é uma bola
19 de maio de 1769: depois de três meses de brigas entre as facções favoráveis e contrárias aos jesuítas, o conclave elege papa Lorenzo Ganganelli, candidato da facção contrária, que adota o nome de Clemente XIV.
Em 1897, Oscar Wilde sai da prisão. Em maio de 1895, fora condenado a dois anos de prisão por “cometer atos imorais com diversos rapazes”. Preso, perdeu a saúde e morreu em novembro de 1900 de meningite, álcool e sífilis. De seu casamento convencional com Constance Lloyd deixou dos filhos, um que morreu em 1915 e uma que viveu até 1967.
Em 1536, foi decapitada Anne Boleyn, segunda mulher de Henrique VIII, da Inglaterra, mãe da marquesa de Pembroke e da menina que viria a ser Elizabeth I, rainha da Inglaterra. Anne foi acusada de incesto com seu irmão George Boleyn, na tentativa de dar um filho homem ao rei. Da fraterna relação sexual teria nascido um monstro.
Hoje é o Dia do Físico.
Ruminanças
“Os poetas da criminologia sonham ressocializar jovens bandidos, como se fosse possível ressocializar quem nunca foi socializado.” (R. Manso Neto)
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