domingo, 19 de maio de 2013

Escolho a vida - Betty Lago e Em defesa da vida - Grella/da Ponte [tendências/debates]

folha de são paulo

BETTY LAGO
Escolho a vida
Numa tarde chuvosa aqui no Rio, me encontro diante do computador com a missão de escrever sobre Angelina Jolie versus câncer. Talvez seja o assunto mais comentado nesta semana, não só no Brasil, mas mundo afora.
Aceitei a incumbência muito pelo fato de ter tido câncer, e de como isso transformou a minha vida. Mas isso é uma outra conversa. Voltemos a Angelina e sua atitude cheia de coragem.
Sua mensagem é clara. Viver, ser mãe e alertar milhares de mulheres sobre mais possibilidades para evitar contrair essa terrível doença, o câncer de mama, que, segundo a Organização Mundial da Saúde, mata 458 mil mulheres por ano. Número devastador.
Podemos mudar essa estatística. Não de uma forma banal ou desinformada. Nem achando que a solução seja a mastectomia, porque a maior estrela do planeta Terra a fez. Mas nos informando, pesquisando e ajudando aqueles que têm menos acesso e menos recursos também.
Todos deveriam ler o artigo publicado no jornal "The New York Times", escrito por Angelina Jolie. Ele se chama "My medical choice" ("Minha escolha médica"), mas deveria se chamar "Escolho a vida". É bem escrito, simples, direto e cheio de amor. Me emocionei.
Inesperado? Sim e não. Sempre fui fã com o distanciamento de quem não quer ser tiete. Afinal de contas, não pega bem. Mas sempre fui muito mais fã do lado humanitário de Angelina, de sua disposição e força para fazer diferença num mundo cada vez mais indiferente a tudo.
Nesta semana, perguntei-me inúmeras vezes se teria coragem de fazer uma mastectomia e depois vir a público com tanta tranquilidade, mesmo que seja apenas aparente.
A resposta que encontrei dentro de mim mesma foi sim. Sim, teria coragem de fazer essa cirurgia. Pela vida, pelos filhos, pelos netos que quero conhecer.
E também escreveria sobre o assunto, porque aprendi com o Reynaldo Gianecchini, bem antes da Angelina, que falar sobre o assunto, além de ajudar aos outros, ajuda a nós mesmos.
No meu caso, falei pouco porque fiquei mais concentrada no tratamento do que em falar sobre ele. Tenho a sorte de ter uma família incrível, amigos pacientes e carinhosos e médicos mais incríveis ainda.
Meu câncer foi na vesícula, e aconteceu muito pelo fato de eu ter protelado a retirada da mesma. Sempre tinha uma novela para fazer, uma viagem incrível depois da novela e depois mais novelas e mais viagens...
Como? Não existe viagem mais incrível do que estar viva e com saúde. Mas isso eu não tinha a capacidade de enxergar, porque, sem querer, me acreditava imortal.
Nós vamos vivendo e nem percebemos o tempo passar. Não enxergamos nossa vulnerabilidade, ou não queremos enxergá-la. Clichê? Sim, mas é a pura verdade.
A atitude de Angelina foi um wake up call, não só para o universo feminino, mas para todos nós, seres humanos, cheios de medos e preconceitos.
Claro que o fato de ter Brad Pitt como seu partner e de ser bilionária ajuda. Mas como disse antes, nada pode diminuir o seu gesto.
Long live the queen Jolie.

    FERNANDO GRELLA VIEIRA E ANTONIO CARLOS DA PONTE
    Em defesa da vida
    É equivocada a afirmação de que o governo proibiu policiais de prestar socorro a vítimas. Ele dá preferência ao serviço especializado
    Nas últimas semanas, tem havido polêmica sobre uma medida da Secretaria da Segurança Pública que visa preservar vidas e aprimorar a ação policial, atendendo, portanto, às justas expectativas da sociedade.
    Trata-se da resolução nº 5, que estabelece parâmetros para os policiais que atendam ocorrências de crimes envolvendo lesões corporais graves ou morte. É simplesmente equivocada a afirmação, muito repetida no noticiário, de que a resolução "proíbe policiais de prestar socorro". Isso não está escrito em lugar nenhum.
    O texto estabelece que os policiais deverão "acionar, imediatamente, a equipe do resgate, Samu ou serviço local de emergência, para o pronto e imediato socorro" e também "preservar o local até a chegada da perícia". A resolução, portanto, dá preferência a que o socorro seja feito por serviço especializado, de acordo com as normas internacionais. Mas não existe em seu texto, repetimos, qualquer proibição dirigida aos policiais.
    Se o policial chamar o resgate e não houver viatura disponível ou se o tempo estimado para a chegada implicar risco à vida da vítima, é evidente que ele pode e deve prestar os primeiros socorros, sob orientação da equipe médica, a ser dada por rádio ou telefone. Também deve ser levado em conta, como é óbvio, a avaliação da gravidade do ferimento, a ser feita pela equipe de socorro considerando as informações passadas pelos policiais.
    A resolução também não proíbe os policiais de, quando julgarem necessário, transportarem a vítima para onde possa receber atendimento médico. Tanto é que há uma norma de procedimento operacional padrão da PM que, com base na resolução, determina que "na ausência dos meios indicados, o socorro poderá ser providenciado por policiais".
    Da mesma forma, não há impedimento para que familiares ou outras pessoas façam o transporte da vítima. Se esta for suspeita de crime, o policial deve acompanhá-la para evitar eventual tentativa de fuga.
    Vale mencionar ainda que a resolução apoia-se na legislação em vigor. Portanto, não existe nenhuma possibilidade de que os policiais incorram no crime de omissão de socorro. Afinal, ao acionar o resgate, o policial já está agindo em busca do socorro.
    Também é equivocado dizer que a norma coloca a preservação do local do crime acima da vida da vítima. A resolução contribui para a defesa da vida. O procedimento estabelecido pela resolução, além de já ser seguido nos casos de acidentes de trânsito, também já era aplicado na maioria dos atendimentos a vítimas de armas de fogo. O transporte feito pela polícia era mais comum nos episódios em que os feridos eram suspeitos de algum crime.
    Depois da resolução, o número de mortos decorrentes de intervenções policiais caiu quase 40%. Enquanto isso, a produtividade da polícia aumentou. Estamos prendendo mais pessoas e esclarecendo mais crimes. Em consequência, os índices de homicídios já apresentam tendência de queda. Com certeza, a resolução contribuiu para tal melhora, pois facilita o trabalho da perícia.
    Outra confusão que se tenta instaurar é dizer que as equipes do Resgate e do Samu ficaram sobrecarregadas. Os casos de feridos com disparos de armas de fogo correspondem a apenas 0,07% dos chamados de socorro do serviço de Resgate do Corpo de Bombeiros nos primeiros quatro meses deste ano.
    Por fim, cabe lembrar que a resolução nº 5 tem o aval de entidades internacionais e nacionais que atuam na defesa dos direitos humanos. E também de organismos federais, como a Secretaria Especial de Direitos Humanos. Se houvesse qualquer sinal de que a norma atentasse contra a vida, tais entidades não a teriam endossado.

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