domingo, 19 de maio de 2013

Diário de Buenos Aires - Sylvia Colombo

folha de são paulo

DIÁRIO DE BUENOS AIRES
o mapa da cultura
Incógnita portenha
Não se sabe onde será a feira do livro em 2014
SYLVIA COLOMBOA 39ª edição da Feira do Livro de Buenos Aires terminou na última semana, reunindo mais de 1 milhão de visitantes e marcando aumento de 45% do faturamento, um recorde. As palestras internacionais, principalmente as de J.M. Coetzee, Cees Nooteboom e Laura Esquivel, ocorreram com salas superlotadas. O espanhol Arturo Pérez-Reverte conquistou o público evocando a Buenos Aires do começo do século 20, tema de seu livro mais recente, "Tango de la Guardia Vieja".
A edição homenageou a cidade de Amsterdã, trazendo um exército de escritores holandeses e criando um agradável espaço de palestras e convívio no centro da feira, onde falou, entre outros, o brasileiro Milton Hatoum.
No ano que vem, após esforços notáveis da embaixada do Brasil e considerando um crescente aumento de interesse pela literatura brasileira, a homenageada será São Paulo. Entre os nomes veiculados como possíveis convidados estão Ferréz, Arnaldo Antunes, Nuno Ramos e Lourenço Mutarelli.
A "buena onda" da feira, porém, acabou durante o seu encerramento, quando surgiram as dúvidas sobre onde será realizada no ano que vem. O governo federal quer levá-la ao parque Tecnópolis, fora de Buenos Aires, enquanto o da cidade (anti-kirchnerista) e seus frequentadores tradicionais defendem que siga sendo realizada na Rural, agradável pavilhão no meio dos bosques de Palermo.
"Será o mesmo impacto negativo que houve em São Paulo, quando tiraram a bienal do Ibirapuera. Uma pena", disse à Folha Gabriela Adamo, diretora do evento.
INDEPENDENTES EM ALTA
Enquanto os estandes de grandes editoras não fugiram do convencional -grande mercado de livros, espaços para autógrafos e filas imensas- as pequenas e independentes resolveram se juntar e enfrentar unidas o desafio de atrair os leitores.
Deu mais do que certo: o estande 7logos, reunindo sete editoras independentes, ganhou o prêmio de melhor da feira. Todos os selos envolvidos apostam em títulos alternativos de autores celebrados, produção nacional jovem, literatura brasileira e poesia. É o caso da bela edição de crônicas de Clarice Lispector lançada pela Adriana Hidalgo Editora, ou a estreia literária da celebrada Selva Amada, elogiada por nada menos que Beatriz Sarlo e que lançou "Ladrilleros" pela Mardulce.
Outras editoras presentes foram a Eterna Cadencia (bit.ly/cadencia), que também possui a mais charmosa livraria de Palermo e um blog cultural, e a Beatriz Viterbo, que traduziu Hatoum. O 7logos lançou também uma conta de Twitter, em que anunciava os eventos no stand e a presença de autores.
O local virou ponto de encontro, ao final das palestras, tanto de escritores de outros selos, curiosos com os títulos novos e raridades das editoras, como de jornalistas.
O JOGO DA AMARELINHA
O legado da obra de Julio Cortázar (1914-84) passa por um momento de reavaliação na Argentina. Enquanto começam a surgir alguns críticos que o consideram superestimado, ao mesmo tempo o autor de "Histórias de Cronópios e de Famas" arrebatou a nova geração de escritores, muitos deles tendo chegado ao autor por meio de um de seus fãs, o chileno Roberto Bolaño (1953-2003).
O debate certamente será reavivado agora, quando algumas efemérides motivarão reedições e reinterpretações de sua obra. Em junho de 2013, completam-se os 50 anos do lançamento de "O Jogo da Amarelinha", que receberá uma luxuosa edição comemorativa pela Alfaguara. O volume contará com um apêndice do próprio Cortázar, contando como foi feito o livro. Já em 2014, será a vez das efemérides pessoais, o centenário de seu nascimento, em 26 de agosto, e os 30 anos de sua morte, em 12 de fevereiro.
HISTÓRIA NO TEATRO
Em meio à vasta oferta de peças teatrais que estrearam em Buenos Aires agora no outono, quando o ano cultural realmente começa, está "Camila", uma adaptação para os palcos de um clássico local, baseado em uma história verídica.
Em 1983, o filme homônimo de María Luisa Bemberg foi um sucesso de público e crítica, ao investigar a cultura e os hábitos do século 19 argentino através do romance de uma filha de um aristocrata portenho com um padre de Tucumán. O casal resolve escapar, mas acaba encontrado e fuzilado, por ordens do então ditador Juan Manuel de Rosas (1793-1877). A peça está em cartaz no Teatro Lola Membrives.

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