Zero Hora - 19/05/2013
Esses e-mails que a gente recebe prometendo solução para tudo. Se
dependesse deles, ninguém teria problemas na vida. Antídotos para formol
e antibiótico no leite não constam da lista porque, evidentemente,
ninguém jamais imaginou que isso aconteceria. Certas falcatruas desafiam
até os mais criativos pensadores. Só sei que agora cedo, abrindo a
minha caixa postal, encontrei os seguintes e-mails, dos quais li o
título antes de despachar todos, com fúria psicopata, para os confins da
lixeira: Amor e Sedução/Chega de insegurança na hora do sexo, Abdômen
Sarado/Tudo que você precisa saber para conquistar gominhos,
Tua Oportunidade/Como ganhar muito dinheiro com nossos projetos,
Flying Feet/Solucione suas dores sem sair de casa, Everton Lopes-Sempre
com Dinheiro/Casais inteligentes enriquecem juntos, Multas nunca
mais/Aprenda a cancelar multas para sempre. Não são ainda nove da manhã e
meus problemas já acabaram com um punhado de e-mails que o anti spam
não pegou. E eu ainda reclamo.
O escândalo do leite. Apesar do Procon garantir que as trocas dos
produtos batizados poderiam ser feitas sem a nota fiscal, não conheço
ninguém que tenha conseguido isso. Nem a minha irmã, que compra em um
mercadinho desses em que os donos tratam os fregueses pelo nome,
conseguiu. Pobre consumidor, que sempre paga o pato. E paga caro: na
manhã em que estourou a falcatrua, todos os leites sem formol já estavam
com o preço mais alto no supermercado em que eu vou. É o que se chama
de encontrar oportunidade na crise.
Por que os bares da Cidade Baixa têm hora para fechar e outros, em
diferentes bairros da cidade, podem funcionar, com música ruim e
gritaria, madrugada adentro? Ando me irritando profundamente com um caso
desses na frente do meu prédio, no bairro Auxiliadora, menos por não me
deixar dormir do que pela falta de critério da fiscalização. Já liguei
para o 156 da Prefeitura e não adiantou nada.
A reclamação chega na SMIC e cai, segundo informam os próprios
atendentes. E então é preciso reclamar de novo. Se pelo menos os
playboys não ficassem fazendo vrum-vrum em suas caminhonetes às cinco da
manhã, seria um pouco menos pior. Aliás, alguém saberia explicar por
que os caras fazem vrum-vrum depois de adultos? Essa aí eu vou viver
mais 50 anos sem entender.
Talvez uma razão para a coluna azeda de hoje seja a de que agora sou
a mãe preocupada de um filho que, a essa altura, deve andar pela
Bratislava, seja lá o que isso signifique. A parte boa é que, zanzando
pelo mundo, vai ver de perto algumas coisas que nem sempre entram com
facilidade na cabeça. Um exemplo: lá pela 6ª série do ensino fundamental
houve uma Feira de Países no colégio e tocou ao grupo dele, que era
também o do Artur, Marcelinho, Gus, Tomás e outros da mesma força, falar
sobre a Polônia. A gente sabe como um grupo só de guris age.
Somente na noite anterior à entrega do trabalho eles foram a campo
para cumprir a tarefa. Pediram ajuda para a escritora Leticia
Wierzchowski, especialista no tema, que emprestou um colete antiguíssimo
do avô polonês dela com a recomendação de deixar exposto, sem ninguém
tocar. Naquele dia, por casualidade, passei pela frente do colégio e vi a
cena inesquecível.
Sem camisa, todo suado, meu filho vestia o colete do avô da Leticia e
distribuía um folhetinho feito sem capricho algum para atrair
visitantes: conheça o nosso estande e descubra a Polônia, um paraíso
tropical com lindas praias. O colete do avô eu recuperei com uma lavagem
a seco e a ajuda de uma boa costureira. Os guris pegaram recuperação de
geografia. E, da vagabundagem, a vida tem se encarregado de recuperar a
turma. Bem como deve ser.
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