Trabalhadores que recebem acima de R$ 1.503 já são incluídos na classe A, segundo parâmetros
adotados pelo governo. Classificação não reflete a realidade e institutos seguem outras fórmulas
Zulmira Furbino
Estado de Minas: 11/05/2013 04:00
Fádua Pinheiro Barcelos é professora de
história e trabalha como gerente no condomínio de 800 apartamentos onde
mora. Sua jornada é de 10 horas por dia. Com isso, ela consegue
rendimentos de R$ 2,3 mil. Ecônomica, tem um pequeno apartamento quitado
no Bairro Tupi, na Região Norte de Belo Horizonte. E também um carro
1.0, ano 2012, que comprou em 48 vezes de R$ 486. Mesmo assim, pelos
critérios de classificação de classes sociais no país, Fádua é quase
rica. Mas a classificação, que reflete as estatísticas do governo e do
mercado, não condiz com a realidade cotidiana dos brasileiros.
“Não
me considero rica. Me considero doida por trabalhar 10 horas por dia
para ganhar tão pouco”, afirma Fádua Barcelos. A nova proposta da
Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República,
para a determinação das classes sociais no país põe a professora no
seleto grupo que fica entre a baixa classe alta e a alta classe alta
brasileira, formada por pessoas que ganham individualmente entre R$
1.503 e R$ 4.687. Pelos critérios do Instituto Data Popular,
especializado nos novos consumidores brasileiros, a professora também
faz parte da classe alta, quando a renda individual é levada em conta.
O
professor de Economia da Unicamp e ex-presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) Márcio Pochmann diz que a defasagem
entre a estatística e a prática pode ser explicada pela forma como os
dados são coletados nas pesquisas. De acordo com ele, de maneira geral
os levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) para retratar a renda no Brasil levam em conta apenas
o rendimento vinculado ao trabalho de modo geral, o que representa
somente 46% da renda nacional.
“Essas pesquisas não conseguem
obter informações plenas relativas a ganhos financeiros, renda com
aluguéis, títulos financeiros, renda empresarial. Esse tipo de
informação não entra nas pesquisas. Existe uma subinformação sobre a
renda no Brasil”, sustenta. De acordo com ele, as consultorias que atuam
no setor privado usam o critério de renda familiar ou per capita e, com
base na remuneração dos indivíduos, estabelecem o que denominam de
classes sociais. “Identificar um determinado nível de renda ajuda as
empresas a entender a qual tipo de mercado seus produtos atendem. Essas
classificações mercadológicas são importantes para o setor privado”,
observa.
ENCAIXE INDEVIDO O problema é que as
referências acabaram sendo apropropriadas por instituições ligadas ao
governo, como o próprio Ipea e a Fundação Getulio Vargas (FGV), que a
partir de informações colhidas pelo IBGE fazem a sua própria
classificação de classe econômica e social, definindo quanto ganham
ricos, pobres e remediados no país.
Para definir melhor o perfil
do consumidor, a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep)
criou o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), usado pelos
institutos de pesquisa que são seus associados. Além da remuneração,
esse critério está baseado num sistema de pontos que leva em conta a
posse de itens ou contratação de serviços (TV, rádio, banheiro,
automóvel, empregada mensalista, máquina de lavar etc.) e o grau de
instrução do chefe da família. De acordo com o CCEB, uma família da
classe A tem renda média bruta de R$ 9.263. Já uma família da classe B1
tem renda mensal de R$ 5.241, a da B2 ganha R$ 2.674, da C1 R$ 1.685, a
C2 R$ 1.147 e da D/E, R$ 776.
A classificação atual já não é
aceita por parte dos pesquisadores brasileiros, que instauraram um
debate sobre o assunto no país. “As pesquisas baseadas na renda do
brasileiro apontam para um nível de rendimento muito baixo. Antes havia
trabalhadores que eram pobres e que agora, por várias razões, como a
expansão do emprego e do salário mínimo, tiveram a renda melhorada.
Houve um alargamento das classes sociais, mas esses trabalhadores não
mudaram de classe social por isso”, defende Pochmann.
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