sábado, 11 de maio de 2013

Crítico lança estudo de fôlego sobre Machado e Henry James

folha de são paulo

CRÍTICA - TEORIA LITERÁRIA
Crítico lança estudo de fôlego sobre Machado e Henry James
Marcelo Pen compara romances dos escritores, mestres da ambiguidade
IDELBER AVELARESPECIAL PARA A FOLHANa eleição do objeto, já se revela o crítico e a escolha de Marcelo Pen Parreira. "Realidade Possível: Dilemas da Ficção em Henry James e Machado de Assis" traz uma análise comparativa sobre o escritor americano (1843-1916) e o brasileiro (1839-1908).
Mais que quaisquer outros de sua época, James e Machado têm em comum o trabalho minucioso com o ponto de vista e a voz do narrador. Ambos realizaram operações revolucionárias sobre a base do romance realista então dominante, distanciando-se dele.
Eis aí o fundamento de uma comparação pioneira, que ainda não havia recebido um estudo de fôlego. O livro é baseado na tese de doutorado do autor, defendida em 2007.
Marcelo Pen analisa "Memorial de Aires" (1908), último romance de Machado, e "Os Embaixadores" (1903), parte do trio de obras-primas da maturidade de James, que inclui também"As Asas da Pomba" (1902) e "O Vaso Dourado" (1904).
Pen identifica tanto em Machado como em James uma arte antiaristotélica, que mantém a tensão ao máximo, mas sem resolvê-la: uma arte da alusão, da elipse e da ambiguidade.
Em meio à leitura dos dois romances, Pen volta aos albores das carreiras de ambos e identifica, em "Eugene Pickering" (1874) e "Ressurreição" (1872), o início do trabalho com a voz narrativa que depois os caracterizaria.
LEITURA DETALHADA
Os leitores interessados na vida intelectual francesa do século 19 encontrarão um rico material no livro. Pen reconstrói os debates gerados pela revista "Revue de Deux Mondes", na qual se articularam críticas incisivas ao detalhismo e ao foco na vida externa, próprios do realismo. Tanto James como Machado foram leitores assíduos da publicação.
Pen é o tradutor da bela edição de "Os Embaixadores" publicada em 2010 pela Cosac Naify. Os capítulos sobre Machado dialogam principalmente com a tradição uspiana.
A ambos os autores, Pen dedica leitura detalhada, cheia de atenção às filigranas do texto.
Por isso, o livro é de interesse limitado para não especialistas, mas sem dúvida é um acréscimo indispensável à bibliografia da literatura comparada no Brasil e à fortuna crítica de Henry James e Machado de Assis.

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