Humberto Siqueira
Estado de Minas: 09/12/2012
Doença da mulher moderna, estima-se que a endometriose afete seis milhões de mulheres em idade fértil. Algo entre 10% e 15%. Ela surge quando o sangue menstrual passa pela trompas e vai para a região do abdômen. A menstruação é uma descamação do endométrio (membrana que reveste a cavidade do útero e o prepara mensalmente para uma gravidez), acompanhada da saída de sangue.
Em alguma mulheres, entretanto, parte do sangue não sai pelo canal cervical. Na verdade, volta pelas trompas e acaba chegando à cavidade pélvica e abdominal, dando início à doença. Esse processo é conhecido como refluxo tubário ou menstruação retrógrada. Existem ainda teorias que defendem que a mulher nasceria com os focos de endometriose, desenvolvendo-os ao atingir a maturidade. Ou que ela poderia ser desencadeada em cirurgias, caso parte do endométrio vazasse para fora do útero.
Além do tratamento com laparoscopia – um exame anatopatológico com anestesia geral em que o médico usa o laparoscópio, um longo tubo, rígido ou flexível, com sistema de lentes e fonte luminosa, para visualizar o lado externo dos órgãos, como já cauterizar os focos de endometriose que forem encontrados –, há tratamentos clínicos. O ginecologista Marco Túlio Vaintraub explica que para o endométrio crescer o organismo produz um hormônio chamado estradiol. Então os tratamentos consistem em administrar outro hormônio, a progesterona, que inibe a produção de estradiol, evitando o crescimento do endométrio.
Os tratamentos existentes são os análogos do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), damazol, acetato de leuprolida e o dienogeste. Esse último, o mais recente deles, esteve em estudo desde 2002 e animou o ginecologista. “Temos percebido uma variedade de benefícios. O damazol tem muitos efeitos colaterais; proporciona aumento de peso, espinha, mau humor, mas principalmente efeitos que masculinizam a mulher. O análogo do GnRH coloca a mulher em estado de menopausa. Então ela passa a ter todos os sintomas, como ondas de calor, secura vaginal, insônia, a mama diminui de tamanho. E é um tratamento que não pode ser longo, deve ser ministrado no máximo por seis meses, pois a mulher tem perda de massa óssea e até problemas de coração”, detalha Vaintraub.
Hans-Rudolf Tinneberg, presidente da Liga Europeia de Endometriose e da Sociedade Alemã de Ginecologia Endoscópica, falou sobre o uso do dienogeste durante a último Congresso Mundial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo), em Roma, na Itália. “Em endometriose, é importante pensar no tamanho da lesão, tempo de instalação da doença e nos efeitos causados na qualidade de vida da mulher. Nos estudos realizados com o dienogeste, percebemos importante redução, de 38% para 4%, no sangramento prolongado das mulheres, alívio da dor, melhor função física, funcionamento social e saúde mental”, revela.
Sobre os efeitos colaterais gerados por esse hormônio, ele diz que foram percebidas dores de cabeça e nas mamas, que são típicas das progestinas. “Um dado a se comemorar é que o dienogeste eliminou os vômitos, e mais relevante ainda, não alterou em nada a densidade mineral óssea das mulheres. Efeitos colaterais comuns em pacientes em uso de acetato de leuprolida”, destaca.
Vaintraub explica que o dienogeste também é uma progesterona, mas tem ação anti-inflamatória considerável, diminuindo bastante a dor e os incômodos da endometriose. “Ele não é muito forte, tem uma quantidade de substâncias apenas suficiente para baixar o nível de estradiol e não deixar o endométrio crescer. Com isso, pode ser usado por anos. Outra fator fundamental é o valor. Ele custa um terço do tratamento dos hormônios análogos”, garante. O dienogeste custa por volta de R$ 150 e os análogos até R$ 500.
Em alguma mulheres, entretanto, parte do sangue não sai pelo canal cervical. Na verdade, volta pelas trompas e acaba chegando à cavidade pélvica e abdominal, dando início à doença. Esse processo é conhecido como refluxo tubário ou menstruação retrógrada. Existem ainda teorias que defendem que a mulher nasceria com os focos de endometriose, desenvolvendo-os ao atingir a maturidade. Ou que ela poderia ser desencadeada em cirurgias, caso parte do endométrio vazasse para fora do útero.
Além do tratamento com laparoscopia – um exame anatopatológico com anestesia geral em que o médico usa o laparoscópio, um longo tubo, rígido ou flexível, com sistema de lentes e fonte luminosa, para visualizar o lado externo dos órgãos, como já cauterizar os focos de endometriose que forem encontrados –, há tratamentos clínicos. O ginecologista Marco Túlio Vaintraub explica que para o endométrio crescer o organismo produz um hormônio chamado estradiol. Então os tratamentos consistem em administrar outro hormônio, a progesterona, que inibe a produção de estradiol, evitando o crescimento do endométrio.
Os tratamentos existentes são os análogos do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), damazol, acetato de leuprolida e o dienogeste. Esse último, o mais recente deles, esteve em estudo desde 2002 e animou o ginecologista. “Temos percebido uma variedade de benefícios. O damazol tem muitos efeitos colaterais; proporciona aumento de peso, espinha, mau humor, mas principalmente efeitos que masculinizam a mulher. O análogo do GnRH coloca a mulher em estado de menopausa. Então ela passa a ter todos os sintomas, como ondas de calor, secura vaginal, insônia, a mama diminui de tamanho. E é um tratamento que não pode ser longo, deve ser ministrado no máximo por seis meses, pois a mulher tem perda de massa óssea e até problemas de coração”, detalha Vaintraub.
Hans-Rudolf Tinneberg, presidente da Liga Europeia de Endometriose e da Sociedade Alemã de Ginecologia Endoscópica, falou sobre o uso do dienogeste durante a último Congresso Mundial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo), em Roma, na Itália. “Em endometriose, é importante pensar no tamanho da lesão, tempo de instalação da doença e nos efeitos causados na qualidade de vida da mulher. Nos estudos realizados com o dienogeste, percebemos importante redução, de 38% para 4%, no sangramento prolongado das mulheres, alívio da dor, melhor função física, funcionamento social e saúde mental”, revela.
Sobre os efeitos colaterais gerados por esse hormônio, ele diz que foram percebidas dores de cabeça e nas mamas, que são típicas das progestinas. “Um dado a se comemorar é que o dienogeste eliminou os vômitos, e mais relevante ainda, não alterou em nada a densidade mineral óssea das mulheres. Efeitos colaterais comuns em pacientes em uso de acetato de leuprolida”, destaca.
Vaintraub explica que o dienogeste também é uma progesterona, mas tem ação anti-inflamatória considerável, diminuindo bastante a dor e os incômodos da endometriose. “Ele não é muito forte, tem uma quantidade de substâncias apenas suficiente para baixar o nível de estradiol e não deixar o endométrio crescer. Com isso, pode ser usado por anos. Outra fator fundamental é o valor. Ele custa um terço do tratamento dos hormônios análogos”, garante. O dienogeste custa por volta de R$ 150 e os análogos até R$ 500.
Dores incontroláveis e dificuldade de engravidar
Humberto Siqueira
O sintoma mais recorrente da endometriose é a cólica menstrual de difícil controle. “Muitas mulheres com endometriose relatam que tinham dores inicialmente controláveis com uso de bolsa com água quente e, passados alguns meses, não conseguiam alívio nem sequer com medicamentos na veia”, relata o ginecologista Marco Túlio Vaintraub. São comuns ainda a dor pélvica, a dor na relação sexual e a dificuldade para engravidar.Cerca de 30% das pacientes com endometriose reclamam de dor no ato sexual. E, assim como as cólicas, essa dor também aumenta de intensidade gradativamente. O que inicialmente é relatado como um incômodo se intensifica para fortes dores que podem até inviabilizar a prática sexual. As dores ocorrem principalmente em mulheres com endometriose no ligamento útero-sacro (o mais comum), que tem íntimo contato com a vagina. Com a inflamação do local, o atrito na relação sexual gera dor.
Um dificuldade no tratamento é o tempo para o diagnóstico. Em média, uma mulher passa por cinco médicos em sete anos até chegar ao diagnóstico. Nesse período, a doença evolui. “Os profissionais precisam aprender a farejar a endometriose. É preciso muita atenção ao histórico clínico. O exame físico, em alguns casos, também pode levantar uma desconfiança. Mas em geral o diagnóstico só é fechado com a laparoscopia. As lesões podem ter diferentes tamanhos, formas e cores. E estar presentes no ovário, bexiga, corpo do útero, trompas, intestino e por toda a pelve. O número de lesões e seu alcance vai determinar se a endometriose é leve, moderada ou grave. Lesões maiores podem ser diagnosticadas com ultrassom ou ressonância magnética.
Na avaliação de Marco Túlio Vaintraub, uma das opções de tratar a doença adotada por alguns profissionais é a retirada dos ovários, o que, na opinião dele, é uma castração da mulher. “Claro que não é uma solução para a mulher que ainda deseja ter filhos e, de qualquer forma, precisa ser muito bem avaliada.” Ele também considera a mulher curada se ela consegue engravidar e dar à luz. “Quando conseguem ter um filho, uma segunda gravidez é bem mais fácil”, completa.
Palavra de especialista
Carlos Alberto Petta - professor do Departamento de Ginecologia da Unicamp e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE)
Doença de controle
“A endometriose na verdade é uma doença sobre a qual não se fala de cura, mas de controle. A cirurgia é importante quando a doença sai do controle ou quando o problema é infertilidade. Nesse caso a cirurgia ou a fertilização in vitro são mais usados, pois tratamentos clínicos não aumentam a fertilidade. No que diz respeito à questão sexual, a mulher com endometriose pode registrar dor e dificuldade no ato sexual. O que temos notado com o uso do dienogeste é uma melhora na função sexual. Mas, mesmo que muitas mulheres consigam ter mais prazer na relação, por não apresentar mais a dor, algumas ainda se queixam de diminuição da libido durante o tratamento, um fator que deve ser observado pelo médico que a acompanha.”
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