FOCO
"Shock of the News", na National Gallery, em Washington, investiga uso do produto como suporte e tema por Picasso, Warhol e outros
A atualidade do registro -o quadro reproduzido na entrada da exposição, de Lyonel Feininger, se chama "Leitores de Jornal" e foi pintado em 1909- reforça a ideia de "Shock of the News" (o choque das notícias), a exposição que a National Gallery of Art dos EUA, em Washington, abriga até 27 de janeiro e que tem no jornal sua inspiração.
A história contada ali é a de um veículo que se adapta constantemente a seu tempo, "ao passo que se mantém vital até hoje", na explanação do museu em Washington.
Em 65 obras de 60 artistas dispostas cronologicamente, a curadora Judith Brodie cobre um século de relação entre a permanência da arte e a efemeridade do jornal, em que a primeira cobiça o alcance do segundo, e este se vale da persistência da primeira.
De 1909 a 2008, o jornal aparece retalhado, folhado a ouro, reorganizado, pintado, retratado, abusado, questionado e até ensalsichado por artistas como Pablo Picasso, Georges Braque, Andy Warhol, Paul Klee e Salvador Dalí, ao lado de uma instigante amostra de contemporâneos.
RELAÇÕES
"O que aconteceu em 1909, quando [Filippo Tommaso] Marinetti publicou o 'Manifesto Futurista' [na capa do "Figaro"] e Picasso pôs um pedaço de jornal real em uma colagem ["Violão, Partitura e Copo"], foi um momento de mídia não diferente do de hoje, com os smartphones", disse Brodie à Folha.
"[Como tema de arte] O jornal tem grande potencial para crítica, tipografia incrível e é tão barato e disponível que, quando os artistas viram o que Picasso, Marinetti e Braque estavam fazendo, resolveram experimentar."
Brodie -que teve a ideia conversando com uma colega que montava uma exposição sobre a relação de Warhol com as manchetes e levou cinco anos negociando com museus e colecionadores- diz se tratar de sua "homenagem ao jornal impresso".
Apaixonada por obras que incluam escrita, a curadora se diz leitora contumaz ("eu e meu marido recebemos o jornal toda manhã, é nosso hábito e nos faz parte de uma comunidade em que outros leem o mesmo na mesma hora").
Mas Brodie não arrisca previsões sobre o meio, afirmando que a mostra (o nome vem de uma série de documentários dos anos 1980 sobre arte moderna, "O Choque do Novo") não tem nostalgia.
Para ela, as obras expostas e a forma como os artistas veem o jornal ao longo do século compõem "um ciclo interessante". "Mas não um que se encerra, e sim que muda e se perpetua", conclui.
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