Aos 77 anos, comediante lamenta fim do semanal 'Turma do Didi' e afirma que seu tipo de humor não envelhece
Trapalhão deve fazer dois telefilmes por ano na Globo e seguirá à frente do programa 'Criança Esperança'
O choro tomou conta da "turma" de Aragão; a atração está no ar desde 1998.
"Há um ano eu já sabia que ia acabar, mas fui empurrando, pedindo para esticar, não queria me desapegar", conta Renato Aragão à Folha. "Não foi fácil dar a notícia à equipe, mas a Globo me prometeu que vai realocar todo mundo", completou ele.
A emissora extinguiu seus dois humorísticos mais antigos para arejar as respectivas faixas. Pesava sobre ambos o desgaste da fórmula e, no caso do "Casseta & Planeta", que é produzido há 20 anos (considerando a atração anterior, "...Urgente!"), a queda de audiência.
"Eu sempre fui líder de audiência e não acredito que o meu tipo de humor envelheça", afirma Renato Aragão.
"Tanto que exibimos trechos antigos dos 'Trapalhões' no meio da 'Turma do Didi'. É a mesma linguagem atemporal, voltada para a família. Digo isso porque as crianças continuam rindo", continua.
Com mais de 50 anos de carreira, o trapalhão atribui o fim de seu programa à necessidade da Globo de inovar e de apostar em atrações com temporadas curtas, política da gestão do diretor de entretenimento, Manoel Martins.
"Eles querem ter cada vez menos programas fixos na grade", explica Aragão.
Entre as novidades que poderão ocupar a vaga de Didi e dos cassetas está uma nova atração de humor, mantida em sigilo pela emissora.
O canal está atrás de novos humoristas para rechear o programa, que terá Marcelo Adnet (MTV), se contratado, como carro-chefe.
Aragão, que é fonte de inspiração para muitos humoristas da nova geração, não acompanha as descobertas da comédia stand-up nem as novas apostas da TV no gênero (veja ao lado).
"Admiro os antigos, como o Oscarito. Quando o vi no cinema pela primeira vez, larguei tudo e fui atrás de fazer as pessoas rirem", diz.
CARREIRA
E as risadas provocadas pelo trapalhão começaram nos anos 1960, na TV Ceará. De lá para cá, só cessaram uma vez, por longos seis anos, quando os parceiros "trapalhões" Zacarias e Mussum morreram, nos anos 1990.
"Foi a maior tristeza da minha vida. Deixei a TV e não queria voltar", conta Aragão. "Um dia acordei e vi que não poderia ficar viúvo para sempre. Fiz um filme e percebi que o público me queria."
Mesmo com o fim de "A Turma do Didi", Aragão diz que não vai parar de trabalhar. O humorista fará dois telefilmes por ano para a Globo (em abril e outubro). Também seguirá como um dos apresentadores da campanha "Criança Esperança" e terá um especial de fim de ano.
"Em 2014, tentarei retomar o programa em temporadas", planeja ele. "Não estou me aposentando, não, viu? No dia em que eu colocar o pijama e chinelão, morro."
Nova geração inveja liberdade de veteranos
DA COLUNISTA DA FOLHAFãs dos trapalhões e dos cassetas, humoristas da nova geração na TV foram surpreendidos pela decisão da Globo de extinguir a "A Turma do Didi" e o "Casseta & Planeta"."Os trapalhões abriram espaço para o humor na TV e no cinema", diz Tatá Werneck, do "Comédia MTV".
"Os cassetas são praticamente uma era. Essas entrevistas nas ruas, paródias de novelas, produtos Tabajara, tudo isso que você vê recriado em programas de humor de hoje surgiu com eles."
Mas Tatá enxerga nas piadas de seus antecessores uma liberdade de que os novos humoristas não gozam.
"Hoje a intolerância é tanta que qualquer grupo ou minoria que se sinta ofendido quer processar", diz ela.
"Vi cenas do Chico Anysio na TV que, se fizéssemos hoje em dia, nos levariam à prisão", conta ela.
Danilo Gentili, da Band, completa. "Nitidamente, em dez minutos de 'TV Pirata' ou 'Trapalhões' você vê piadas que não encontra mais na TV hoje", afirma. "Agora, de forma canalha, pessoas estudadas fingem que não entendem que se trata de uma piada e tratam de forma polêmica", reclama.
Para Tatá Werneck, o humor de qualidade não perece. "O que é engraçado e não se baseia em factual será sempre engraçado ou, no mínimo, admirado", diz ela.
Gentili pensa o contrário. "Tudo perece. Se a piada for pauta em cima do comportamento social, ela dura um pouco mais, mas uma hora ficará ultrapassada."
Ele também acredita que é essencial para o humorista reconhecer a hora de parar.
"Se um dia eu chegar onde eles [trapalhões e cassetas] chegaram, posso me considerar história", diz.
"Se parar antes do declínio, serei excepcional", continua. "Mas se eu continuar me divertindo no meio desse trajeto, para mim já está de bom tamanho."
FRASES
"A gente tinha o hábito de ir ao cinema no Brasil só para ver o novo filme dos trapalhões; eles são os grandes divulgadores do cinema nacional"
TATÁ WERNECK
humorista
TATÁ WERNECK
humorista
"Cresci vendo esses programas e jamais agi de forma imoral, mas hoje existe uma força para que comediantes sintam nos ombros o peso de seus atos"
DANILO GENTILI
humorista
DANILO GENTILI
humorista
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