domingo, 9 de dezembro de 2012

Mônica Bergamo


MÔNICA BERGAMO
monica.bergamo@grupofolha.com.br 
folha de são paulo
Fotos Marlene Bergamo/Folhapress
Nanda faz pose em um dos intervalos das gravações no Projac, no Rio
Nanda faz pose em um dos intervalos das gravações no Projac, no Rio
Essa menina sou eu
Ao virar protagonista na TV, Nanda Costa, 26, enfrenta desconfianças com a bagagem de quem saiu de casa aos 14 anos para ser atriz e já tem dez longas no currículo
Ela assistiu ao especial de Natal de Roberto Carlos pela tevê ao lado da mãe, Patrícia, em 2010. "Ano que vem, eu te levo", prometeu Nanda Costa, ao ver a apresentação do Rei em Copacabana, transmitida pela Globo, da sala de casa da família em Paraty (RJ). Ainda era uma atriz desconhecida do grande público.
Cumpriria a promessa em grande estilo dois anos depois. Convidada de honra do especial do Rei de 2012, a intérprete de Morena na novela "Salve Jorge" levou a mãe para assistir à gravação na primeira fila. "Foi um dos momentos mais marcantes de nossas vidas", disse à repórter Eliane Trindade.
O grande momento para mãe e filha foi ouvir Roberto Carlos cantar "Esse Cara Sou Eu", música tema do romance de Morena e Theo (Ricardo Lombardi), protagonistas da novela de Gloria Perez. Aos 26 anos, a atriz vive fortes emoções ao ser alçada ao horário nobre da Globo. Em dezembro passado, Nanda foi acordada por um telefonema da autora: "Você acabou de passar para a minha novela". Assustou-se: "É trote?".
Não era. Até então escalada para o elenco provisório de uma nova das sete, mudou de horário e de status na emissora. Nome novo na constelação global, gerou desconfianças. "No começo, vi um movimento assim: 'Nanda? Será que ela tá preparada?'", conta. "Mas não estou sozinha nessa aposta."
No telefonema, a dona da história tratou de tranquilizar a atriz que até então tinha feito papéis menores na TV. "Conheço seu trabalho, assisti aos seus filmes e tenho vontade de trabalhar com você faz tempo", disse Gloria.
Antes de encarnar uma garota de favela que é traficada para ser prostituta na Europa, Nanda deu vida a personagens fortes no cinema. "Emendei um trabalho no outro desde 2006", conta. Desde então, foram dez longas.
Está em cartaz em "Gonzaga: de Pai pra Filho", de Breno Silveira, como mãe de Gonzaguinha. Ganhou melhor atriz no Festival do Rio por "Sonhos Roubados" (2009), de Sandra Werneck. Foi premiada em Paulínia (SP) por "Febre do Rato" (2011), de Cláudio Assis.
Foi no papel de Dolores Duran, no especial "Por Toda Minha Vida" (2008), que se reconheceu atriz. "Assistir à vida da Dolores era bem mais interessante do que o fato de eu estar ali representando. Ser atriz é isso."
É também encarar cascas de banana. Ganhou a pecha de "nada consta" de colegas de elenco, segundo sites de bastidores da tevê. "Dou risada", diz. "O chato são as justificativas. Uma hora dizem que não estou dando conta da atuação. Depois, dizem que não falo com a equipe e sou antissocial."
Ao chegar ao Projac, é recebida com carinho pelo maquiador e pela manicure. De All Star e jeans, só as unhas postiças e o aplique no cabelo lembram a personagem. Vai subir no salto, colocar short e top, uniforme das garotas do Alemão. Refuta o carimbo de periguete que tentam colocar na heroína de "Salve Jorge". "É normal andar assim na favela. Não é vulgar. Morena é uma mocinha fora dos padrões."
É hora de gravar a cena em que sua personagem, que termina o noivado, busca o vestido de casamento que não vai mais usar. O diretor Luciano Sabino está satisfeito, Nanda pede para repetir. "Ela é uma atriz visceral, vulcânica, um prato cheio para qualquer diretor", diz.
O desejo de ser atriz vem desde os oito anos, quando transformava o piso superior do restaurante da mãe em escolinha de teatro. Aos 14 anos, foi morar com uma tia em São Paulo para estudar na Escola de Atores Wolf Maya. Quatro meses depois, a tia morreu em um acidente de carro. "Voltar pra Paraty seria adiar o sonho. Queria mais do que nunca ser orgulho da família", emociona-se.
Um pensionato de freiras, nos Jardins, virou seu endereço paulistano. Fazia o curso de interpretação das 18h às 23h. "Levava um tênis na mochila. Voltava pra casa correndo." Sem dinheiro para táxi nem tempo para esperar ônibus, tinha que chegar antes de o portão fechar às 23h30. "Sofria com medo de dormir na rua."
Passou seis anos em São Paulo. Transferiu-se para o Rio em 2006, quando fez "Cobras e Lagartos". Assinava o primeiro contrato com a Globo. Renovado desde então. "É bom demais ter contracheque, 13º, plano de saúde."
Estabilidade que permitiu a ela declinar das sondagens para posar nua. "Quanto mais vivo da minha arte menos penso nisso." Nudez no set não é problema. Em "Febre do Rato" ficou nua em cima de um carro. "É um filme fortíssimo. Quando confio na equipe, me jogo. Quem quiser me ver pelada, vá ao cinema."
Na montagem do filme, Cláudio Assis perguntou se ela queria que a barriguinha e a celulite fossem corrigidas na finalização. Agradeceu o cuidado, mas disse não. "É o corpo que tenho. O legal é ser natural. Não fico pensando em tirar aqui, levantar ali."
É a mesma firmeza com que encerra o assunto quando indagada sobre namoros. "Estou feliz", despista. Mas fala abertamente sobre o fato de nunca ter tido contato com o pai. "Minha mãe me teve muito cedo e ele não participou. Não temos contato."
A ausência da figura paterna foi preenchida, com sobras, pelo avô materno, seu José, que morreu em 2010. "Ele era um cara incrível, a pessoa que mais admirava no mundo. Na minha primeira novela, ele gastou as economias para comprar uma TV imensa. Dizia que queria ver a neta em tamanho natural."
Em homenagem ao avô, ela fez uma tatuagem no pé direito: um elefante, símbolo de força. "É o que me impulsiona. Quando hesito, olho para o elefante e sei que tenho força pra ir adiante."
"Dou risada dessa história de me chamarem de 'nada consta'. O chato são as justificativas. Uma hora, dizem que não estou dando conta da atuação. Depois, dizem que é por não falar com a equipe, ser antissocial"

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