Delfim e a doméstica que virou manicure
A metáfora do homem que mandou no Brasil se contrapôs ao "engenheiro que virou suco"
- A empregada doméstica virou manicure ou foi trabalhar num call center. Agora, ela toma banho com sabonete Dove. A proposta desses "gênios" é fazer com que ela volte a usar sabão de coco aumentando os juros.
Aos 84 anos, com 13 de ministério, durante os quais mandou na economia como ninguém, mais 20 de Câmara dos Deputados, Delfim diz que o Brasil vive um "processo civilizatório". Graças ao restabelecimento do valor da moeda por Fernando Henrique Cardoso e ao foco social expandido por Lula, Pindorama passa por uma experiência semelhante à dos Estados Unidos durante o governo de Franklin Roosevelt. Em poucas palavras: ou tem capitalismo para todo mundo, ou não tem para ninguém.
Ao tempo dos gênios, um ministro do Trabalho disse que o Brasil não tinha desemprego, mas gente sem condições de empregabilidade. Em 2002 havia no país seis milhões de desocupados. Entre eles estivera o engenheiro Odil Garcez Filho. Em 1982, quando Delfim era ministro do Planejamento, ele fora demitido, decidiu abrir uma lanchonete na avenida Paulista e batizou-a de "O Engenheiro que virou Suco". No vidro da caixa colou seu diploma. Garcez morreu em 2001 e não viveu uma época em que faltam engenheiros no mercado.
A doméstica que virou manicure da metáfora de Delfim Netto não tem identidade, mas é um contraponto ao Brasil de Garcez, de uma época em que os gênios viriam a atribuir a falta de absorventes femininos a um "aquecimento da demanda", como se o Plano Cruzado tivesse interferido no ciclo biológico das mulheres. Com seu sabonete Dove a manicure de Delfim entrou num mercado de higiene pessoal que em 2012 faturou mais R$ 30 bilhões.
O "processo civilizatório" incomoda. Empregada doméstica com hora extra e acesso à multa do FGTS, o sujeito de bermuda e chinelo no check-in do aeroporto, cotistas e bolsistas do ProUni na mesma faculdade do Júnior, são um estorvo para a ordem natural das coisas. Como o foram a jornada de oito horas, os nordestinos migrando para São Paulo e o voto do analfabeto.
Quando Roosevelt redesenhou a sociedade americana, a oposição republicana levou décadas para entender que estava diante de um fenômeno histórico. Descontando-se os oito anos em que o país foi presidido pelo general Eisenhower, ela só voltou verdadeiramente ao poder em 1969, com Richard Nixon, 36 anos depois.
MANIPULAÇÃO
O Itamaraty informou que a viagem da doutora Dilma a Roma custou R$ 324 mil à Viúva. Só se ela e sua comitiva foram a pé. Faltou computar o custo do voo do AeroLula. Por baixo, mais R$ 120 mil.
DOMÉSTICAS
Dreirdre McCloskey é uma economista americana, ex-assistente de Milton Friedman ao tempo em que ela era o professor Donald. Afora essa peculiaridade, publicou em 2011 o segundo volume de sua magnífica série de exaltação ao burguês. Chama-se "Bourgeois Dignity" e está na rede por por US$ 9,99. Para quem se incomodou com a ampliação dos direitos dos trabalhadores domésticos brasileiros, vale a pena relembrar dois trechos. Num ela verifica que as casas da classe média alta brasileira e sul-africana estão sempre limpas. É o serviço da mão de obra barata. E acrescenta: "Se explorar gente pobre de cor fosse boa ideia, os brancos brasileiros e sul-africanos de hoje viveriam melhor que portugueses, alemães e holandeses que estão nos países onde viviam seus ancestrais".
PERTO
A queda da Bolsa poderá acelerar os ventos de mudança no aparelho que o comissariado instalou na Petrobras.
MÃOZINHA
A doutora Dilma não estaria satisfeita com o desempenho público da Comissão da Verdade.
Pode até ter razão, mas a bola está na sua quadra. Bastaria pedir aos comandantes militares que evitassem fornecer à comissão informações indecifráveis.
Por exemplo: cadê os nomes dos oficiais que serviram regularmente nos DOIs? Podem-se desprezar aqueles que iam para lá num sistema de rodízio e ficavam poucos dias.
GOLPE
Vai dar bolo um truque posto em prática pelas empreiteiras de grandes obras e serviços para a Copa do Mundo e a Olimpíada.
Os doutores contratam a obra, atrasam no prazo e avançam nos custos. Como os compromissos têm datas inflexíveis, vão às conhecidas autoridades e pedem contratos de emergência, sem licitação. Nessa hora, fazem a festa.
Por exemplo: em aeroportos saturados, já há gente querendo oferecer gatilhos emergenciais e provisórios. Se os atrasos fossem reconhecidos hoje, esse serviços poderiam ser contratados a preços de mercado. Em cima da hora, sairão pelo preço que a esperteza cobrar.
CHAFURDEMOS
Chafurdando na notícia, o repórter Felipe Recondo descobriu que em 2012 aconteceram as seguintes gracinhas no Conselho Nacional de Justiça:
- Em 2012 o CNJ gastou mais de R$ 1 milhão com mudanças de servidores e juízes.
- A conta da Bolsa Moradia pulou de R$ 355 mil em 2008 para R$ 900 mil no ano passado.
- No mesmo período as despesas com diárias de viagens quintuplicaram, chegando a R$ 5,2 milhões. As despesas com passagens (R$ 2,3 milhões) duplicaram.
- Noves fora o fato de três ex-conselheiros servirem-se de carros oficiais. (Na Corte Suprema dos Estados Unidos só quem tem essa mordomia é o presidente da corte, no exercício do cargo.)
Há poucas semanas o ministro Joaquim Barbosa, que assumiu o CNJ em novembro passado e portanto nada teve a ver com isso, mandou Recondo "chafurdar no lixo, como você faz sempre". Depois desculpou-se, por intermédio de sua assessoria.
Chafurdemos todos.
FELICIANO E AS PATRULHAS DE DESORDEIROS
Quem viu os constrangimentos a que foi submetida a blogueira cubana Yoani Sánchez em sua passagem pelo Brasil deve um cumprimento ao pastor Marco Feliciano. Ele deu voz de prisão a dois manifestantes que integravam uma patrulha de desordeiros manifestando-se dentro da sala em que presidia uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Yoani Sánchez foi hostilizada em cinco cidades. Em Salvador, precisou de escolta policial. As patrulhas impediram a exibição de um documentário. Em São Paulo foi obrigada a cancelar uma noite de autógrafos. Calar os outros no grito é falta de civilidade, mas tumultuar uma sessão de trabalho na Câmara dos é violação do regimento da Casa.
Admita-se que a presença de Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos é um contrassenso, mas ele não chegou à cadeira no grito. Está lá porque foi eleito com 211 mil votos e preside a comissão pelo voto de seus pares.
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