domingo, 31 de março de 2013

"Game of Thrones" estreia nova temporada

folha de são paulo

Cada um por si
Superprodução da HBO, "Game of Thrones" estreia nova temporada com disputa ainda mais acirrada entre os clãs pelo poder
GABRIELA MANZINIENVIADA ESPECIAL A BELFASTFantasia, clãs digladiando por um trono, batalhas sangrentas, sexo, jogos de poder e cifras gigantescas.
São muitos os elementos que fazem da série "Game of Thrones", trama medieval de ação e fantasia baseada na obra do escritor americano George R. R. Martin, 64, um épico. A terceira temporada tem estreia hoje no canal HBO, às 22h.
Agora, quando as disputas entre os clãs caminha para se tornar ainda mais acirrada e as alianças pelo poder mais surpreendentes, é possível que os fãs puristas dos livros-base do enredo sintam mais fortemente as mudanças na adaptação para a TV.
É que os episódios da nova temporada não foram escritos para corresponder à totalidade do terceiro título, "A Tormenta das Espadas", como os anteriores.
"O livro conta com ótimas cenas, personagens e mundos novos. Tivemos de dividi-lo", explicou o roteirista Bryan Cogman à Folha. "No começo, pensávamos que seria um livro por temporada, mas percebemos que são mídias diferentes e que isso precisava de adequação."
"Estamos pensando na história como um todo", pondera. Sobre o grau de dificuldade no desmembramento da trama, Cogman diz que foi um dos maiores desafios que tiveram até o momento.
"Tão grande que os episódios acabaram espichados de 52 para 57 minutos", um tempo considerável em televisão.
LIVROS E DOWNLOADS
Em todo o mundo, já foram vendidas mais de 20 milhões de cópias dos cinco volumes da obra de Martin, "As Crônicas de Gelo e Fogo". No Brasil, lançado pela editora Leya, foram 1,5 milhão.
A segunda temporada da série é considerado o programa de TV mais pirateado da história, com 25 milhões de downloads. Como se vê, livro e série caminham juntos ao menos nos números.
Eles também servem de parâmetro para a pressão sobre George R. R. Martin para que conclua os dois volumes que faltam da série.
"Eles [fãs] mandam e-mails me perguntando quando vou acabar. Se escrever no meu blog que vi um jogo de futebol, me criticam. Não querem que eu faça nada além de escrever", contou ele em entrevista recente ao jornal britânico "Telegraph".
"Mas, para o azar deles, eu sou bem lento", emendou o autor que atualmente trabalha no sexto volume da saga.
Martin levou seis anos para escrever o quinto livro, publicado em 2011.
CABEÇAS E DRAGÕES
Dentre os vários superlativos de "Game of Thrones", chama atenção o investimento financeiro.
Estimativas dão conta de que a primeira temporada, exibida em 2011, custou ao canal HBO em torno de US$ 60 milhões (R$ 121,2 milhões).
No Emmy, o mais disputado prêmio de TV do mundo, a série levou, entre outros, os prêmios de direção de arte, figurino, maquiagem e efeitos visuais -os carros-chefe na criação do "mundo secundário" imaginado por Martin (leia análise abaixo).
O cenário dos aposentos do rei Joffrey (Jack Gleeson), por exemplo, tem 25 metros de altura. Na sala do trono, são quilômetros de piso de madeira tingida para parecer mármore.
Quando a Folha visitou o set de filmagens, uma caixa plástica vedada guardava um dos atrativos da série até aqui: o protótipo de um dos pequenos dragões criados por Daenerys Targaryen, personagem interpretada pela atriz Emilia Clarke.
Por outro lado, no setor de protótipos de animais e corpos mutilados, jogado num cantinho e já meio empoeirada, estava a cabeça de Ned Stark (Sean Bean), estrela da primeira temporada.
Em "Game of Thrones", esse é o destino que todo personagem corre o risco de enfrentar na próxima cena.


SPOILER - O DEDO DURO
Game of Thrones
O relacionamento entre Jamie Lannister e Brienne de Tarth é um dos pilares da terceira temporada de "Game of Thrones".
Os dois convivem aos trancos e barrancos, e, em uma batalha, o cavaleiro perde a mão com que maneja a espada.
"Se você se machuca severamente, isso muda quem você é", afirma.
"Quando você se identifica com algo muito específico e isso é tirado de você, é preciso reavaliar a sua vida e a si mesmo", continua.
Há muita expectativa também em torno da chegada de Mance Rayder, o líder do clã Wildling, chamado "King Beyond the Wall" (o rei além da Muralha).
O novo personagem será interpretado pelo norte-irlandês Ciarán Hinds (de "Rome").
Boatos dão conta de que a temporada termina por volta do chamado Casamento Vermelho, uma cerimônia que se revela uma emboscada contra os Stark.

    ANÁLISE
    Boa construção de "mundo secundário" é um dos segredos do sucesso do seriado
    REINALDO JOSÉ LOPESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA"Game of Thrones" está longe de ser o tipo de série que agrada apenas aos nerds "puro-sangue", aqueles consumidores mais ávidos de tramas de fantasia.
    O emprego de sexo e violência explícitos faz com que a história também tenha apelo para quem gosta de seriados sobre crime organizado, por exemplo.
    Um dos segredos do sucesso de "Game of Thrones" é o emprego de um recurso eminentemente nerd da trama: a cuidadosa construção de um "mundo secundário".
    O termo foi cunhado por J.R.R. Tolkien (1892-1973), autor de "O Senhor dos Anéis" e, não por acaso, criador do gênero literário a que pertence "Game of Thrones" -tratado entre os mais entusiasmados do gênero como uma ovelha negra.
    A ideia é que o bom escritor de fantasia é o sujeito capaz de construir um universo virtual com tanta riqueza de detalhes e esmero que o leitor desenvolve aos poucos uma cumplicidade total com a história.
    Enquanto ele está "lá dentro", o que acontece é tão real quanto os fatos no nosso "mundo primário".
    Isso explica porque a abertura da série tem como estrela um gigantesco mapa de Westeros, o continente inventado pelo autor George R.R. Martin.
    Mapas indicam que aquele mundo tem uma realidade própria, que não se limita aos lugares descritos na ação (e, de fato, muitos locais mapeados nem acabam entrando na versão apresentada pela série de TV).
    O mesmo vale para detalhes como genealogias das famílias, canções e poemas tradicionais, palavras ou diálogos inteiros proferidos em idiomas ficcionais.
    Dá um trabalho dos diabos fazer tudo isso de um jeito convincente. Por isso, são raros os escritores de fantasia que alcançam o mesmo sucesso de Tolkien ou Martin.
    No caso do criador de "Game of Thrones", um ingrediente extra é a sua capacidade de criar uma galeria de personagens memoráveis.
    Nos livros ("As Crônicas de Gelo e Fogo") em que se baseiam a série, a técnica relativamente simples que ele usa para realçar isso é a do "personagem-ponto-de-vista", na qual cada capítulo é narrado a partir de perspectiva de um personagem diferente.
    Um dos objetivos disso é evitar a armadilha do maniqueísmo, comum em muitas obras de fantasia, já que o leitor também tem a chance de enxergar o mundo pelos olhos dos supostos vilões.
    Com tantas figuras interessantes tendo sua voz representada na narrativa, é quase impossível não se identificar com alguém.

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