domingo, 31 de março de 2013

Mônica Bergamo

folha de são paulo

Gaby Amarantos lança DVD em bairro onde cresceu, na periferia de Belém

DE SÃO PAULO

"Desculpa, meu amor", diz Gaby Amarantos a um vizinho, que espera pacientemente por alguns segundos de atenção da cantora paraense, em frente à casa dela, no bairro do Jurunas, periferia de Belém.

Gaby Amarantos lança DVD em seu bairro, na periferia de Belém

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Tarso Sarraf/Folhapress
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Gaby Amarantos lançou o DVD "Live in Jurunas" no bairro Jurunas, na periferia de Belém, no dia 23
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Gaby beija o fã no rosto e posa para a câmera do celular. A cena se repete várias vezes na rua Nova Segunda, número 122, a residência da família da musa do tecnobrega que virou cult e emplacou hit em novela da Globo.
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São 17h55 do sábado, 23. O lançamento do primeiro DVD da Beyoncé do Pará está marcado para as 19h. A exibição de "Gaby Amarantos: Live in Jurunas" acontece no mesmo local onde o misto de show e documentário foi gravado antes da fama bater à porta da moradora ilustre. A galera ignora o calor equatorial. Os gritos ecoam pela rua apinhada a cada vizinho que aparece na tela.
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Gaby não está "montada", como nos shows. Usa uma segunda pele preta com um vestido de oncinha. Dispensa acessório na cabeça.
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Recebe o repórter Jones Santos na varanda. Bem em frente foi improvisado um pequeno palco. Além da exibição do DVD, está programado debate sobre a cultura de periferia. Pufes estão distribuídos pelas calçadas. O som potente dificulta o bate-papo.
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"Eu até pensei em me mudar daqui, mas esse lugar não tem igual, é o meu lugar", diz Gaby. "Toda vez que eu volto pra cá eu me revigoro, eu aprendo." Ela está reformando um apartamento ali mesmo no Jurunas, onde deve morar com o filho, Davi, 4. Até lá, continua dividindo o casarão de dois andares com pai, mãe, irmãos e sobrinha.
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Davi parece estar mais para filho de roqueiro do que de musa do tecnobrega. Com cabelos compridos presos num rabo de cavalo, o garoto usa uma camiseta dos Beatles. Interrompe a entrevista duas vezes em busca de "chamego". "Quando estou aqui ele quer chamar a atenção toda hora", explica.
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Mesmo com o status de artista badalada, o lançamento do DVD conta com uma estrutura bem típica das festas de rua. Não há segurança, o palco e as instalações elétricas parecem improvisados. "Eu tenho orgulho de estar conduzindo a minha carreira dessa forma diferente."
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Sobre o assédio, Gaby também faz questão de se diferenciar dos artistas que procuram ficar longe dos fãs e "criam uma capa que não existe". "Eu digo: 'olha, gente, isso é tudo mentira, isso não existe'." As marcas do sucesso meteórico são evidentes. Ao "povão" da periferia começam a se juntar aos poucos personalidades locais, gays de classe média e organizadores de baladas pop.
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Já os DJs de aparelhagens, aqueles que fazem o sucesso das festas de tecnobrega, não dão as caras. Mesmo reafirmando sua fixação pelo Jurunas, Gaby está distante do universo do ritmo que a criou. "Aqui a gente acelera a música, fala muito do DJ, dos fã-clubes, e as pessoas lá fora não entendem", diz a artista que levou a batida para além das fronteiras do Estado. "A gente conseguiu dar uma qualidade para o tecnobrega que ele não tinha."
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Fala com empolgação dos shows recentes com Elza Soares em São Paulo, todos com bilheteria esgotada. "A Elza, que foi muito comparada com a Tina Turner no início, me disse que Beyoncé tem que ser minha amiga e não minha inimiga, e eu acredito nisso."
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De bem com a comparação com a cantora pop americana, Gaby circula com desenvoltura pelos corredores da Rede Globo. Recentemente, gravou a vinheta da programação 2013 da emissora carioca. Ouviu o diretor global André Dias dizer "a gente precisa de você aqui". "É muito bacana essa declaração, porque tem algumas tevês que acham que estão fazendo um favor pra gente."
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O público de Gaby vem ficando eclético. "Tem homens que vão ao meu show e me chamam de gostosa, e isso não acontecia antes." Suas formas voluptuosas fazem sucesso também com as mulheres. "Eu não tenho problema com essa palavra: gorda. As outras pessoas é que têm."
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Narra uma conversa com as atrizes Maria Ribeiro e Carolina Dieckmann. "Elas disseram que eu não sou gorda. Eu disse: 'Coloca aqui a tua perna perto da minha pra veres só'. E, realmente, dentro do padrão que a Rede Globo exige, estou muito mais acima [do peso]", admite. Exibe 103 cm de busto, 82 cm de cintura e 118 cm de quadril.
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Gaby estuda um projeto de música para crianças, considerando que seu público infantil também é grande após a canção "Ex Mai Love".
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A estrela da noite ainda não parou de tirar fotos com fãs e de cumprimentar amigos. O trânsito na rua já está praticamente interrompido, por causa da aglomeração de pessoas. O telão montado na fachada da casa mostra fotos de Gaby em vários figurinos.
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"Treme meu Jurunas." A voz potente da cantora, seguida dos gritos da plateia, dá início ao evento. Leona, a Assassina Vingativa, outra personalidade do Jurunas, faz coro. Famosa depois de um viral no YouTube que contabiliza 1,5 milhão de acessos, posa bem diferente do garotinho afeminado do vídeo na internet. Cresceu e apareceu. "Eu tiro fotos, dou autógrafos. Todo mundo lembra do sucesso no YouTube."
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O cineasta francês Vincent Moon, que dirigiu o DVD, é um dos convidados sobre o palquinho improvisado. "Gaby Amarantos é representante de um movimento que merece ser registrado", diz. Em sua passagem pelo Brasil em 2011, o diretor encontrou na paraense a chance de mostrar a força da música produzida na e para a periferia.
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Apesar de o povo do bairro ser parte da festa, Gaby e seus convidados se sentam de costas para o público, quando as câmeras se acendem. O evento é transmitido pela internet. Ela se volta para a plateia só durante uma gravação ao vivo para uma tevê local. É a hora da estrela.
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

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