ZERO HORA - 07/04/2013
Eu
estava dentro do carro em frente à escola da minha filha, aguardando a
aula dela terminar. A rua é bastante congestionada no final da manhã.
Foi então que uma mulher chegou e começou a manobrar para estacionar o
seu carro numa vaga ainda livre. Reparei que seu carro era grande para o
tamanho da vaga, mas, vá saber, talvez ela fosse craque em baliza.
Tentou
entrar de ré, não conseguiu. Tentou de novo, e de novo não conseguiu. E
de novo. E de novo. Por pouco não raspou a lataria do carro da frente, e
deu umas batidinhas no de trás que eu vi. Não fazia calor, mas ela
suava, passava a mão na testa, ou seja, estava entregando a alma para
tentar acomodar sua caminhonete numa vaga que, visivelmente, não servia.
Ou, se servisse, haveria de deixá-la entalada e com muita dificuldade
de sair dali depois. Pensei: como é difícil admitir um fracasso e partir
para outra.
Para quem está de fora, é mais fácil perceber
quando uma insistência vai dar em nada – e já não estou falando apenas
em estacionar carros em vagas minúsculas, mas em situações variadas em
que o “de novo, de novo, de novo” só consegue fazer com que a pessoa
perca tempo. Tudo conspira contra, mas a criatura teima na perseguição
do seu intento, pois não é do seu feitio fracassar.
Ora, seria do feitio de quem?
Todas
as nossas iniciativas pressupõem um resultado favorável. Ninguém entra
de antemão numa fria: acreditamos que nossas atitudes serão
compreendidas, que nosso trabalho trará bom resultado, que nossos
esforços serão valorizados. Só que às vezes não são. E nem é por maldade
alheia, simplesmente a gente dimensionou mal o tamanho do desafio.
Achamos que daríamos conta, e não demos. Tentamos, e não rolou. “De
novo!”, ordenamos a nós mesmos – e, ok, até vale insistir um pouquinho.
Só
que nada. Outra vez, e nada. Até quando perseverar? No fundo, intuímos
rapidinho que algo não vai dar certo, mas é incômodo reconhecer um
fracasso, ainda mais hoje em dia, em que o sucesso anda sendo
superfaturado por todo mundo. Só eu vou me dar mal? Nada disso. De novo!
De-sis-ta. É a melhor coisa que se pode fazer quando não se
consegue encaixar um sonho em um lugar determinado. Se nada de positivo
vem desse empenho todo, reconheça: você fez uma escolha errada. Aprender
alemão talvez não seja para sua cachola. Entrar naquela saia vai ser
impossível. Seu namorado não vai deixar de ser mulherengo, está no
genoma dele. Você irá partir para a oitava tentativa de fertilização?
Adote.
E em vez de alemão, tente aprender espanhol. Troque a saia apertada por
um vestido soltinho. Invista em alguém que enxergue a vida do seu mesmo
modo, que tenha afinidades com seu jeito de ser. Admitir um fracasso
não é o fim do mundo. É apenas a oportunidade que você se dá de
estacionar seu carro numa vaga mais fácil e que está logo ali em frente,
disponível.
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