DIÁRIO DO RIO
o mapa da cultura
A invenção da Princesinha do Mar
Nos tempos anteriores à crônica "Ai de Ti, Copacabana", de Rubem Braga (1913-90), escrita na década de 1950, ali juntavam-se modernidade e prazer: um bangalô à beira-mar, peteca e vôlei nas areias, o "footing" na avenida Atlântica, a baratinha fazendo a curva em direção ao Arpoador.
Hoje, não raro, Copacabana aparece como símbolo de uma melancólica decadência que bate à porta dos seus inúmeros edifícios de arquitetura "art déco", vitimada não pelas águas do mar, como no pesadelo bíblico do cronista, mas pelo crescimento urbano e populacional e pela especulação imobiliária.
Ler o livro da antropóloga Julia O'Donnell sugere que o encanto e o charme da Princesinha do Mar -com seu incrível perfil urbanístico: cem quarteirões divididos em 78 ruas, cinco avenidas, seis travessas e seis ladeiras, numa área de 7,84 quilômetros quadrados -podem ser recuperados. É só não destruir para fazer de novo, como se dá no momento em outras áreas do Rio.
PRAIA COM ROLETA
Ao longo de sua história, Copacabana lançou infinitas modas. Eis uma obsessão carioca: criar uma marca, um comportamento que eternize a estação predileta. Em épocas mais ou menos recentes, tivemos as dunas da Gal, a tanga do Gabeira, o verão da lata, o verão do apito.
Pois este que passou tentou, tentou, e nada emplacou. Vai ser tristemente lembrado pela abertura, dentro do Forte de Copacabana, de uma praia privê, com 70 metros de extensão e 7 de largura, trecho que só no verão não é engolido pelas águas.
Batizado de Aqueloo, funcionou enquanto deu como um clube de luxo para quem se dispunha a desembolsar entre R$ 90 (mulheres) e R$ 250 (homens) só para entrar. Ameaçada de invasão com vuvuzelas e tambores por grupos de manifestantes, a praia dos ricos acabou no início de março com a decisão do Exército de cancelar o contrato com a empresa que montou o recanto cafona com camarotes, banheiras de hidromassagem, apresentação de DJs e serviço de mordomo.
A experiência -que se espera única e isolada- transformou em realidade os cartuns do "Pasquim" que, no auge da especulação em Copacabana e Ipanema, nos anos 1970, mostravam as praias com roletas antes das quais o banhista tinha que pagar e, só assim, usufruir um pedacinho de areia.
A PASSARELA DE RIPPER
Em 1971, ao remover o palco italiano do Teatro Ipanema para a montagem de "Hoje É Dia de Rock", peça de José Vicente, o cenógrafo Luiz Carlos Ripper (1943-96) entendeu a vocação comportamental do bairro e daqueles tempos: fez de Ipanema uma rua, uma passarela, um corredor onde público e espectadores se movimentavam sem distanciamento.
A exposição "A Mão Livre de Luiz Carlos Ripper", em cartaz até o dia 21 no Centro Cultural dos Correios (rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro), é uma visão panorâmica do trabalho desse figurinista, iluminador, diretor de arte, encenador, um artista multifacetado. Ripper, sozinho, era um verão inteiro.
São cerca de 200 registros à mão livre de desenhos e croquis originais, além da recomposição de alguns cenários em maquetes, fotografias de cena, programas, cartazes, com ênfase na sua produção teatral e cinematográfica.
NO TEMPO DE MOYSEIS
Aviso aos motoristas: Moyseis Marques, um dos melhores cantores de samba surgidos no Rio nestes primeiros anos do século, está fazendo aulas de direção, para sair de Santa Teresa -e mais importante, voltar a altas horas-, cumprindo uma agenda de shows intensa.
Hoje, às 17h, ele está no Samba do Arruda, no Renascença (rua Barão de São Francisco, 54, Andaraí). Na sexta, às 20h, no Centro Cultural Carioca (rua do Teatro, 37, Centro), acompanhado da banda Joia Rara, apresenta o repertório de seus três CDs: "Moyseis Marques" (2007), "Fases do Coração" (2009) e "Pra Desengomar" (2012). Ouça Moyseis Marques em bit.ly/moyseis.
É um privilégio viver no mesmo tempo e acompanhar o amadurecimento de um cantor e compositor como Moyseis.
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