Como lidar com a dengue, doença que já
ultrapassa 630 mil notificações no país este ano. Mosquito transmissor, o
Aedes aegypti é minúsculo, mas, contaminado, derruba muita gente.
Repouso e hidratação são fundamentais para quem está doente
Sara Lira
Estado de Minas: 07/04/2013
O mosquito mede
aproximadamente cinco milímetros, mas os efeitos de sua picada podem ser
devastadores, inclusive levar a pessoa à morte. O Aedes aegypti,
transmissor da dengue, tem deixado muita gente em estado de alerta, e
hoje, Dia Mundial de Saúde, em se tratando dessa doença, o Brasil tem
pouco a celebrar. O último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde,
na quarta-feira, mostra que entre 1º de janeiro e 23 de março as
secretarias municipais de saúde notificaram 635 mil casos da doença no
país, sendo 1.243 graves e 108 mortes. Se comparado com o mesmo período
de 2012, houve um aumento de quase quatro vezes: no ano passado foram
registrados 167.279 casos da doença no Brasil.
Minas Gerais
lidera disparado o ranking dos estados com maior número de notificações.
Segundo o ministério são 133 mil, e 37 mortes, mas a Secretaria de
Estado de Saúde divulgou na quinta-feira um número já maior de
notificações: 165 mil. O estado está à frente de São Paulo, que tem 93,9
mil registros; Goiás, com 84,13 mil; e Mato Grosso do Sul, com 73,8 mil
notificações. O Distrito Federal tem 2.604 notificações até agora, mas o
número é considerado alto: cinco vezes maior que os 477 casos do ano
passado.
A primeira epidemia documentada no Brasil, segundo o
MS, foi em Boa Vista (RR), nos idos de 1981 e 1982, com os sorotipos
DEN-1 e DEN-4. Atualmente, quatro sorotipos de vírus da dengue circulam
no país, sendo que o DEN-4 não era registrado há cerca de 30 anos, por
isso muitas pessoas não têm imunidade contra ele. Essa é uma das
hipóteses, inclusive, para o aumento de notificações da doença. Nas duas
últimas décadas, segundo dados do ministério, o Brasil registrou quatro
grandes epidemias de dengue: em 1998, com prevalência do sorotipo 1;
2002, com prevalência do sorotipo 3; 2008, predominância do DEN-2; e, em
2010, o DEN-1.
De acordo com a pesquisadora e professora do
Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) Erna Kroon, ainda não há estudos que mostrem a diferença de
sintomas de cada tipo de vírus da dengue. “Os diagnósticos sempre foram
feitos como dengue. Eles se assemelham, têm diferenças mas não há essa
especificação catalogada”, afirma. “Ao picar o ser humano, o mosquito
injeta o vírus no sangue e vai para as células. Infectadas, essas
células levam o vírus para o restante do organismo”, completa Erna.
Depois de ser picado pelo mosquito infectado o indivíduo leva de quatro a
cinco dias para começar a apresentar os sintomas. No caso da dengue
clássica são febre alta e súbita (a temperatura sobe de forma rápida),
dor retro-orbital (no fundo dos olhos), mal-estar geral, falta de
apetite e náuseas.
No caso da dengue hemorrágica, forma mais
grave da doença, os principais sintomas são sangramentos em locais como
gengivas e nariz, ou até mesmo nas fezes e na urina, além de dor
abdominal. “Nessa forma da dengue, o mecanismo de coagulação do sangue
sofre uma alteração e, por isso, ocorrem hemorragias que podem ser leves
ou até mesmo um extravasamento de líquidos dos vasos. Esse líquido vai
fazer falta na corrente sanguínea e quando há desequilíbrio a pessoa
pode ter uma redução de pressão no sangue”, explica Erna. A pesquisadora
diz que os sintomas são uma forma de o organismo tentar se livrar do
vírus. “Em boa parte dos casos, os sintomas não são por causa do vírus,
mas sim uma resposta a ele. O vírus infecta e o organismo tem que se
defender. Para isso, produz proteínas para eliminá-lo, mas em excesso
elas causam esses sintomas”, acrescenta.
DE REPOUSO O
publicitário Vinícius do Vale, de 25 anos, sabe bem o que é sentir cada
um desses sintomas. Diagnosticado no mês passado com dengue clássica,
ele conta que foi a segunda pessoa a ter a doença no local onde
trabalha. O motivo mais provável, segundo ele, seria a caixa-d’água da
empresa, que estaria destampada. “Quem notou a presença das larvas na
caixa foi a moça da limpeza. Ela abriu a torneira para encher um balde e
viu que com a água caíram umas 15 larvas”, relata. O publicitário
começou a sentir dores pelo corpo, fraqueza, febre e queimação atrás dos
olhos. Ao conversar com um colega que havia tido a doença, verificou
que os sintomas eram os mesmos. “Fui ao médico e ele fez o exame de
sangue que constatou a dengue. Fiquei cinco dias com os sintomas em casa
e sempre no meu quarto. Não tinha chance de sair porque até a
luminosidade me incomodava, muito por causa da dor nos olhos.”
Conheça de perto esse vilão
Sara Lira
Publicação: 07/04/2013 04:00
Um dos maiores mitos
em torno do mosquito é de que todos os insetos da espécie Aedes são
transmissores da dengue. De acordo com o pesquisador do setor de malária
da Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais (Fiocruz-MG), Luciano Andrade,
os mosquitos não nascem com o vírus. “Apenas as fêmeas que transmitem o
vírus e, em média, um em cada mil mosquitos estão infectados”, diz.
Cerca de 70% dos casos da doença no Brasil concentram-se no período de
chuvas, entre janeiro e maio, com exceção das regiões Norte e Nordeste,
nas quais as chuvas começam mais tardiamente e se estendem até julho. No
entanto, de acordo com o Ministério da Saúde, o país tem condições
climáticas favoráveis à proliferação do mosquito durante todo o ano. O
grande problema é que o Aedes aegypti se adapta facilmente às mudanças
climáticas e a fêmea coloca ovos em locais com água e sombra,
diferentemente de outras espécies, cuja postura ocorre em único local.
E
mais: o ovo do mosquito da dengue pode sobreviver até um ano sem
contato com a água e, se for molhado, eclode. Se ele estiver contaminado
com o vírus da dengue, a situação se agrava. O inseto contrai o vírus
ao picar um ser humano com a doença. Esse vírus leva de 10 a 15 dias
para se desenvolver no organismo do mosquito, vai para o estômago dele e
depois para as glândulas salivares. Nessa fase, ele já é um
transmissor. “Há esse tempo de incubação (de 10 a 15 dias). Se ele picar
alguém doente e logo depois picar outra pessoa, ele ainda não vai
transmitir a doença naquele momento”, explica o pesquisador. De acordo
com Luciano, há ainda a hipótese genética de a fêmea passar o vírus para
os filhotes. “Mas não há nada confirmado cientificamente”, destaca.
Segundo
o pesquisador da Fiocruz, as principais características do Aedes
aegypti são as patas listradas e uma figura nas costas semelhante a uma
lira (instrumento musical). Ele tende a ficar perto do ambiente onde tem
abrigo, alimento e proteção – água limpa e parada, onde deposita seus
ovos. Qualquer reservatório pode ser um local em potencial para a
reprodução do Aedes: desde os tradicionais pratinhos de planta, passando
pelos vasilhames de água de animais e até uma tampinha de garrafa que
esteja acumulando água. A fase ovo dura cerca de duas semanas. Quando
nasce, a larva sobrevive por cerca de uma semana até se tornar adulta,
na fase mosquito. “Ele costuma ter uma vida útil de cerca de 30 dias na
natureza”, acrescenta.
O inseto não voa muito alto. Ainda assim,
quem mora em andares superiores de prédios não está livre do problema.
“Ele pode voar para longe em corrente de ar, caso haja um vento forte.
Mas essa dispersão é muito baixa. O mosquito pode também subir pelo
elevador junto com as pessoas”, afirma.
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