O adversário é Maduro, não Chávez, diz oposição
Henrique Capriles, no ano passado, não resistiu à jamanta eleitoral de Hugo Chávez, que venceu uma dúzia de eleições país afora ao longo de 12 anos. Agora, o líder socialista morto de câncer no mês passado está frustrando -mesmo no túmulo- a segunda candidatura de Capriles à Presidência da Venezuela, nas eleições do dia 14.
Com pesquisas de opinião mostrando que sua popularidade cresceu desde sua morte, Chávez tornou-se o foco da campanha de seu herdeiro político, Nicolás Maduro, que, em seus comícios, se posiciona sob pôsteres gigantes de seu mentor e pronuncia seu nome mais de 200 vezes por dia, de acordo com o site madurodice.com.
Assim, Capriles, um enérgico governador de 40 anos de idade, está lutando para recolocar em Maduro, de 50, o foco da campanha. Ele descreve o presidente em exercício como um burocrata entediante, incompetente e mendaz; diz que, desde meados de dezembro, quando Chávez partiu para Cuba para ser operado do câncer, a economia venezuelana vem decaindo de modo acelerado.
"Com Nicolás, você não tem chances de ter seus problemas resolvidos", declara o fotogênico Capriles num comício. Ele desfia uma lista dos problemas do país enquanto adolescentes agitam cartazes implorando para serem sua primeira-dama e passam por cima de barreiras para fazer fotos dele com seus celulares.
"Aposto que ele nunca esteve em Carora, não é mesmo?", zomba Capriles, aludindo à cidadezinha poeirenta do sudoeste da Venezuela que está visitando. Capriles sugere que Maduro tem mais familiaridade com Havana e saguões de aeroportos, retratando-o como alguém desligado dos problemas do dia a dia, depois de passar seis anos como chanceler.
O tom de Capriles mudou desde que concorreu com Chávez, e perdeu por 11 pontos percentuais, nas eleições presidenciais de outubro passado. Ele se tornou mais agressivo, lançando ataques pessoais contra seu adversário, diferentemente da campanha anterior, em que mal mencionava o então presidente.
"A campanha se concentra em chamar Maduro para dentro do ringue. O adversário é Maduro, não Chávez", comentou Carlos Ocariz, gerente de campanha do candidato oposicionista e prefeito de Sucre, um município do Estado de Miranda, no litoral venezuelano.
"Precisamos diferenciar o que foi Chávez do que é Maduro, porque Maduro não é Chávez. Os filhos não são o mesmo que seus pais. Maduro não possui o carisma de Chávez", diz Ocariz, aludindo às tentativas do presidente em exercício de se fazer conhecer como "filho de Chávez". "O único trunfo de Maduro é o fato de ter permanecido por tanto tempo ao lado do ex-presidente."
FANTASIA Esse fato vem sendo favorável a Maduro, até agora: as sondagens apontam uma vantagem de dois dígitos. Mas os venezuelanos estão percorrendo uma montanha-russa emocional desde que Chávez morreu, em 5 de março, e Capriles espera atrelar a situação instável em seu favor, lembrando a seus partidários em Carora da queda rápida da ditadura de Augusto Pinochet (1974-90), no Chile, com o plebiscito adiantado realizado em 1988.
Ocariz afirma que um em cada quatro chavistas não apoia Maduro. Se a oposição conseguir a adesão desses chavistas desiludidos, afirma ele, e mantiver os 6,5 milhões de votos que conquistou em outubro passado, poderá vencer.
Para muitos, isso não passa de fantasia. "Não é impossível a oposição vencer, mas é uma batalha muito desigual", diz Oswaldo Ramírez, que presta assessoria a políticos de oposição desde que Chávez chegou ao poder, 14 anos atrás.
"Se Maduro vencer, enfrentará um problema sério de ingovernabilidade. Mas também não será fácil para Capriles se ele ganhar."
Para alguns, esta eleição não passa de uma oportunidade para a oposição manter aberto um espaço político próprio, na esperança de vencer a eleição subsequente, quando a memória de Chávez terá se enfraquecido e os problemas econômicos já serão aparentes. "É uma bênção para a oposição não poder vencer agora, porque as coisas vão ficar difíceis em dois anos", prevê David Smilde, analista em Caracas da ONG Wola (Escritório em Washington para a América Latina, na sigla em inglês).
Ele alerta para "distorções econômicas manifestas" que provavelmente vão criar problemas para o próximo governo; entre elas estão a inflação alta, as carestias persistentes, um deficit fiscal grande e a moeda sobrevalorizada, não obstante a desvalorização de 32% realizada este ano.
Enquanto isso, os dois lados apresentam a disputa em termos religiosos: endeusando o presidente morto, Maduro se descreve como "apóstolo", enquanto Capriles considera que é seu dever libertar os venezuelanos do mal feito por Hugo Chávez.
Considerando que ele luta contra a onda de simpatia por Chávez, Capriles pode estar precisando de uma mãozinha divina.
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